Economia

A sinuca militar de George W. Bush

Se George W. Bush atacar o Iraque sem o apoio das Nações Unidas, perde credibilidade diante da opinião pública mundial e coloca os Estados Unidos em uma posição moralmente difícil de defender. Se não atacar, também perde credibilidade, pois ninguém manda mais de 200 mil soldados para o Golfo Pérsico apenas para jogar bola e […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h04.

Se George W. Bush atacar o Iraque sem o apoio das Nações Unidas, perde credibilidade diante da opinião pública mundial e coloca os Estados Unidos em uma posição moralmente difícil de defender. Se não atacar, também perde credibilidade, pois ninguém manda mais de 200 mil soldados para o Golfo Pérsico apenas para jogar bola e tomar sol. Em termos de trapalhada política, poucos líderes mundiais podem reivindicar para si tanta insensibilidade à opinião pública e aos esforços diplomáticos quanto Bush. E tudo parece começar a dar errado para ele e para seu fiel aliado e escudeiro, o premiê britânico Tony Blair.

Depois de dar um ultimato a Saddam, o governo americano piscou e disse que até aceita negociar o prazo final, antes fixado para o próximo dia 17 de março. O secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, deixou escapar que a participação do Reino Unido, que já enviou 45 mil soldados ao Golfo, não é tão essencial assim. Blair parece ter aproveitado a deixa para tentar se livrar do fardo da guerra, já que, para a Inglaterra, o aval da ONU ao ataque é muito mais importante que para os americanos. "Abandonar a guerra destruiria a carreira política [de Blair] tanto quanto ir à guerra", diz a empresa de análises estratégicas Stratfor. A opinião pública britânica, metade do próprio partido e mesmo alguns ministros do gabinete estão contra o primeiro-ministro. "Nunca imaginei que fosse ver nas ruas de Londres manifestações de apoio à França", afirmou um intelectual britanico em visita ao Brasil.

Antes visto como um mediador natural no Conselho de Segurança da ONU, Blair hoje parece tentar a todo o custo usar o prazo do ultimato a Saddam como argumento para empurrar a guerra para frente e tentar salvar sua pele como político. Dos 15 membros do Conselho, França, Rússia e China (os três com poder de veto), além da Alemanha, são contra o ultimato, porque ele poderia forçar o ataque. O Paquistão, cujo apoio é considerado fundamental pelos americanos por se tratar de um país muçulmano, declarou que vai se abster na votação (naturalmente, a opinião pública paquistanesa não teria muita simpatia por um governo que apoiasse uma guerra contra um povo muçulmano). E o Reino Unido agora aceita a proposta de México, Camarões, Guiné, Angola e Chile de oferecer um prazo mais elástico, de 45 dias. Mas os britânicos tentam incluir na resolução a ser proposta ao Conselho de Segurança passos concretos, com prazos, que Saddam deveria adotar para evitar o ataque:

  • Uma renúncia pública na televisão às armas de destruição em massa;
  • A permissão para que 30 cientistas iraquianos viajassem a Chipre com suas famílias e para ser entrevistados pelos inspetores da ONU sem a presença de membros do governo iraquiano;
  • A prova da destruição de 10 000 litros de antraz e outras armas químicas e biológicas que Saddam é suspeito de esconder;
  • Entrega e renúncia à produção de armas biológicas;
  • O compromisso de destruir mísseis proibidos;
  • Uma relação de todos os veículos aéreos não-tripulados.

    Nada disso, porém, resolve o problema. É muito provável que os Estados Unidos ataquem à revelia do que for decidido no Conselho de Segurança. Bush deve ter ficado animado com uma pesquisa de opinião que registrou descontentamento de 58% dos americanos com a forma como a ONU conduz o problema. Mas isso não significa que a situação política do americano seja confortável. A oposição ao ataque se acirrou dentro dos Estados Unidos nas últimas semanas, com editorial contrário a um ataque sem aval da ONU no New York Times. Bush, às voltas com escândalos corporativos que envolvem até o vice-presidente e com uma situação econômica nada animadora, parece usar um ataque ao Iraque como a primeira carta do jogo político das eleições de 2004.

    Finalmente, resta a questão petrolífera. É muito mais confortável para os interesses americanos ter um governo mais dócil sentado sobre a segunda maior reserva de óleo do planeta. Isso traria uma maior estabilidade ao preço do petróleo, além de propiciar oportunidades de negócios para as empresas americanas. Mas, pelo menos por enquanto, a estratégia de Bush também está dando errado nesse front. Ontem a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), fortalecida pela oposição mundial à guerra, decidiu numa reunião em Viena que não aumentará a produção em caso de ataque ao Iraque. A Opep considerou a produção do país, que hoje nem chega aos 2 milhões de barris por dia, muito pequena para sua interrupção afetar o fluxo de óleo. Os desígnios do presidente americano têm tudo para levar o povo iraquiano a um final trágico. Para Bush, porém, o início já é cômico.

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