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Que empregos os robôs vão tomar no futuro?

Izabella Kaminska, do The Financial Times, escreveu recentemente um artigo instigante sobre os efeitos reais da tecnologia nos salários, em que ela defende que muitas inovações recentes, em vez de desempregar trabalhadores manuais, desempregaram cargos de salários altos e capacitação elevada. Na verdade, de certa forma eu já tinha previsto isso há 20 anos, em […]

FÁBRICA DE ROBÔS NA COREIA DO SUL: muitas inovações recentes, em vez de desempregar trabalhadores manuais, desempregaram cargos de salários altos e capacitação elevada / Chung Sung-Jun/ Getty Images
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Da Redação

Publicado em 6 de março de 2017 às 13h04.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h28.

Izabella Kaminska, do The Financial Times, escreveu recentemente um artigo instigante sobre os efeitos reais da tecnologia nos salários, em que ela defende que muitas inovações recentes, em vez de desempregar trabalhadores manuais, desempregaram cargos de salários altos e capacitação elevada. Na verdade, de certa forma eu já tinha previsto isso há 20 anos, em um artigo para o aniversário de 100 anos da The New York Times Magazine (autores foram convidados a escrever como se estivessem em 2096, e eles estivessem olhando para o passado ( leia-o aqui ).

Eu argumentava na ocasião que o trabalho mais simples relacionado a lidar com o mundo físico – empregar pessoas como jardineiros, domésticas e enfermeiras – sobreviveria, ainda que muitos dos poucos trabalhos que antes exigiam diplomas universitários desaparecessem. No fim das contas, o big data trouxe mais progresso em algo que se assemelha a inteligência artificial do que eu pensava: Os carros autônomos estão hoje muito mais perto da realidade do que eu teria imaginado, e talvez os robôs de jardinagem e os robôs de limpeza pós-Roomba surjam na sequência. Ainda assim, o ponto sobre o desemprego relativo de trabalhos cognitivos contra os manuais parece persistir.

Uma digressão: Dada a maneira como o Google Translate e programas semelhantes funcionam, o famoso Argumento do Quarto Chinês do filósofo John Searle não parece mais tão bobo quanto eu costumava achar que era.

De todo modo, o ponto da Srª Kaminska sobre as turbulências causadas pelas mudanças tecnológicas é algo que deveríamos levar a sério.

Afinal, isso já aconteceu antes. O efeito inicial da Revolução Industrial foi uma desqualificação significativa da produção de bens. Os luditas eram, em sua maioria, não proletários mas artesãos competentes – eles eram tecelões que constituíam uma espécie de aristocracia trabalhista, mas que viram suas capacidades desvalorizadas pelo tear mecânico. No longo prazo, a industrialização de fato levou a um aumento salarial para todo mundo, mas o longo prazo levou várias gerações para acontecer.

Ou seja, é uma coisa interessante. Eu notaria, contudo, que continua a ser algo peculiar como nós estamos ao mesmo tempo preocupados com robôs tomando nossos empregos e lamuriando a estagnação do crescimento produtivo. Qual é a história, afinal?

ficha_krugmann

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Izabella Kaminska, do The Financial Times, escreveu recentemente um artigo instigante sobre os efeitos reais da tecnologia nos salários, em que ela defende que muitas inovações recentes, em vez de desempregar trabalhadores manuais, desempregaram cargos de salários altos e capacitação elevada. Na verdade, de certa forma eu já tinha previsto isso há 20 anos, em um artigo para o aniversário de 100 anos da The New York Times Magazine (autores foram convidados a escrever como se estivessem em 2096, e eles estivessem olhando para o passado ( leia-o aqui ).

Eu argumentava na ocasião que o trabalho mais simples relacionado a lidar com o mundo físico – empregar pessoas como jardineiros, domésticas e enfermeiras – sobreviveria, ainda que muitos dos poucos trabalhos que antes exigiam diplomas universitários desaparecessem. No fim das contas, o big data trouxe mais progresso em algo que se assemelha a inteligência artificial do que eu pensava: Os carros autônomos estão hoje muito mais perto da realidade do que eu teria imaginado, e talvez os robôs de jardinagem e os robôs de limpeza pós-Roomba surjam na sequência. Ainda assim, o ponto sobre o desemprego relativo de trabalhos cognitivos contra os manuais parece persistir.

Uma digressão: Dada a maneira como o Google Translate e programas semelhantes funcionam, o famoso Argumento do Quarto Chinês do filósofo John Searle não parece mais tão bobo quanto eu costumava achar que era.

De todo modo, o ponto da Srª Kaminska sobre as turbulências causadas pelas mudanças tecnológicas é algo que deveríamos levar a sério.

Afinal, isso já aconteceu antes. O efeito inicial da Revolução Industrial foi uma desqualificação significativa da produção de bens. Os luditas eram, em sua maioria, não proletários mas artesãos competentes – eles eram tecelões que constituíam uma espécie de aristocracia trabalhista, mas que viram suas capacidades desvalorizadas pelo tear mecânico. No longo prazo, a industrialização de fato levou a um aumento salarial para todo mundo, mas o longo prazo levou várias gerações para acontecer.

Ou seja, é uma coisa interessante. Eu notaria, contudo, que continua a ser algo peculiar como nós estamos ao mesmo tempo preocupados com robôs tomando nossos empregos e lamuriando a estagnação do crescimento produtivo. Qual é a história, afinal?

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