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Um ombro amigo para quem está passando pela primeira crise

Sofia Esteves compartilha os conselhos que recebeu ao enfrentar sua primeira crise

Empatia; apoio; amizade (Cecilie_Arcurs/Getty Images)
LG

Luísa Granato

Publicado em 15 de fevereiro de 2021 às 12h00.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2021 às 09h59.

Em 1990, enfrentei minha primeira grande crise econômica. A Cia de Talentos tinha apenas dois anos de existência e eu só 26 quando foi anunciado o Plano Collor e, com ele, uma série de medidas relativas à reforma econômica — só a memória do “confisco da poupança” ainda deixa muita gente arrepiada. Eu era uma jovem executiva a frente de uma nova empresa em meio a uma nova crise no país. O que aconteceu? Uma ligação providencial!

Lembro muito bem quando o telefone tocou e, do outro lado da linha, escutei a voz daquele que viria a ser meu primeiro mentor: José Augusto Minarelli. Na época, ele já era uma grande referência no mundo de Recursos Humanos e eu o admirava muito. Tanto que, quando soube de uma palestra que ele daria em São Paulo, corri para assistir e, ao final, puxei uma conversa — vamos falar sobre a importância do Networking em artigos futuros, fique de olho. Assim, começamos essa relação de mentoria.

A vida está mais complexa, a rotina mais intensa, mas a EXAME Academy pode ajudar a manter a mente em foco

Isso foi em 1989. Pouco depois, em janeiro de 1990, meu telefone tocou. Atendi e escutei do outro lado: "olha, imagino que você deva estar desesperada com todos esses acontecimentos, então vou dar algumas orientações".

Agarrei o primeiro pedaço de papel que encontrei, peguei uma caneta e fui anotando tudo. Já não tenho esse registro, mas a mensagem continua aqui, fresca na memória. O primeiro conselho foi que não era hora de chorar e, sim, de oferecer o ombro para os meus clientes chorarem — eles deveriam estar ainda mais desesperados do que eu.

Em segundo lugar, ele me aconselhou a, caso fosse possível, não cobrar por alguns trabalhos. "Faça de graça porque vão lembrar de você", ele disse. O terceiro foi bem específico e prático. Minarelli me explicou que provavelmente eu teria que pagar minhas dívidas em cartório e que tudo bem. Todo mundo ia passar pela mesma coisa e isso não era motivo algum de vergonha.

Por último, ele falou que tudo passa e que aquilo também, um dia, iria passar. E passou. As crises, de fato, passam; as dores, aos poucos, são curadas, mas sabe o que fica? As pessoas. Pessoas que genuinamente se preocupam com o outro, que estendem a mão, que se lembram de nós não apenas no momento de festa, mas no do desespero. Um verdadeiro mentor é essa pessoa que fica e, ao mesmo tempo, passa com você pela turbulência.

Se você, como eu, já vivenciou outras crises, talvez seja a hora de fazer pelos jovens à sua volta o que um dia o Minarelli e tantos outros mentores que me acompanharam — e ainda acompanham — na minha jornada um dia fizeram por mim. Especialistas já alertam para o perigo dos mais novos virem a se tornar a “geração perdida”. Uma geração que, além de encarar a sua primeira crise, o faz praticamente sozinha, em meio a um contexto de isolamento social.

Uma geração que enfrenta a realidade em que mais de 1 a cada 6 jovens do mundo parou de trabalhar por culpa da pandemia, em que 83% dos estudantes mais novos se sentem pressionados em relação ao futuro acadêmico, em que 70% das pessoas entre 18 e 29 anos sofrem de ansiedade frequentemente e 54% dão sinais de depressão.

Os dados chocantes são respectivamente da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da pesquisa do Instituto Toluna intitulada "A nova realidade da educação", e de um estudo feito em parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais, a Fiocruz e a Unicamp. São dados que não apenas nos convidam a uma reflexão, mas nos convocam para tomar uma atitude.

