3 desafios para levar o agronegócio brasileiro ao futuro
Campo segue pujante no Brasil mas precisa resolver seus gargalos, dizem debatedores no I Fórum do Agronegócio, Infraestrutura, Integração e Mercado de Capitais
João Pedro Caleiro
Publicado em 1 de setembro de 2016 às 14h47.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h09.
São Paulo - Em 2015, o PIB da indústria caiu 6,2% e o dos serviços caiu 2,7%, mas o agronegócio continuou brilhando. A alta foi de 1,8%, abaixo da média de 3,9% dos últimos 19 anos mas suficiente para provar a resiliência do setor diante da crise na economia brasileira . Os desafios para manter e ampliar essa performance estão sendo discutidos hoje no I Fórum do Agronegócio, Infraestrutura, Integração e Mercado de Capitais realizado em São Paulo pelo Instituto IBMEC com apoio da Demarest, KMPG e EXAME. Mesmo diante da alta recente na inflação, foram 30 anos consecutivos de queda real dos preços por aqui e hoje o brasileiro gasta hoje uma parcela muito menor da sua renda em alimentos do que no passado. E isso não é algo do passado ou de país atrasado. Renato Buranello, sócio da Demarest Advogados, notou que 65% do PIB agroindustrial aparece já do lado de fora da fazenda. Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, destacou o interesse da nova geração pelo negócio: a idade média do nosso agricultor é de 40 a 42 anos enquanto nos nossos concorrentes é de 60 anos. Mas há muito o que melhorar. Veja a seguir 3 nós que precisam ser desatados para colocar o agronegócio brasileiro de vez no século XXI:
Desde sua fundação nos anos 70, a Embrapa se tornou um caso raro de órgão público de pesquisa que acumula sucessos na parceria com o setor privado. Entre seus trunfos está o desenvolvimento de técnicas e sementes que permitiram a "tropicalização da soja", mais acostumada com outros climas. A inovação agora segue em novas direções, como sensores inteligentes que sabem quando fazer a irrigação, drones para monitoramento de grandes áreas e equipamentos desenvolvidos especificamente para acompanhar a condição de bovinos. O órgão tem hoje 1.700 processos de patentes abertas e elas são cada vez mais em parceria com o setor privado. É algo que Vitor Hugo Oliveira, chefe da Secretaria de Negócios do órgão, chama de "inovação aberta" e que gostaria de poder fazer ainda mais. "A Emprapa hoje se ressente de um braço operacional que a ligue ao setor de inovação. Temos vários amarras que nos impedem de agir como gostaríamos", disse no evento.
"Eu não vou só dar má notícia para vocês não, eu vou implantar o pânico", brincou Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB). O investimento em infraestrutura no Brasil caiu dos 5,4% do PIB nos anos 70 para taxas próximas de 2,3% desde os anos 90. E não é porque o básico já foi feito: a estimativa é que seriam necessários 3% só para conter a depreciação. O Brasil precisa investir R$ 1 trilhão em infraestrutura de transportes até 2030 para se equiparar ao padrão de países como Rússia e Austrália, de acordo com estudo do núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da USP. Venilton diz que como não há dinheiro para tudo, a estratégia deve ser priorizar projetos coerentes com um planejamento de inserção geopolítica no longo prazo. "A gente tem uma mania de separar as coisas ou de começar a casa pelo telhado", completou.
Passado o diagnóstico, resta a questão do financiamento da produção e da logística, assim como os papeis do setor público e privado. Renato Buranello, sócio da Demarest Advogados, nota que o sistema de crédito público para agricultura vem dos anos 60 e que os ciclos costumam ser anuais, o que é um contrassenso "já que tem safra todo ano". No caso do governo, ficou claro o fracasso de um modelo que não deu resultados nem segurança jurídica. Além disso, não dá para esperar que o estado tenha um papel tão grande nesse momento de crise fiscal. “Acabou o modelo anterior e é muito difícil saber qual vai ser o modelo novo”, diz Andre Clark Juliano, diretor da Acciona Infraestructuras. Falou-se muito em trazer o investidor privado, aumentar concorrência e melhorar o desenho institucional. O problema é que as próprias condições macroeconômicas bloqueiam esse desevolvimento diante do retorno dos títulos públicos: "Todo mundo quer o papel, mas não tem projeto que vá dar retorno com juros a 14,25%. Não há investimento possível com a volatilidade cambial que temos e enquanto não baixar a taxa básica não vamos a lugar nenhum", diz Venilton.