6 países (Brasil incluso) que tiveram um 2015 para esquecer
Por razões externas e principalmente internas, estas são algumas das economias que vão terminar o ano em situação pior do que começaram
João Pedro Caleiro
Publicado em 11 de dezembro de 2015 às 06h00.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h24.
São Paulo - O Brasil virou "um filme de terror sem fim", dizia o Financial Times já em julho. Desde então, as coisas só pioraram. Se antes a crise política e econômica se retroalimentavam, agora governo e oposição simplesmente abandonam a luta pela estabilização para focar na briga pelo poder. Enquanto isso, a confiança afunda, o desemprego dispara e as metas fiscais vão para o brejo enquanto outros países trilham caminhos bem mais otimistas. A China passou por momentos de aperto, com a queda do seu mercado de ações e as dores de rebalancear seu perfil econômico, mas o crescimento ainda resiste em patamares altos por qualquer critério. O Japão , que vinha de uma maré fraca, viu a queda do seu PIB no terceiro trimestre ser revisada para um surpreendente crescimento. A Rússia também teve um ano péssimo, mas parece ter finalmente se estabilizado. Enquanto isso, outros países devem terminar o ano pior do que começaram. Veja 6 deles:
Todo mundo sabia que 2015 seria duro para o Brasil, com a necessidade de lamber as feridas do período eleitoral, aprovar medidas fiscais e reajustar desequilíbrios de preços e câmbios acumulados em anos anteriores. Mas poucos previam uma deterioração tão forte do cenário. A presidente Dilma Rousseff nunca deixou claro quem mandava, afinal: o desenvolvimentista Nelson Barbosa, no Planejamento, ou o ministro da Fazenda Joaquim Levy, fiador do governo junto ao mercado? Enquanto isso, a Operação Lava Jato afetava a maior empresa do país e bagunçava um xadrez político que já vinha de alianças esgarçadas. O resultado: um Congresso alternando turnos de paralisia e irresponsabilidade. A confiança desabou e com ela foram os dados econômicos e o nosso grau de investimento pela Standard & Poor's. Em janeiro, o Boletim Focus projetava um ano com crescimento de 0,5%, inflação a 6,5% e dólar a R$ 2,80. Os mesmos economistas agora projetam recessão de 3,5%, inflação de dois dígitos e dólar a R$ 3,95.
Acha que a situação do Brasil está ruim? Não precisa ir muito longe para achar uma pior. Nossa vizinha Venezuela continuou em 2015 sua trajetória em direção ao mais completo caos econômico. O país já vinha de anos de gastos descontrolados quando teve que lidar com a queda do preço do petróleo, principal produto de exportação e fonte de receita para o governo - que só sabe responder aumentando o controle do setor privado. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, a Venezuela já tem a maior inflação do mundo (160%) e deve concluir este ano com uma recessão da ordem de 10%. A oposição conseguiu canalizar a frustração e obteve no último domingo mais de dois terços do Parlamento, interrompendo 16 anos de domínio chavista. Mas o presidente Nicolas Maduro fica até 2019 e não deu sinais de recuo.
Após anos de depressão econômica que comeram um terço do seu PIB e transportaram sua renda de volta para os anos 80, a Grécia começou 2015 com um resquício de esperança. O primeiro-ministro Alexis Tsipras assumiu o poder no final de janeiro prometendo reverter a política de austeridade e mudar os duros termos do resgate do país combinado com a troica (FMI, Comissão Europeia Banco Central Europeu). Só que eles não deram respiro, mesmo depois da população grega votar pela rejeição de um novo pacote. Tsipras cedeu e continua primeiro-ministro, mas vai entregar um 2015 de mais contração econômica: 2,3%, segundo o FMI. Enquanto isso, a relação dívida/PIB, causa e consequência de todo esse imbróglio, continua subindo sem parar. Alguma perspectiva de recuperação é esperada só para 2017.
Nesta quarta-feira, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, anunciou a demissão do seu ministro de Finanças, Nhlanhla Nene, empossado há um ano e meio. No seu lugar entra o pouco conhecido David van Rooyen. Nene era conhecido por ter mão firme no controle dos gastos públicos e o mercado reagiu mal à sua saída, derrubando o rand sul-africano para seu pior nível da história. E está é só a última notícia preocupante a vir do país, que teve sua nota de crédito cortada na semana passada pela Fitch de BBB para BBB-, nível mais baixo do grau de investimento. Assim como o Brasil, a África do Sul está sofrendo com a desaceleração chinesa e com a queda do preço das commodities. O país deve crescer apenas 1,4% este ano (pior nível desde 2009) e o desemprego passa de 25%.
Em setembro, o ministro das Finanças da Finlândia, Alexander Stubb, admitiu publicamente: "nós somos o homem doente da Europa", ecoando uma expressão criada no século XIX e usada desde então para classificar países problemáticos do continente. A Finlândia está sofrendo com uma avalanche de dificuldades: queda das commodities, uma população que envelhece rapidamente, recessão na Rússia, um de seus principais parceiros, e o o declínio da Nokia, sua empresa-modelo. No terceiro trimestre, o PIB caiu 0,8% em relação ao mesmo período do ano passado, coroando uma recessão de 3 anos - a mais longa no país desde a Segunda Guerra Mundial.
A Arábia Saudita é a maior economia do Oriente Médio e por muito tempo pôde contar com o dinheiro fácil do petróleo, responsável por 80% de suas receitas. Não mais. Com a queda do preço internacional do produto, o país deve ter déficit de 21,6% em 2015 e 19,4% em 2016, pior resultado da região, com exceção de países em situação calamitosa como Líbia e Iraque, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O crescimento ainda resiste, mas em patamares bem menores do que no passado recente (3,4% em 2015 contra média anual de 5,5% entre 2000 e 2012). E com a deterioração rápida das contas, não se sabe até quando a situação será sustentável.
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