Naquele dia de janeiro de 1990, José Augusto Minarelli lembrou da minha pequena empresa que ainda dava seus primeiros passos. Ele poderia ter parado por aí e, no máximo, ter torcido pelo meu sucesso. Na verdade, ele torceu, mas não ficou só no pensamento; ele pegou o telefone e foi para a prática. Para quem você pode ligar hoje? Ou, numa versão atualizada de 2021, mandar um whats?

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Lembro muito bem quando o telefone tocou e, do outro lado da linha, escutei a voz daquele que viria a ser meu primeiro mentor: José Augusto Minarelli. Na época, ele já era uma grande referência no mundo de Recursos Humanos e eu o admirava muito. Tanto que, quando soube de uma palestra que ele daria em São Paulo, corri para assistir e, ao final, puxei uma conversa — vamos falar sobre a importância do Networking em artigos futuros, fique de olho. Assim, começamos essa relação de mentoria.

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Isso foi em 1989. Pouco depois, em janeiro de 1990, meu telefone tocou. Atendi e escutei do outro lado: "olha, imagino que você deva estar desesperada com todos esses acontecimentos, então vou dar algumas orientações".

Agarrei o primeiro pedaço de papel que encontrei, peguei uma caneta e fui anotando tudo. Já não tenho esse registro, mas a mensagem continua aqui, fresca na memória. O primeiro conselho foi que não era hora de chorar e, sim, de oferecer o ombro para os meus clientes chorarem — eles deveriam estar ainda mais desesperados do que eu.

Em segundo lugar, ele me aconselhou a, caso fosse possível, não cobrar por alguns trabalhos. "Faça de graça porque vão lembrar de você", ele disse. O terceiro foi bem específico e prático. Minarelli me explicou que provavelmente eu teria que pagar minhas dívidas em cartório e que tudo bem. Todo mundo ia passar pela mesma coisa e isso não era motivo algum de vergonha.

Por último, ele falou que tudo passa e que aquilo também, um dia, iria passar. E passou. As crises, de fato, passam; as dores, aos poucos, são curadas, mas sabe o que fica? As pessoas. Pessoas que genuinamente se preocupam com o outro, que estendem a mão, que se lembram de nós não apenas no momento de festa, mas no do desespero. Um verdadeiro mentor é essa pessoa que fica e, ao mesmo tempo, passa com você pela turbulência.

Se você, como eu, já vivenciou outras crises, talvez seja a hora de fazer pelos jovens à sua volta o que um dia o Minarelli e tantos outros mentores que me acompanharam — e ainda acompanham — na minha jornada um dia fizeram por mim. Especialistas já alertam para o perigo dos mais novos virem a se tornar a “geração perdida”. Uma geração que, além de encarar a sua primeira crise, o faz praticamente sozinha, em meio a um contexto de isolamento social.

Uma geração que enfrenta a realidade em que mais de 1 a cada 6 jovens do mundo parou de trabalhar por culpa da pandemia, em que 83% dos estudantes mais novos se sentem pressionados em relação ao futuro acadêmico, em que 70% das pessoas entre 18 e 29 anos sofrem de ansiedade frequentemente e 54% dão sinais de depressão.

Os dados chocantes são respectivamente da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da pesquisa do Instituto Toluna intitulada "A nova realidade da educação", e de um estudo feito em parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais, a Fiocruz e a Unicamp. São dados que não apenas nos convidam a uma reflexão, mas nos convocam para tomar uma atitude.

Naquele dia de janeiro de 1990, José Augusto Minarelli lembrou da minha pequena empresa que ainda dava seus primeiros passos. Ele poderia ter parado por aí e, no máximo, ter torcido pelo meu sucesso. Na verdade, ele torceu, mas não ficou só no pensamento; ele pegou o telefone e foi para a prática. Para quem você pode ligar hoje? Ou, numa versão atualizada de 2021, mandar um whats?

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