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Apreensão de Lula com a economia aumenta incerteza sobre agenda fiscalista de Haddad

Presidente trata resposta à estagnação da atividade econômica no final do ano como prioridade e dá esperança ao grupo do PT que defende mais gasto público

Lula: O chefe do Executivo tem demonstrado ainda incômodo com a dificuldade de comunicação de programas vistos como centrais na agenda positiva do seu governo (Ricardo Stuckert / PR/Flickr)
Fábio Zambeli

Vice-presidente da Ágora Assuntos Públicos

Publicado em 24 de novembro de 2023 às 10h09.

Última atualização em 5 de janeiro de 2024 às 08h18.

As discussões sobre a estagnação econômica ganharam corpo no núcleo político do governo e já entraram no radar de Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente, segundo relatos de assessores próximos, está monotemático desde que foi informado que a equipe econômica fará revisões para baixo nas projeções do PIB para o final do ano e para o início de 2024.

O mau humor de Lula coincide com as novas previsões de que o buraco nas contas públicas este ano será ainda maior que o esperado, colocando a equipe econômica sob pressão.

Para o petista, a perda de popularidade detectada pelas mais recentes pesquisas de opinião reflete em larga medida uma desaceleração no poder de compra das famílias – fator tido como vital para melhorar a sua imagem, em especial no eleitorado de classe média, altamente alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro nas regiões centro-sul-sudeste do país.

O chefe do Executivo tem demonstrado ainda incômodo com a dificuldade de comunicação de programas vistos como centrais na agenda positiva do seu governo, como o " Desenrola ", que prevê alcançar 30 milhões de pessoas e tem potencial de reabilitar uma parcela expressiva dos consumidores inadimplentes, levando-os às compras nos meses derradeiros do ano.

Em manifestações públicas, Lula deixa escapar que o ritmo do crescimento, inflado artificialmente com os números do agronegócio no primeiro trimestre de 2023, está no centro do debate da meta fiscal para o próximo ano. Esse entendimento joga mais peso no papel dos bancos públicos e das estatais, sobretudo a Petrobras.

Os aliados de Lula têm sido orientados a associar o período de queda na atividade econômica à taxa de juros, arbitrada pelo Banco Central, comandado por Roberto Campos Neto, uma indicação da gestão anterior.

A tentativa de atrelar o desempenho da economia à política monetária, contudo, não encontra eco nos correligionários do “centrão”, que formam a base de sustentação governista.

Sinal amarelo

Os sinais emitidos pelo Planalto mostram que, apesar da sanha em encontrar culpados, o diagnóstico da estagnação ainda não foi concluído.

Recentemente, Lula se mostrou irritado com o excesso de feriados, que estaria prejudicando a atividade econômica. O presidente, incomodado com a letargia do aparato de comunicação oficial, entrou pessoalmente no mutirão para convocar os devedores à renegociação de suas dívidas.

Na live semanal, por exemplo, ele exortou os consumidores às compras de Natal, indicando que espera ainda um impulso final no varejo e no setor de serviços no crepúsculo do ano.

Os levantamentos que circulam no Planalto atestam que a inflação ainda é o item que mais impacta na percepção de bem-estar do brasileiro, ao lado do emprego. Mas para o presidente o cenário de estagnação econômica é mais crítico, pois induzirá ao que ele chama de "arrocho" orçamentário no biênio decisivo para sua reeleição. Esse consenso no QG lulista afeta a percepção sobre o risco fiscal, sobretudo para a reta final do mandato.

Na posição de avalista da austeridade nas contas, Fernando Haddad está em permanente estado de atenção com o ataque especulativo da ala do governo que enxerga no gasto público um elemento indutor do crescimento econômico.

É o curso natural dos governos brasileiros pós-redemocratização: os políticos querem abrir os cofres da União e os técnicos do Tesouro tentam fechá-los ou ao menos diminuir o rombo. Com ou sem credibilidade na regra fiscal, Haddad enfrentará o apetite do grupo mais desenvolvimentista do PT em aliança com os fisiológicos do centro político enquanto for ministro. E terá tarefas de curto prazo que funcionarão como termômetro da sua vitalidade no cargo: a primeira delas é o pacote de arrecadação em tramitação no Legislativo. Será mais uma batalha a ser vencida, mas não a guerra, que não tem prazo para acabar.

O ministro vem conseguindo vitórias internas –a última delas foi o veto presidencial à desoneração da folha de pagamentos–, mas o esforço para corrigir distorções em subsídios ainda está longe do fim.

Quem não se comunica…

A despeito da apreensão com os números da economia, Lula também tem sido cobrado por aliados a adotar tom mais agressivo na comunicação popular das medidas que afetam diretamente o bolso do eleitor.

