Afinal, o Banco Central acertou em não subir o juro?
Não dá para afirmar se foi uma medida certa. Esta ainda é uma questão em aberto, diz especialista
Da Redação
Publicado em 4 de fevereiro de 2016 às 20h40.
Duas semanas após a controvertida decisão do Copom de manter a taxa Selic estável, o comportamento dos juros futuros sugere que o mercado está assimilando o fato de que o cenário externo abre espaço para uma postura mais branda do BC.
O contrato de DI para janeiro de 2017 já acumula queda de 63 pontos desde que o Copom manteve a Selic em 14,25%.
E as apostas em alta da Selic passaram de majoritárias a marginais.
“Não dá para afirmar se foi uma medida certa. Esta ainda é uma questão em aberto”, diz o economista-chefe para América Latina do ING, Gustavo Rangel, ao comentar a decisão do Copom.
Rangel reconhece, contudo, que o aumento da turbulência externa joga a favor do argumento usado pelo BC para não elevar o juro citando o aumento da incerteza global. ”A retórica do BC se torna mais crível.”
Para Rangel, o problema maior não foi o BC ter mantido o juro, mas sim ter sinalizado a decisão abruptamente, em cima da data da reunião do Copom, contrariando sua própria indicação anterior de que as taxas poderiam subir.
“Não havia consenso sobre a alta dos juros. O consenso se formou porque o BC sinalizou”, diz o economista.
Embora a curva de juros tenha se inclinado logo depois do Copom, com o mercado antecipando uma piora da inflação futura após o BC não subir os juros, este movimento refluiu.
A queda recente dos juros futuros ocorre ao mesmo tempo em que o dólar perde força. O real tem se beneficiado do enfraquecimento da moeda americana após eventos ocorridos depois do Copom reforçarem o cenário de juros baixos no mundo desenvolvido: o BC japonês adotou juros negativos, o BC europeu acenou com mais estímulos e dados abaixo do previsto nos EUA colocaram em dúvida a alta dos juros programada pelo Federal Reserve.
A assessoria de imprensa do BC disse que o banco não comenta movimentos dos mercados e nem decisões de outros bancos centrais.
“Pela conjuntura, o mercado está aceitando a decisão do BC”, diz Paulo Henrique Gouveia, operador de câmbio da Ativa Corretora. Segundo ele, investidores externos estariam entrando no Brasil para aproveitar o nível de juros, que segue elevado mesmo após o BC contrariar as apostas de alta da Selic. Este fluxo, diz o operador, ajudaria a explicar a queda do dólar, que tem sido mais acentuada contra o real do que contra outras moedas recentemente.
Normalmente, quando um BC é questionado, a moeda do país se enfraquece. O dólar, porém, subiu contra o real no dia seguinte ao Copom, mas perdeu força nas duas semanas posteriores, caindo respectivamente 2,3% e 3,5% ante a divisa brasileira. E a queda prossegue nesta semana, levando alguns analistas e operadores a questionarem se o movimento não seria excessivo diante da conjuntura ainda complicada da economia brasileira. A possibilidade de o BNDES estar zerando operações de hedge cambial, que já teria ajudado a derrubar o dólar em janeiro, volta a ser citada por operadores.
Rangel, do ING, estima IPCA de 8% este ano e 6% em 2017 - ambas as previsões acima do objetivo do BC - e PIB de -4% em 2015 e -3% este ano. Embora espere cortes da Selic apenas para o 4º trimestre, o economista avalia que as pressões por redução do juro podem aumentar a partir do 1º trimestre, quando o pico da inflação deve passar. “A partir daí, as pressões podem crescer, pois a economia tende a piorar.”
Duas semanas após a controvertida decisão do Copom de manter a taxa Selic estável, o comportamento dos juros futuros sugere que o mercado está assimilando o fato de que o cenário externo abre espaço para uma postura mais branda do BC.
O contrato de DI para janeiro de 2017 já acumula queda de 63 pontos desde que o Copom manteve a Selic em 14,25%.
E as apostas em alta da Selic passaram de majoritárias a marginais.
“Não dá para afirmar se foi uma medida certa. Esta ainda é uma questão em aberto”, diz o economista-chefe para América Latina do ING, Gustavo Rangel, ao comentar a decisão do Copom.
Rangel reconhece, contudo, que o aumento da turbulência externa joga a favor do argumento usado pelo BC para não elevar o juro citando o aumento da incerteza global. ”A retórica do BC se torna mais crível.”
Para Rangel, o problema maior não foi o BC ter mantido o juro, mas sim ter sinalizado a decisão abruptamente, em cima da data da reunião do Copom, contrariando sua própria indicação anterior de que as taxas poderiam subir.
“Não havia consenso sobre a alta dos juros. O consenso se formou porque o BC sinalizou”, diz o economista.
Embora a curva de juros tenha se inclinado logo depois do Copom, com o mercado antecipando uma piora da inflação futura após o BC não subir os juros, este movimento refluiu.
A queda recente dos juros futuros ocorre ao mesmo tempo em que o dólar perde força. O real tem se beneficiado do enfraquecimento da moeda americana após eventos ocorridos depois do Copom reforçarem o cenário de juros baixos no mundo desenvolvido: o BC japonês adotou juros negativos, o BC europeu acenou com mais estímulos e dados abaixo do previsto nos EUA colocaram em dúvida a alta dos juros programada pelo Federal Reserve.
A assessoria de imprensa do BC disse que o banco não comenta movimentos dos mercados e nem decisões de outros bancos centrais.
“Pela conjuntura, o mercado está aceitando a decisão do BC”, diz Paulo Henrique Gouveia, operador de câmbio da Ativa Corretora. Segundo ele, investidores externos estariam entrando no Brasil para aproveitar o nível de juros, que segue elevado mesmo após o BC contrariar as apostas de alta da Selic. Este fluxo, diz o operador, ajudaria a explicar a queda do dólar, que tem sido mais acentuada contra o real do que contra outras moedas recentemente.
Normalmente, quando um BC é questionado, a moeda do país se enfraquece. O dólar, porém, subiu contra o real no dia seguinte ao Copom, mas perdeu força nas duas semanas posteriores, caindo respectivamente 2,3% e 3,5% ante a divisa brasileira. E a queda prossegue nesta semana, levando alguns analistas e operadores a questionarem se o movimento não seria excessivo diante da conjuntura ainda complicada da economia brasileira. A possibilidade de o BNDES estar zerando operações de hedge cambial, que já teria ajudado a derrubar o dólar em janeiro, volta a ser citada por operadores.
Rangel, do ING, estima IPCA de 8% este ano e 6% em 2017 - ambas as previsões acima do objetivo do BC - e PIB de -4% em 2015 e -3% este ano. Embora espere cortes da Selic apenas para o 4º trimestre, o economista avalia que as pressões por redução do juro podem aumentar a partir do 1º trimestre, quando o pico da inflação deve passar. “A partir daí, as pressões podem crescer, pois a economia tende a piorar.”