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Quase um século de “compre agora, pague depois”

O Brasil está irreconhecível. Há não mais que poucas décadas (um piscar de olhos, economicamente falando…), cartões de crédito eram uma coisa tão extravagante que, mesmo nos estabelecimentos onde era possível utilizá-los, poucos funcionários sabiam o que fazer com aquela “coisa”. Pouco tempo depois, as pessoas já estavam recebendo cartões de crédito em casa sem sequer solicitá-los. O crédito ao consumidor vem crescendo de uma forma espantosa no Brasil. Recentemente, […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 27 de agosto de 2012 às 10h36.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 09h19.

O Brasil está irreconhecível. Há não mais que poucas décadas (um piscar de olhos, economicamente falando…), cartões de crédito eram uma coisa tão extravagante que, mesmo nos estabelecimentos onde era possível utilizá-los, poucos funcionários sabiam o que fazer com aquela “coisa”. Pouco tempo depois, as pessoas já estavam recebendo cartões de crédito em casa sem sequer solicitá-los.

O crédito ao consumidor vem crescendo de uma forma espantosa no Brasil. Recentemente, em vários artigos na mídia, o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas Daniel Plá estimou que o endividamento do brasileiro vem crescendo a uma taxa de 20% ao ano nos últimos cinco anos.  É um crescimento “de respeito”.

Tudo isso parece muito novo para nós. Estamos ainda aprendendo (bem… pelo menos eu quero acreditar que estamos aprendendo…) a lidar com essa fartura de crédito que é sem precedentes no Brasil. Parece que estamos presenciando um fenômeno econômico inédito, mas se olharmos um pouco para fora do país, veremos que estamos apenas replicando, com muitas décadas de atraso, aquilo que já ocorreu em outros lugares.

A fartura de crédito ao consumidor é um fenômeno que se tornou evidente nos Estados Unidos nos anos 20 do século passado. Foi uma consequência do período de grande prosperidade vivido após a Primeira Guerra Mundial. Foi nessa época que a “sociedade de consumo”, tal qual a conhecemos, começou a florescer, e o crédito ao consumidor foi o combustível desse crescimento.

Frases como “desfrute agora e pague depois” e conceitos como “você merece ser feliz” e “viva como os ricos vivem” ganharam força naquela época. Uma série de itens de consumo, modismos diversos e produtos cuja única finalidade era comunicar um “estilo de vida” foram desenvolvidos. Uma ironia suprema (para nós brasileiros em especial): adivinhe qual era o produto, naquela época, responsável pela maioria do crédito concedido ao consumidor americano? Se pensou “automóvel”, você acertou…

O frenesi de crédito logo levou as pessoas a terem outras ideias. Uma delas foi a de tentar inserir práticas de finanças corporativas nas finanças pessoais, como a alavancagem financeira (ou, em linguagem para leigos, “ganhar com o dinheiro dos outros”). No clima de euforia reinante, as pessoas corriam para a bolsa de valores e as “contas margens” (uma espécie de “cheque especial” dado pelas corretoras de valores) eram a regra. Estima-se que, no auge da euforia, um pouco antes do crash de 1929, 90% das ações negociadas na bolsa haviam sido compradas a crédito.

As causas da quebra da bolsa em 1929 são um dos assuntos mais discutidos em finanças e economia. Não há um consenso e não há uma causa única, mas a alavancagem dos investidores certamente foi um fator relevante nisso tudo. O resultado dessa história a gente já conhece. Desemprego, depressão (nos sentidos econômico e pessoal…) e, para fechar com chave de ouro, a Segunda Guerra Mundial.

Não estou sugerindo que o desfecho da atual “farra do crédito” brasileira será algo tão dramático. Até mesmo porque nossa economia sequer tem tanta relevância para causar um rebuliço global dessas proporções, mas é sempre bom ficarmos atentos. Dos anos 20 do século XX para cá, tivemos expansões agressivas do crédito ao consumidor em vários lugares do mundo, e a história mostra que esse é o tipo de coisa que não costuma ter um final muito feliz.

O Brasil está irreconhecível. Há não mais que poucas décadas (um piscar de olhos, economicamente falando…), cartões de crédito eram uma coisa tão extravagante que, mesmo nos estabelecimentos onde era possível utilizá-los, poucos funcionários sabiam o que fazer com aquela “coisa”. Pouco tempo depois, as pessoas já estavam recebendo cartões de crédito em casa sem sequer solicitá-los.

O crédito ao consumidor vem crescendo de uma forma espantosa no Brasil. Recentemente, em vários artigos na mídia, o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas Daniel Plá estimou que o endividamento do brasileiro vem crescendo a uma taxa de 20% ao ano nos últimos cinco anos.  É um crescimento “de respeito”.

Tudo isso parece muito novo para nós. Estamos ainda aprendendo (bem… pelo menos eu quero acreditar que estamos aprendendo…) a lidar com essa fartura de crédito que é sem precedentes no Brasil. Parece que estamos presenciando um fenômeno econômico inédito, mas se olharmos um pouco para fora do país, veremos que estamos apenas replicando, com muitas décadas de atraso, aquilo que já ocorreu em outros lugares.

A fartura de crédito ao consumidor é um fenômeno que se tornou evidente nos Estados Unidos nos anos 20 do século passado. Foi uma consequência do período de grande prosperidade vivido após a Primeira Guerra Mundial. Foi nessa época que a “sociedade de consumo”, tal qual a conhecemos, começou a florescer, e o crédito ao consumidor foi o combustível desse crescimento.

Frases como “desfrute agora e pague depois” e conceitos como “você merece ser feliz” e “viva como os ricos vivem” ganharam força naquela época. Uma série de itens de consumo, modismos diversos e produtos cuja única finalidade era comunicar um “estilo de vida” foram desenvolvidos. Uma ironia suprema (para nós brasileiros em especial): adivinhe qual era o produto, naquela época, responsável pela maioria do crédito concedido ao consumidor americano? Se pensou “automóvel”, você acertou…

O frenesi de crédito logo levou as pessoas a terem outras ideias. Uma delas foi a de tentar inserir práticas de finanças corporativas nas finanças pessoais, como a alavancagem financeira (ou, em linguagem para leigos, “ganhar com o dinheiro dos outros”). No clima de euforia reinante, as pessoas corriam para a bolsa de valores e as “contas margens” (uma espécie de “cheque especial” dado pelas corretoras de valores) eram a regra. Estima-se que, no auge da euforia, um pouco antes do crash de 1929, 90% das ações negociadas na bolsa haviam sido compradas a crédito.

As causas da quebra da bolsa em 1929 são um dos assuntos mais discutidos em finanças e economia. Não há um consenso e não há uma causa única, mas a alavancagem dos investidores certamente foi um fator relevante nisso tudo. O resultado dessa história a gente já conhece. Desemprego, depressão (nos sentidos econômico e pessoal…) e, para fechar com chave de ouro, a Segunda Guerra Mundial.

Não estou sugerindo que o desfecho da atual “farra do crédito” brasileira será algo tão dramático. Até mesmo porque nossa economia sequer tem tanta relevância para causar um rebuliço global dessas proporções, mas é sempre bom ficarmos atentos. Dos anos 20 do século XX para cá, tivemos expansões agressivas do crédito ao consumidor em vários lugares do mundo, e a história mostra que esse é o tipo de coisa que não costuma ter um final muito feliz.

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