7 grandes acordos que Brasil e China assinaram hoje
Acordos assinados hoje somam mais de US$ 50 bilhões e incluem ferrovia entre oceanos, volta da exportação de carne e recursos para infraestrutura
João Pedro Caleiro
Publicado em 19 de maio de 2015 às 18h15.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h43.
São Paulo - A presidente Dilma Rousseff e o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, assinaram nesta terça-feira em Brasília 35 acordos no valor de US$ 53 bilhões. Foram contemplados temas que vão do esporte à carne, passando por energia e infraestrutura . Grandes empresas como Petrobras , Vale e Embraer estão envolvidas diretamente. Resta ver até que ponto os investimentos vão sair do papel; o histórico nesse sentido é dúbio. A visita de Keqiang, que incluiu uma comitiva com 150 empresários, acontece quase um ano após a do presidente Xi Jinping. A China é nosso principal parceiro comercial, com troca total de US$ 77,9 bilhões em 2014. O Brasil teve superávit de US$ 3,3 bilhões, mas costuma pedir por mais diversificação e valor agregado na pauta, focada em produtos agrícolas e minério de ferro. Depois de décadas acumulando reservas, os chineses entraram em um plano de internacionalização agressivo. Pela primeira vez, o país deve ser mais fonte do que destino de investimento, além de ter se tornado um tipo de proto-FMI que socorre países em dificuldade. Do lado de dentro, o país está mudando de perfil - menos focado em investimento e mais em consumo, uma forma de rebalancear uma economia em franca desaceleração. Veja a seguir 7 dos principais acordos firmados hoje entre Brasil e China :
China e Brasil anunciaram um fundo de US$ 50 bilhões para financiamento de projetos de infraestrutura, assinado entre a Caixa Econômica Federal e o Banco Industrial e Comercial da China. É uma aposta do governo brasileiro para diversificar as fontes de recursos e estimular a atividade econômica em um contexto de piora da liquidez global e crise interna, incluindo aí os efeitos da Operação Lava Jato . A falta de financiamento é um dos gargalos que impedem a melhora da infraestrutura brasileira e o aumento da taxa de investimento, historicamente baixa na comparação com países desenvolvidos e emergentes. Em meados do ano passado, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) anunciaram um banco próprio de fomento com o mesmo objetivo e capital inicial também de US$ 50 bilhões.
O projeto mais ambicioso (e incerto) do pacote é a criação de uma ferrovia que cruze o continente, atravesse o Peru e permita um canal de escoamento das exportações brasileiras para a China pelo Oceano Pacífico. Ela começaria no Rio de Janeiro e atravessaria 6 estados, cruzando a Amazônia e a Cordilheira dos Andes; analistas estimam o custo em pelo menos US$ 10 bilhões. O programa de concessões de 2012 já incluía alguns trechos, que não foram licitados. De acordo com a Folha, as negociações estão avançadas no pedaço entre Goiás e Lucas do Rio Verde (MT), principal trajeto para a produção nacional de grãos. “É um novo caminho que se abrirá para a Ásia, reduzindo distâncias e custos", disse a presidente Dilma Rousseff. Por enquanto, o que foi assinado é um memorando de entendimento para que sejam feitos estudos de viabilidade.
Durante a visita do presidente chinês Xi Jinping em julho do ano passado, foi anunciado o fim do embargo chinês à carne brasileira, vigente desde 2012 por causa de um caso não confirmado de mal da vaca louca. Agora, foi assinado o protocolo sanitário habilitando os primeiros 8 frigoríficos brasileiros, e mais 9 já estão na lista: “É o marco jurídico necessário para a retomada da exportação de carne bovina para a China, de forma sustentável, que será implementada com a habilitação feita pela China dos primeiros oito estabelecimentos brasileiros (...) vamos liberar [os próximos] de forma bem acelerada.”, disse Dilma. O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, mas o volume fechou o primeiro trimestre de 2015 com queda de 17,6% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a ABIEC. Os frigoríficos dispararam na Bolsa com a notícia e cálculos antigos estimam que as exportações do produto podem ser 30 vezes maiores com a liberação.
Os acordos com a China também incluem US$ 7 bilhões em financiamentos para a Petrobras: US$ 5 bilhões pelo Banco de Desenvolvimento da China (CDB) e US$ 2 bilhões para financiamento de projetos com o Banco de Exportações-Importações da China (China Exim), além de um "acordo de cooperação para a criação de relacionamento de longo prazo". No começo de abril, o CDB já havia emprestado US$ 3,5 bilhões para a empresa com termos não divulgados. A China tem um histórico longo de ajuda a países e companhias em dificuldades financeiras, incluindo Argentina, Venezuela e Rússia. De acordo com a presidente Dilma, os empréstimos refletem confiança na empresa e colaboram para o fortalecimento do pré-sal. Duas empresas chinesas, a CNPC e a CNOOC, já estão ao lado da Petrobras no campo de Libra, com 10% de participação cada uma.
A China absorve metade do minério de ferro exportado pela Vale , e a meta da empresa é duplicar esse volume de vendas no período de 4 a 5 anos. É neste contexto que a empresa acaba de fechar um acordo para vender 4 navios gigantes (VLOCs), conhecidos como Valemax, para a China Merchants Energy Shipping (CMES). O entendimento começou em setembro e deve ser concluído nos próximos meses. A Vale também informou que concluiu a venda de quatro VLOCs para a China Ocean Shipping Company (Cosco), o maior armador e transportador de granéis sólidos da China, uma transação de US$ 445 milhões. No início do ano, os navios Valemax passaram a ser autorizados a se atracar na China após um período de resistência das duas companhias chinesas.
Um dos acordos assinados hoje é para que a Embraer exporte 40 aviões E-195 para a Hainan Airlines, maior companhia privada aérea chinesa. O valor do négocio é de até US$ 1,3 bilhão e será financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( BNDES ) e pelo Banco de Exportações-Importações da China (China Exim). A primeira etapa, com venda de 22 aviões, já estava prevista em uma lista firmado em julho do ano passado entre os dois bancos durante a visita do presidente Xi Jinping. "Trata-se do primeiro acordo de financiamento do BNDES para exportações de aeronaves brasileiras com a China e envolverá, na etapa inicial, até dez aeronaves entre 2016 e 2017", disse o banco brasileiro em nota.
O Banco de Comunicações da China (BoCom), estatal e o 5º maior do país, escolheu o Brasil para fazer sua primeira aquisição no exterior. O BoCom comprou o controle de 80% do capital do banco brasileiro BBM, que tem sede no Rio de Janeiro e foco em crédito e finanças privadas. Seus ativos são de R$ 3 bilhões, mas o valor da transação não foi revelado e é estimado em R$ 525 milhões. A compra ainda precisa passar pelo crivo das instituições regulatórias de ambos os países. "As crescentes e sólidas relações econômicas entre Brasil e China seguirão gerando oportunidades para a construção de instituições financeiras cada vez mais fortes e dinâmicas, capazes de oferecer crédito e serviços a clientes brasileiros e estrangeiros em todo o país", afirmaram as instituições em comunicado conjunto.