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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h34.
Mesmo que o petróleo continue subindo e o preço se estabilize em torno de 60 dólares por barril em 2005, a economia brasileira conseguirá avançar sem fortes solavancos. Mesmo que o insumo alcance um elevado patamar de preços, seu impacto sobre a inflação brasileira e a balança comercial serão amenizados, devido à progressiva auto-suficiência do país na produção de petróleo, conforme análise da Tendências Consultoria.
Segundo a consultoria, se o preço internacional do petróleo estacionar em 60 dólares por barril no próximo ano, contra o atual patamar de 50 dólares, o saldo comercial brasileiro cairá apenas 1,2 bilhão de dólares. Conforme o último relatório de mercado do Banco Central, os economistas projetam um superávit da balança comercial de 27 bilhões de dólares para 2005. Assim, mesmo que o cenário analisado pela Tendências se concretize, o superávit ainda ficaria acima de 25 bilhões no próximo ano.
O principal amortecedor dos impactos da crise mundial do petróleo, no Brasil, é a crescente auto-suficiência do país na produção e refino desse combustível. Nos últimos 22 anos, a participação do petróleo na pauta de importações do Brasil caiu de 55% (1982) para 8% (em 2004, na média até setembro), conforme a Tendências Consultoria.
A redução das importações de petróleo também diminui o impacto das altas de preço sobre a inflação. A consultoria estima que, se o barril se mantiver em 60 dólares no ano que vem, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referências para as metas de inflação, sofrerá um impacto de 0,6 ponto percentual. Como a Tendências estima que o IPCA de 2005 será de 5,3% (acima da meta de 5,1% do governo), esse impacto se traduziria em uma nova taxa de inflação de 5,9%.
Juros e cenário internacional
A consultoria também descarta fortes impactos indiretos na economia brasileira, como a necessidade de elevar bruscamente a taxa básica de juros (Selic). O motivo é que mesmo os Estados Unidos, país que mais importa petróleo no mundo, sofrerão pressões moderadas decorrentes das sucessivas altas de preços.
Nos anos 70, quando aconteceram dois choques nos preços do petróleo, a economia americana apresentava elevada taxa de utilização da capacidade instalada (entre 85% e 80%, conforme o setor). Atualmente, essa taxa está abaixo de 80%. Além disso, os Estados Unidos também aumentaram a produtividade nos últimos anos, o que permite absorver parte do aumento de preços.
Por último, o país também está menos dependente das importações. Segundo a Tendências, em 1975, a demanda de petróleo representava cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) americano. A participação subiu para 6% em 1981 e, desde então, vem caindo. Atualmente, ela é pouco menos de 2% do PIB.
Por isso, mesmo nos Estados Unidos, não são esperadas fortes pressões inflacionárias decorrentes de um novo patamar de preços do petróleo. Deste modo, o Federal Reserve (o banco central americano) poderá prosseguir com sua política de ajuste gradual dos juros. Para o Brasil, isso significa também maior possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) não realizar aumentos bruscos da Selic, a fim de continuar mantendo a atratividade do país diante dos investidores internacionais.