Os republicanos não estão interessados em infraestrutura
Ben Bernanke recentemente fez um post num blog da Brookings Institution sobre a política fiscal na era Trump. Não é a mais divertida das leituras – talvez porque o momento seja politicamente tenso, o Sr. Bernanke, ex-presidente do Federal Reserve, tenha voltado um pouco a falar em “federalreservês”. Mas há alguns insights bastante válidos (leia […]
Da Redação
Publicado em 25 de janeiro de 2017 às 14h34.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h14.
Ben Bernanke recentemente fez um post num blog da Brookings Institution sobre a política fiscal na era Trump. Não é a mais divertida das leituras – talvez porque o momento seja politicamente tenso, o Sr. Bernanke, ex-presidente do Federal Reserve, tenha voltado um pouco a falar em “federalreservês”. Mas há alguns insights bastante válidos ( leia o post aqui ), vários deles muito na linha do que eu tenho dito.
Em particular, o Sr. Bernanke, assim como este que vos fala, afirma que o argumento do incentivo fiscal para o déficit orçamental perdeu muita força, mas defende a manutenção dos empréstimos para fomentar a infraestrutura. “Quando eu estava no comando do Fed, eu me pronunciei em várias ocasiões contra a austeridade fiscal (aumento de impostos, cortes de gastos)”, escreve ele. “A economia então sofria com o desemprego elevado, e com a política monetária operando perto de seus limites, eu defendi (sem sucesso) que as políticas fiscais aumentassem a demanda agregada e a criação de empregos. Hoje, com a economia beirando o pleno emprego, a necessidade de incentivos do lado da demanda, embora não esteja totalmente ausente, certamente é muito menor que há três ou quatro anos. Ainda se pode falar em uma ação voltada à política fiscal hoje, mas para elevar a produção sem aumentar indevidamente a inflação o foco deve estar voltado para melhorar a produtividade e a oferta agregada – por exemplo, através de infraestrutura pública aprimorada que torne nossa economia mais eficiente ou de reformas tributárias que promovam investimentos do capital privado.”
Mas o Sr. Bernanke gentilmente expressa dúvidas sobre se esse tipo de coisa irá mesmo acontecer. “Em particular, estarão os republicanos dispostos a apoiar grandes aumentos de gastos, inclusive gastos em infraestrutura? Por outro lado, se o Congresso decidir reduzir o impacto do déficit de um programa de infraestrutura financiando-o por meio de créditos fiscais e de parcerias público-privadas, como propôs o candidato Trump, o programa pode se revelar algo relativamente pequeno.”
Permitam-me ser menos gentil: Não haverá um programa de investimento público significativo, por dois motivos. Primeiro, os republicanos do Congresso não têm interesse em um programa dessa natureza. Eles estão totalmente comprometidos em privar milhões de pessoas de seu serviço de saúde e em cortar impostos dos ricos; eles sequer estão falando em investimento público, e provavelmente empurrariam o assunto com a barriga mesmo se Donald Trump aparecesse com um plano detalhado e fizesse dele uma prioridade.
Contudo, isso levanta uma dúvida óbvia: Quem de fato acredita que o Sr. Trump e sua turma vão bolar um plano sério? O Sr. Trump não tem uma organização política, e sequer demonstra a intenção de criar uma. Ele está muito ocupado tuitando sobre o que considera insultos de celebridades e montando uma equipe de pessoas que não sabem nada sobre as responsabilidades delas. Qualquer ação política significativa será elaborada e transformada em lei pelos congressistas republicanos que, de novo, têm zero interesse em um programa de investimentos públicos.
Ou seja, os investidores que apostam em um grande empurrão de infraestrutura estão quase que certamente se iludindo. Nós podemos imaginar que haverá algumas privatizações visíveis, em especial se elas vierem com oportunidades de títulos: quem sabe colocando luminárias novas o presidente consegue renomear a Represa Hoover como Represa Trump? Mas pouco ou nenhum investimento real está vindo.
Ben Bernanke recentemente fez um post num blog da Brookings Institution sobre a política fiscal na era Trump. Não é a mais divertida das leituras – talvez porque o momento seja politicamente tenso, o Sr. Bernanke, ex-presidente do Federal Reserve, tenha voltado um pouco a falar em “federalreservês”. Mas há alguns insights bastante válidos ( leia o post aqui ), vários deles muito na linha do que eu tenho dito.
Em particular, o Sr. Bernanke, assim como este que vos fala, afirma que o argumento do incentivo fiscal para o déficit orçamental perdeu muita força, mas defende a manutenção dos empréstimos para fomentar a infraestrutura. “Quando eu estava no comando do Fed, eu me pronunciei em várias ocasiões contra a austeridade fiscal (aumento de impostos, cortes de gastos)”, escreve ele. “A economia então sofria com o desemprego elevado, e com a política monetária operando perto de seus limites, eu defendi (sem sucesso) que as políticas fiscais aumentassem a demanda agregada e a criação de empregos. Hoje, com a economia beirando o pleno emprego, a necessidade de incentivos do lado da demanda, embora não esteja totalmente ausente, certamente é muito menor que há três ou quatro anos. Ainda se pode falar em uma ação voltada à política fiscal hoje, mas para elevar a produção sem aumentar indevidamente a inflação o foco deve estar voltado para melhorar a produtividade e a oferta agregada – por exemplo, através de infraestrutura pública aprimorada que torne nossa economia mais eficiente ou de reformas tributárias que promovam investimentos do capital privado.”
Mas o Sr. Bernanke gentilmente expressa dúvidas sobre se esse tipo de coisa irá mesmo acontecer. “Em particular, estarão os republicanos dispostos a apoiar grandes aumentos de gastos, inclusive gastos em infraestrutura? Por outro lado, se o Congresso decidir reduzir o impacto do déficit de um programa de infraestrutura financiando-o por meio de créditos fiscais e de parcerias público-privadas, como propôs o candidato Trump, o programa pode se revelar algo relativamente pequeno.”
Permitam-me ser menos gentil: Não haverá um programa de investimento público significativo, por dois motivos. Primeiro, os republicanos do Congresso não têm interesse em um programa dessa natureza. Eles estão totalmente comprometidos em privar milhões de pessoas de seu serviço de saúde e em cortar impostos dos ricos; eles sequer estão falando em investimento público, e provavelmente empurrariam o assunto com a barriga mesmo se Donald Trump aparecesse com um plano detalhado e fizesse dele uma prioridade.
Contudo, isso levanta uma dúvida óbvia: Quem de fato acredita que o Sr. Trump e sua turma vão bolar um plano sério? O Sr. Trump não tem uma organização política, e sequer demonstra a intenção de criar uma. Ele está muito ocupado tuitando sobre o que considera insultos de celebridades e montando uma equipe de pessoas que não sabem nada sobre as responsabilidades delas. Qualquer ação política significativa será elaborada e transformada em lei pelos congressistas republicanos que, de novo, têm zero interesse em um programa de investimentos públicos.
Ou seja, os investidores que apostam em um grande empurrão de infraestrutura estão quase que certamente se iludindo. Nós podemos imaginar que haverá algumas privatizações visíveis, em especial se elas vierem com oportunidades de títulos: quem sabe colocando luminárias novas o presidente consegue renomear a Represa Hoover como Represa Trump? Mas pouco ou nenhum investimento real está vindo.