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Um estímulo fiscal incerto

Agora é amplamente aceito que o trumpismo envolverá o tipo de estímulo fiscal nos Estados Unidos pelo qual economistas progressistas têm suplicado desde a crise financeira. Afinal, os republicanos são profundamente preocupados com déficits orçamentários quando um democrata está na Casa Branca, mas viram subitamente pombos fiscais quando eles próprios assumem o comando. E não […]

TRUMP: vai haver grandes cortes tributários no topo, mas como eu disse, o esforço para desarmar a rede de proteção definitivamente parece estar em andamento / Joe Skipper/ Reuters
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Da Redação

Publicado em 17 de janeiro de 2017 às 15h27.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h24.

Agora é amplamente aceito que o trumpismo envolverá o tipo de estímulo fiscal nos Estados Unidos pelo qual economistas progressistas têm suplicado desde a crise financeira. Afinal, os republicanos são profundamente preocupados com déficits orçamentários quando um democrata está na Casa Branca, mas viram subitamente pombos fiscais quando eles próprios assumem o comando. E não há dúvida alguma de que o déficit irá crescer.

Mas isso é a mesma coisa que estímulo fiscal? Neste momento parece que os republicanos estão tentando implementar toda a pauta deles, que inclui revogar a Lei da Saúde Médica Acessível, privatizar o Medicare, cortar drasticamente os cupons de alimentos e por aí vai. Estes são cortes nos gastos, que diminuirão a renda disponível dos americanos de classe baixa e média mesmo que os cortes fiscais aumentem a renda dos ricos. Dadas estas mudanças distributivas drásticas, analisar somente o déficit orçamentário pode dar uma ideia ruim do impacto macroeconômico.

Dada a extensão que está tomando o rumo das coisas, eu não consigo botar em números o que pode acontecer. Mas eu consegui encontrar análises alinhadas com a do Centro de Orçamento e Prioridades Políticas sobre os cortes fiscais e de gastos no orçamento de 2014 do porta-voz da Casa, Paul Ryan, que pode ser um modelo útil do que vem por aí.

Se você deixar de fora os asteriscos mágicos – o fechamento de brechas fiscais não especificadas – aquele orçamento foi uma escalada do déficit: 5,7 trilhões de dólares em cortes fiscais ao longo de 10 anos, contra 5 trilhões em cortes de gastos. As reduções de gastos envolveram cortes em despesa discricionária somados a cortes grandes nos programas voltados às classes pobres e média: os cortes de impostos focavam, é claro, os grandes rendimentos.

Os prós e contras aqui teriam efeitos muitos diferentes sobre a demanda. Cortar impostos de altos rendimentos provavelmente tem um efeito multiplicador pequeno: Os ricos dificilmente têm restrições de gastos, e vão guardar uma boa parte de seu lucro inesperado. Cortar o gasto facultativo tem um multiplicador grande, porque ele reduz diretamente compras governamentais de bens e serviços; cortar programas para os pobres provavelmente tem um multiplicador também bastante grande, porque reduz as rendas de muitas pessoas que estão vivendo mais ou menos da mão para a boca.

Levando-se tudo isso em consideração, o orçamento de 2014 do Sr. Ryan com quase toda certeza seria restritivo, não expansionista.

A Trumponomia vai ser diferente? Dependeria de haver realmente um grande empurrão na infraestrutura, mas isso está se tornando cada vez menos plausível. Vai haver grandes cortes tributários no topo, mas como eu disse, o esforço para desarmar a rede de proteção definitivamente parece estar em andamento. Junte tudo isso, e é extremamente improvável que estejamos falando de um estímulo fiscal concreto.

ficha_krugmann

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Agora é amplamente aceito que o trumpismo envolverá o tipo de estímulo fiscal nos Estados Unidos pelo qual economistas progressistas têm suplicado desde a crise financeira. Afinal, os republicanos são profundamente preocupados com déficits orçamentários quando um democrata está na Casa Branca, mas viram subitamente pombos fiscais quando eles próprios assumem o comando. E não há dúvida alguma de que o déficit irá crescer.

Mas isso é a mesma coisa que estímulo fiscal? Neste momento parece que os republicanos estão tentando implementar toda a pauta deles, que inclui revogar a Lei da Saúde Médica Acessível, privatizar o Medicare, cortar drasticamente os cupons de alimentos e por aí vai. Estes são cortes nos gastos, que diminuirão a renda disponível dos americanos de classe baixa e média mesmo que os cortes fiscais aumentem a renda dos ricos. Dadas estas mudanças distributivas drásticas, analisar somente o déficit orçamentário pode dar uma ideia ruim do impacto macroeconômico.

Dada a extensão que está tomando o rumo das coisas, eu não consigo botar em números o que pode acontecer. Mas eu consegui encontrar análises alinhadas com a do Centro de Orçamento e Prioridades Políticas sobre os cortes fiscais e de gastos no orçamento de 2014 do porta-voz da Casa, Paul Ryan, que pode ser um modelo útil do que vem por aí.

Se você deixar de fora os asteriscos mágicos – o fechamento de brechas fiscais não especificadas – aquele orçamento foi uma escalada do déficit: 5,7 trilhões de dólares em cortes fiscais ao longo de 10 anos, contra 5 trilhões em cortes de gastos. As reduções de gastos envolveram cortes em despesa discricionária somados a cortes grandes nos programas voltados às classes pobres e média: os cortes de impostos focavam, é claro, os grandes rendimentos.

Os prós e contras aqui teriam efeitos muitos diferentes sobre a demanda. Cortar impostos de altos rendimentos provavelmente tem um efeito multiplicador pequeno: Os ricos dificilmente têm restrições de gastos, e vão guardar uma boa parte de seu lucro inesperado. Cortar o gasto facultativo tem um multiplicador grande, porque ele reduz diretamente compras governamentais de bens e serviços; cortar programas para os pobres provavelmente tem um multiplicador também bastante grande, porque reduz as rendas de muitas pessoas que estão vivendo mais ou menos da mão para a boca.

Levando-se tudo isso em consideração, o orçamento de 2014 do Sr. Ryan com quase toda certeza seria restritivo, não expansionista.

A Trumponomia vai ser diferente? Dependeria de haver realmente um grande empurrão na infraestrutura, mas isso está se tornando cada vez menos plausível. Vai haver grandes cortes tributários no topo, mas como eu disse, o esforço para desarmar a rede de proteção definitivamente parece estar em andamento. Junte tudo isso, e é extremamente improvável que estejamos falando de um estímulo fiscal concreto.

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