Emprego com recuperação mais forte
Experiência brasileira de retomada dos empregos tem sido diferente e melhor do que a americana após a crise de 2008
Da Redação
Publicado em 25 de janeiro de 2018 às 12h45.
Saídas de recessões profundas como a que tivemos em geral levam à demora no aumento do emprego. As taxas de desemprego costumam ficar elevadas durante muito tempo, quando não entram em um ciclo mais complicado que chamamos de histerese. Isso acontece quando o mercado de trabalho não consegue melhorar mesmo com o crescimento da economia. Muitas vezes isso se dá pelo engessamento das regras trabalhistas, mudanças tecnológicas ou falência mais extensa de empresas.
A Europa na década de 80 passou por tal situação, começando a melhorar apenas com reformas que foram implementadas nas décadas de 90 e 2000, especialmente o próprio lançamento do Euro. A nova moeda ampliou as oportunidades de emprego nos países mais pobres ao diminuir rapidamente as taxas de juros cobradas nesses países.
Os Estados Unidos, na crise de 2008, não tiveram histerese, mas um processo lento de saída de uma das piores recessões de sua história. A taxa de desemprego lá chegou a 10% em outubro de 2009 e levou quase três anos para cair 2 pontos percentuais, para 8%.
Assim, crises recessivas longas levam a uma melhora muito lenta do mercado de trabalho, quando não a períodos demorados de taxa de desemprego muito elevadas. Nesse sentido, como se compara o Brasil com essas experiências? Afinal, também passamos por crise significativa, a pior recessão de nossa história, e também sofremos de forte engessamento da legislação trabalhista em um momento de mudanças tecnológicas muito mais intensas do que a Europa passava nos anos 80. Por incrível que pareça, nossa experiência tem sido diferente e melhor.
Do pico de 13,7% atingidos em março de 2017 já devemos chegar a 11,8% no final de dezembro. Ou seja, em 9 meses a taxa de desemprego caiu 2 pontos percentuais, cerca de 3 vezes mais rápido do que ocorreu na economia americana.
Há também que se contar o efeito das pessoas que estavam fora do mercado do trabalho, pois haviam desistido de procurar emprego, e que voltaram a buscar emprego. Isso acaba aumentando a base da taxa de desemprego, aumentando o número de pessoas na força de trabalho. Não fosse isso, a taxa teria caído bem mais.
Um jeito melhor de ver como está a evolução do mercado de trabalho é pelo aumento da ocupação e da massa de renda. Nesses casos, a evolução tem sido positiva. A ocupação aumentou em 1,7 milhão de pessoas em um ano e a massa real de renda subiu pouco mais de R$ 100 bilhões no mesmo período. Esse aumento de renda se junta ao aumento do consumo por parte das pessoas que estavam receosas a consumir durante a crise.
Obviamente, boa parte da recuperação do emprego ainda se dá na informalidade, o que é normal em saídas de crise. Houve queda de quase 900 mil empregos formais em um ano até novembro e alta de quase 800 mil sem carteira assinada e 1,1 milhão de conta própria. Ao longo de 2018 a tendência é de início dessa reversão, com aumento do emprego formal em detrimento do informal.
Dentro da normalização do mercado de trabalho, desafio maior será enfrentar a mudança tecnológica. Não compartilho totalmente com os fatalistas a impressão de que empregos serão destruídos e não recuperados. Parte disso é verdade, pois a mudança dessa vez é muito mais rápida. Algo que se via em gerações agora veremos acontecer em uma mesma geração com a inteligência artificial acabando com vários tipos de emprego. No fim, tudo que for emprego com alto conteúdo repetitivo será facilmente substituído pela tecnologia.
O caso brasileiro é mais grave porque optamos por ficar fora das grandes cadeias de valor. Perdemos muito em competitividade por conta disso sem muita chance de avançar nos próximos anos. Com a crônica baixa qualidade da educação no Brasil corremos o risco de acelerar esse processo de perda de empregos na próxima década.
Estamos recuperando emprego cíclico agora, mas há um emprego estrutural para o qual os desafios estão apenas começando.
