Corrupção importa pouco nessas eleições
Pesquisas argumentam que sistemas políticos assolados por corrupção não necessariamente resultam na mobilização de eleitores para tirar os pilantras do poder
Da Redação
Publicado em 17 de agosto de 2018 às 15h16.
“Quem aqui acha que a Lava Jato vai mudar o Brasil?”, perguntou o procurador Deltan Dallagnol à plateia do programa de Jô Soares em 2015. Algumas mãos se levantaram. O orgulho de Dallagnol era evidente. Principal articulador das dez medidas contra a corrupção apresentadas pelo Ministério Público Federal ao Congresso Nacional naquele ano, o procurador passou a ser visto como porta-voz do sistema de combate à corrupção no país. Sua contribuição para a punição de corruptos e para o debate público sobre o tema é valiosa. Mas talvez ele se frustre, junto com seus colegas, com uma coisa: a corrupção não importa na campanha presidencial deste ano.
Dois artigos científicos publicados recentemente ajudam a explicar esse argumento. Miguel Carreras e Sofia Vera argumentam que sistemas políticos assolados por corrupção não necessariamente resultam na mobilização de eleitores para tirar os pilantras do poder. Em vez de a indignação com os atos corruptos servir para que pessoas se informem e votem em candidatos que serão honestos, elas deixam de se importar. Votam nulo ou não comparecem. No Brasil o custo de não ir votar é irrisório, mesmo sendo o voto obrigatório. Conforme o experimento realizado por Carreras e Vera na Colômbia, nem mesmo “roubar-mas-fazer” salva os eleitores da apatia. É mais uma evidência científica de que a lógica adhemarista, malufista, lulista não tem tanta força quanto se imaginava. (O texto “Do corrupt politicians mobilize or demobilize voters? A vignette experiment in Colombia” foi publicado na revista Latin American Politics and Society em 2018.)
Nara Pavão usa um raciocínio mais original para argumentar que corrupção importa menos do que se imagina para definir a decisão do voto. Ela afirma que eleitores não esperam que políticos implementem boas medidas contra a corrupção, portanto não levam isso em conta na hora de votar – especialmente se acreditam que todos os políticos são corruptos. (O artigo “Corruption as the only option: the limits to electoral accountability” foi publicado pelo Journal of Politics em 2018.)
Acertam, portanto, os candidatos que ignoram o assunto em debates. Infelizmente.
“Quem aqui acha que a Lava Jato vai mudar o Brasil?”, perguntou o procurador Deltan Dallagnol à plateia do programa de Jô Soares em 2015. Algumas mãos se levantaram. O orgulho de Dallagnol era evidente. Principal articulador das dez medidas contra a corrupção apresentadas pelo Ministério Público Federal ao Congresso Nacional naquele ano, o procurador passou a ser visto como porta-voz do sistema de combate à corrupção no país. Sua contribuição para a punição de corruptos e para o debate público sobre o tema é valiosa. Mas talvez ele se frustre, junto com seus colegas, com uma coisa: a corrupção não importa na campanha presidencial deste ano.
Dois artigos científicos publicados recentemente ajudam a explicar esse argumento. Miguel Carreras e Sofia Vera argumentam que sistemas políticos assolados por corrupção não necessariamente resultam na mobilização de eleitores para tirar os pilantras do poder. Em vez de a indignação com os atos corruptos servir para que pessoas se informem e votem em candidatos que serão honestos, elas deixam de se importar. Votam nulo ou não comparecem. No Brasil o custo de não ir votar é irrisório, mesmo sendo o voto obrigatório. Conforme o experimento realizado por Carreras e Vera na Colômbia, nem mesmo “roubar-mas-fazer” salva os eleitores da apatia. É mais uma evidência científica de que a lógica adhemarista, malufista, lulista não tem tanta força quanto se imaginava. (O texto “Do corrupt politicians mobilize or demobilize voters? A vignette experiment in Colombia” foi publicado na revista Latin American Politics and Society em 2018.)
Nara Pavão usa um raciocínio mais original para argumentar que corrupção importa menos do que se imagina para definir a decisão do voto. Ela afirma que eleitores não esperam que políticos implementem boas medidas contra a corrupção, portanto não levam isso em conta na hora de votar – especialmente se acreditam que todos os políticos são corruptos. (O artigo “Corruption as the only option: the limits to electoral accountability” foi publicado pelo Journal of Politics em 2018.)
Acertam, portanto, os candidatos que ignoram o assunto em debates. Infelizmente.