Economia

Alemanha, o país onde desemprego baixo eleva salários

País europeu desafia teoria econômica com cenário de baixo desemprego e alta remuneração


	Trabalhadora alemã da indústria de confecção de roupas: níveis de emprego quase recordes e sindicatos fortes contribuem para alta dos salários
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Trabalhadora alemã da indústria de confecção de roupas: níveis de emprego quase recordes e sindicatos fortes contribuem para alta dos salários (.)

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Da Redação

Publicado em 2 de março de 2016 às 21h37.

A ligação entre salários e desemprego parece quebrada em grande parte da economia do mundo industrial. Na Alemanha, nem tanto.

Declínios acentuados na taxa de desemprego nos EUA e no Reino Unido têm demorado muito em incentivar ganhos salariais significativos. 

Isto fez com que os economistas debatessem se a relação tradicional conforme a qual mercados de trabalho mais ajustados vêm com salários mais altos e no final das contas, inflação – a chamada Curva de Phillips, no linguajar da profissão – não funciona em uma economia globalizada.

Contudo, na Alemanha, onde a taxa de desemprego é a mais baixa em um quarto de século, a tabela mostra um padrão mais clássico. Então, o que é diferente?

A divisão

Nos EUA, os salários estão dando os primeiros sinais de aumento em se analisando a média de ganhos por hora, mas a média semanal continua apresentando uma tendência horizontal. 

A recuperação fraca intrigou muitos economistas, porque o desemprego está em níveis considerados por muitos como consistentes com uma economia saudável. Isso deveria elevar os salários, porque as empresas concorrem pelos trabalhadores.

A situação no Reino Unido é parecida: os ganhos estão dando sinais de uma alta nascente, mas que está parando, apesar de que a taxa de desemprego é a mais baixa em uma década. 

O Banco da Inglaterra disse no mês passado em seu Relatório de Inflação que a tendência “vai contra a melhoria constante em outras condições do mercado de trabalho”.

Na Alemanha, a maioria dos salários tem avançado em sentido contrário à taxa de desemprego.

A causa

Por que a Alemanha está desafiando o colapso da curva de Phillips? 

Provavelmente porque o país eliminou de verdade a inatividade no mercado de trabalho, diz Jacob Funk Kirkegaard, membro superior do Peterson Institute for International Economics.

“Pode-se dizer honestamente que a Alemanha tem pleno emprego; mas esse é um argumento difícil de sustentar no caso dos EUA”, disse Kirkegaard. 

Os níveis de emprego na Alemanha beiram um recorde, mas a proporção de americanos com emprego ou procurando emprego um caiu para o patamar mais baixo desde a década de 1970. 

Esse conjunto de mão de obra deixada de lado poderia evitar que os empregadores sintam a pressão para aumentar os salários.

Em comparação com os EUA, a Alemanha também tem sindicatos fortes que podem pressionar por aumentos salariais, disse Kirkegaard.

Outra possibilidade é que a Alemanha simplesmente esteja sendo recompensada por uma interrupção de sua relação com a Curva de Phillips ocorrida muito antes. 

Os salários na Alemanha estagnaram antes da crise financeira em meio a reformas no mercado de trabalho, portanto “pode-se argumentar que a Alemanha só foi a precursora das Curvas de Phillips mais baixas e planas”, disse David Milleker, economista-chefe da Union Investment em Frankfurt.

Também vale a pena destacar que embora a Alemanha “talvez seja um país onde a relação simplesmente se mantém melhor, é um pouco surpreendente que o crescimento dos salários não esteja aumentando mais rapidamente”, disse Frederik Ducrozet, economista do Banque Pictet Cie em Genebra. 

E apesar de que o nível de desemprego em fevereiro foi o mais baixo desde a reunificação, o terceiro pé da relação – uma recuperação da inflação – ainda não se materializou.

As implicações

Uma relação mais forte com a Curva de Phillips tem um lado positivo para a Alemanha: salários mais altos apoiam o gasto do consumidor, que pode compensar uma desaceleração nas exportações. 

Em contraste, ganhos salariais constantemente fracos nos EUA e no Reino Unido poderiam abafar o poder aquisitivo.

“Isto tem implicações sociais, mas na minha visão, também tem implicações macroeconômicas”, disse Kirkegaard. “No final das contas, restringirá o potencial dos EUA para crescer muito mais rapidamente do que têm crescido”.

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