Gráfico – Variação do emprego e da massa real de renda – mês contra mês do ano anterior
Saídas de recessões profundas como a que tivemos em geral levam à demora no aumento do emprego. As taxas de desemprego costumam ficar elevadas durante muito tempo, quando não entram em um ciclo mais complicado que chamamos de histerese. Isso acontece quando o mercado de trabalho não consegue melhorar mesmo com o crescimento da economia. Muitas vezes isso se dá pelo engessamento das regras trabalhistas, mudanças tecnológicas ou falência mais extensa de empresas.
A Europa na década de 80 passou por tal situação, começando a melhorar apenas com reformas que foram implementadas nas décadas de 90 e 2000, especialmente o próprio lançamento do Euro. A nova moeda ampliou as oportunidades de emprego nos países mais pobres ao diminuir rapidamente as taxas de juros cobradas nesses países.
Os Estados Unidos, na crise de 2008, não tiveram histerese, mas um processo lento de saída de uma das piores recessões de sua história. A taxa de desemprego lá chegou a 10% em outubro de 2009 e levou quase três anos para cair 2 pontos percentuais, para 8%.
Assim, crises recessivas longas levam a uma melhora muito lenta do mercado de trabalho, quando não a períodos demorados de taxa de desemprego muito elevadas. Nesse sentido, como se compara o Brasil com essas experiências? Afinal, também passamos por crise significativa, a pior recessão de nossa história, e também sofremos de forte engessamento da legislação trabalhista em um momento de mudanças tecnológicas muito mais intensas do que a Europa passava nos anos 80. Por incrível que pareça, nossa experiência tem sido diferente e melhor.
Do pico de 13,7% atingidos em março de 2017 já devemos chegar a 11,8% no final de dezembro. Ou seja, em 9 meses a taxa de desemprego caiu 2 pontos percentuais, cerca de 3 vezes mais rápido do que ocorreu na economia americana.
Há também que se contar o efeito das pessoas que estavam fora do mercado do trabalho, pois haviam desistido de procurar emprego, e que voltaram a buscar emprego. Isso acaba aumentando a base da taxa de desemprego, aumentando o número de pessoas na força de trabalho. Não fosse isso, a taxa teria caído bem mais.
Um jeito melhor de ver como está a evolução do mercado de trabalho é pelo aumento da ocupação e da massa de renda. Nesses casos, a evolução tem sido positiva. A ocupação aumentou em 1,7 milhão de pessoas em um ano e a massa real de renda subiu pouco mais de R$ 100 bilhões no mesmo período. Esse aumento de renda se junta ao aumento do consumo por parte das pessoas que estavam receosas a consumir durante a crise.
Obviamente, boa parte da recuperação do emprego ainda se dá na informalidade, o que é normal em saídas de crise. Houve queda de quase 900 mil empregos formais em um ano até novembro e alta de quase 800 mil sem carteira assinada e 1,1 milhão de conta própria. Ao longo de 2018 a tendência é de início dessa reversão, com aumento do emprego formal em detrimento do informal.
Dentro da normalização do mercado de trabalho, desafio maior será enfrentar a mudança tecnológica. Não compartilho totalmente com os fatalistas a impressão de que empregos serão destruídos e não recuperados. Parte disso é verdade, pois a mudança dessa vez é muito mais rápida. Algo que se via em gerações agora veremos acontecer em uma mesma geração com a inteligência artificial acabando com vários tipos de emprego. No fim, tudo que for emprego com alto conteúdo repetitivo será facilmente substituído pela tecnologia.
O caso brasileiro é mais grave porque optamos por ficar fora das grandes cadeias de valor. Perdemos muito em competitividade por conta disso sem muita chance de avançar nos próximos anos. Com a crônica baixa qualidade da educação no Brasil corremos o risco de acelerar esse processo de perda de empregos na próxima década.
Estamos recuperando emprego cíclico agora, mas há um emprego estrutural para o qual os desafios estão apenas começando.
Gráfico – Variação do emprego e da massa real de renda – mês contra mês do ano anterior