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A família Bolsonaro é co-responsável pelos ataques violentos

A provável vitória do candidato do PSL em 28 de outubro estará assentada em uma apologia ao ódio e intolerância poucas vezes vista no mundo

CELEBRAÇÃO DO ASSASSINATO DE MARIELLE FRANCO: os piores radicais se sentem, desde antes da vitória, autorizados a abandonar as normas sociais que vigoravam há pouco / Reprodução/ Facebook
DR

Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2018 às 19h45.

Última atualização em 11 de outubro de 2018 às 20h46.

Toda terça-feira dou aula sobre processo legislativo em um curso de Ciências Sociais. Esta última terça não foi usual. O resultado da eleição me fez debater, com os alunos, os motivos de Jair Bolsonaro (PSL) liderar o primeiro turno. Será que a sociedade brasileira se tornou adepta da violência contra minorias de um dia para o outro? Será uma consequência do antipetismo (sentido, com absoluta justiça, por muitos brasileiros)? O primeiro ponto é o que mais preocupa. Uma aluna relatou que andava com sua namorada pela rua no Rio de Janeiro quando uma viatura policial passou e, fuzis em punho, gritaram “Bolsonaro 2018” em tom ameaçador. Não houve agressão física. Já imaginou passar por um susto e humilhação dessas?

Voltamos aos tempos de “you’ve got to hide your love away”, nas palavras de John Lennon. Ataques físicos a cidadãos críticos de Bolsonaro estão acontecendo no país. Ameaças são constantes. Na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, alguém escreveu no banheiro: “Bolsonaro vai limpar essa faculdade de preto e viado. 17. Preto vai morrer”. O tipo de criminoso que escreveu isso é, acima de tudo, covarde. A frase não tem assinatura.

Em resposta aos ataques, Bolsonaro pai escreveu em seu twitter: “Dispensamos voto e qualquer aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam em mim. A este tipo de gente peço que vote nulo ou na oposição por coerência, e que as autoridades tomem as medidas cabíveis, assim como contra caluniadores que tentam nos prejudicar”. É uma boa mensagem, mas muito pouco para quem quinze anos atrás parabenizava grupos de extermínio que teriam matado supostos criminosos na Bahia.

As palavras incessantes de Jair Bolsonaro e seus filhos Carlos, Eduardo, Flávio sobre violência e direitos de minorias romperam uma barreira. Como afirma Cass Sunstein, um intelectual prolífico, a erosão de normas sociais que garantem o mínimo de boa convivência pode ser causada pela eleição de um novo político que se coloca com veemência de modo contrário a elas. (Seu texto “Unleashed” acaba de ser publicado na revista Social Research.)

A provável vitória do candidato do PSL em 28 de outubro estará assentada em uma apologia ao ódio e intolerância poucas vezes vista no mundo. O Brasil não tem dezenas de milhões de pessoas violentas, à espreita de mulheres, homossexuais e negros para violentar. Mas os piores radicais se sentem, desde antes da vitória, autorizados a abandonar as normas sociais que vigoravam há pouco. Seguindo o raciocínio do cientista político Jon Elster, o sentimento violento contra normas do tipo “não assedie mulheres” e “não agrida homossexuais” normalmente causa embaraço, ansiedade, vergonha, culpa nos potenciais criminosos.

A família Bolsonaro os livrou dessas coleiras.

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Toda terça-feira dou aula sobre processo legislativo em um curso de Ciências Sociais. Esta última terça não foi usual. O resultado da eleição me fez debater, com os alunos, os motivos de Jair Bolsonaro (PSL) liderar o primeiro turno. Será que a sociedade brasileira se tornou adepta da violência contra minorias de um dia para o outro? Será uma consequência do antipetismo (sentido, com absoluta justiça, por muitos brasileiros)? O primeiro ponto é o que mais preocupa. Uma aluna relatou que andava com sua namorada pela rua no Rio de Janeiro quando uma viatura policial passou e, fuzis em punho, gritaram “Bolsonaro 2018” em tom ameaçador. Não houve agressão física. Já imaginou passar por um susto e humilhação dessas?

Voltamos aos tempos de “you’ve got to hide your love away”, nas palavras de John Lennon. Ataques físicos a cidadãos críticos de Bolsonaro estão acontecendo no país. Ameaças são constantes. Na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, alguém escreveu no banheiro: “Bolsonaro vai limpar essa faculdade de preto e viado. 17. Preto vai morrer”. O tipo de criminoso que escreveu isso é, acima de tudo, covarde. A frase não tem assinatura.

Em resposta aos ataques, Bolsonaro pai escreveu em seu twitter: “Dispensamos voto e qualquer aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam em mim. A este tipo de gente peço que vote nulo ou na oposição por coerência, e que as autoridades tomem as medidas cabíveis, assim como contra caluniadores que tentam nos prejudicar”. É uma boa mensagem, mas muito pouco para quem quinze anos atrás parabenizava grupos de extermínio que teriam matado supostos criminosos na Bahia.

As palavras incessantes de Jair Bolsonaro e seus filhos Carlos, Eduardo, Flávio sobre violência e direitos de minorias romperam uma barreira. Como afirma Cass Sunstein, um intelectual prolífico, a erosão de normas sociais que garantem o mínimo de boa convivência pode ser causada pela eleição de um novo político que se coloca com veemência de modo contrário a elas. (Seu texto “Unleashed” acaba de ser publicado na revista Social Research.)

A provável vitória do candidato do PSL em 28 de outubro estará assentada em uma apologia ao ódio e intolerância poucas vezes vista no mundo. O Brasil não tem dezenas de milhões de pessoas violentas, à espreita de mulheres, homossexuais e negros para violentar. Mas os piores radicais se sentem, desde antes da vitória, autorizados a abandonar as normas sociais que vigoravam há pouco. Seguindo o raciocínio do cientista político Jon Elster, o sentimento violento contra normas do tipo “não assedie mulheres” e “não agrida homossexuais” normalmente causa embaraço, ansiedade, vergonha, culpa nos potenciais criminosos.

A família Bolsonaro os livrou dessas coleiras.

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