O QG lulista avalia que as lives semanais realizadas pelo presidente não têm sido efetivas ao levar as principais mensagens do governo ao público e pressiona por mais campanhas publicitárias em TV aberta e engajamento da militância digital que apoia Lula para amplificar o discurso que atribui a Lula uma melhora na sensação de bem-estar social durante o seu primeiro ano de gestão.

"Estamos falando para nós mesmos. Tem picanha mais barata, gasolina mais barata, mais emprego e mais poder de compra no Natal. O governo precisa se apresentar como responsável por isso. Foi exatamente o que foi prometido na campanha", relata um expoente do PT que participa das conversas estratégicas com o presidente.

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O mau humor de Lula coincide com as novas previsões de que o buraco nas contas públicas este ano será ainda maior que o esperado, colocando a equipe econômica sob pressão.

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O chefe do Executivo tem demonstrado ainda incômodo com a dificuldade de comunicação de programas vistos como centrais na agenda positiva do seu governo, como o " Desenrola ", que prevê alcançar 30 milhões de pessoas e tem potencial de reabilitar uma parcela expressiva dos consumidores inadimplentes, levando-os às compras nos meses derradeiros do ano.

Em manifestações públicas, Lula deixa escapar que o ritmo do crescimento, inflado artificialmente com os números do agronegócio no primeiro trimestre de 2023, está no centro do debate da meta fiscal para o próximo ano. Esse entendimento joga mais peso no papel dos bancos públicos e das estatais, sobretudo a Petrobras.

Os aliados de Lula têm sido orientados a associar o período de queda na atividade econômica à taxa de juros, arbitrada pelo Banco Central, comandado por Roberto Campos Neto, uma indicação da gestão anterior.

A tentativa de atrelar o desempenho da economia à política monetária, contudo, não encontra eco nos correligionários do “centrão”, que formam a base de sustentação governista.

Sinal amarelo

Os sinais emitidos pelo Planalto mostram que, apesar da sanha em encontrar culpados, o diagnóstico da estagnação ainda não foi concluído.

Recentemente, Lula se mostrou irritado com o excesso de feriados, que estaria prejudicando a atividade econômica. O presidente, incomodado com a letargia do aparato de comunicação oficial, entrou pessoalmente no mutirão para convocar os devedores à renegociação de suas dívidas.

Na live semanal, por exemplo, ele exortou os consumidores às compras de Natal, indicando que espera ainda um impulso final no varejo e no setor de serviços no crepúsculo do ano.

Os levantamentos que circulam no Planalto atestam que a inflação ainda é o item que mais impacta na percepção de bem-estar do brasileiro, ao lado do emprego. Mas para o presidente o cenário de estagnação econômica é mais crítico, pois induzirá ao que ele chama de "arrocho" orçamentário no biênio decisivo para sua reeleição. Esse consenso no QG lulista afeta a percepção sobre o risco fiscal, sobretudo para a reta final do mandato.

Na posição de avalista da austeridade nas contas, Fernando Haddad está em permanente estado de atenção com o ataque especulativo da ala do governo que enxerga no gasto público um elemento indutor do crescimento econômico.

É o curso natural dos governos brasileiros pós-redemocratização: os políticos querem abrir os cofres da União e os técnicos do Tesouro tentam fechá-los ou ao menos diminuir o rombo. Com ou sem credibilidade na regra fiscal, Haddad enfrentará o apetite do grupo mais desenvolvimentista do PT em aliança com os fisiológicos do centro político enquanto for ministro. E terá tarefas de curto prazo que funcionarão como termômetro da sua vitalidade no cargo: a primeira delas é o pacote de arrecadação em tramitação no Legislativo. Será mais uma batalha a ser vencida, mas não a guerra, que não tem prazo para acabar.

O ministro vem conseguindo vitórias internas –a última delas foi o veto presidencial à desoneração da folha de pagamentos–, mas o esforço para corrigir distorções em subsídios ainda está longe do fim.

Quem não se comunica…

A despeito da apreensão com os números da economia, Lula também tem sido cobrado por aliados a adotar tom mais agressivo na comunicação popular das medidas que afetam diretamente o bolso do eleitor.

O QG lulista avalia que as lives semanais realizadas pelo presidente não têm sido efetivas ao levar as principais mensagens do governo ao público e pressiona por mais campanhas publicitárias em TV aberta e engajamento da militância digital que apoia Lula para amplificar o discurso que atribui a Lula uma melhora na sensação de bem-estar social durante o seu primeiro ano de gestão.

"Estamos falando para nós mesmos. Tem picanha mais barata, gasolina mais barata, mais emprego e mais poder de compra no Natal. O governo precisa se apresentar como responsável por isso. Foi exatamente o que foi prometido na campanha", relata um expoente do PT que participa das conversas estratégicas com o presidente.

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