O “plano” fiscal absurdo de Donald Trump
Fãs de séries de TV antigas talvez se recordem de um episódio clássico de Além da Imaginação intitulado É um bom dia. Ele mostrava uma pequena cidade aterrorizada por um garoto de seis anos que por algum motivo tinha superpoderes monstruosos, aliados a uma completa imaturidade emocional. Todo mundo vivia em medo constante, piorado pela […]
Da Redação
Publicado em 10 de maio de 2017 às 13h11.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h21.
Fãs de séries de TV antigas talvez se recordem de um episódio clássico de Além da Imaginação intitulado É um bom dia. Ele mostrava uma pequena cidade aterrorizada por um garoto de seis anos que por algum motivo tinha superpoderes monstruosos, aliados a uma completa imaturidade emocional. Todo mundo vivia em medo constante, piorado pela necessidade de fingir que estava tudo bem. Afinal, qualquer indício de descontentamento poderia invocar uma retribuição terrível.
E agora vocês sabem como deve ser trabalhar no governo Trump. Na verdade, já parece bastante com aquele episódio simplesmente o fato de viver na América de Donald Trump.
O que desencadeou em mim essa cadeia de associações? A resposta pode surpreender vocês: foi o “plano” fiscal que o governo divulgou recentemente.
O motivo de eu usar aspas aqui é que o documento de uma única página que a Casa Branca fez circular não guardava semelhança alguma com o que as pessoas normalmente querem dizer quando falam em um plano fiscal. É verdade, algumas alíquotas tributárias foram mencionadas – mas nada foi dito sobre os limites de receita sob os quais essas alíquotas serão aplicadas.
Enquanto isso, o documento disse alguma coisa sobre eliminar incentivos fiscais, mas não especificou quais. Por exemplo, a isenção tributária para contas de aposentadorias acima de US$ 401 mil seria preservada? A resposta, de acordo com a Casa Branca, foi sim, ou talvez não, ou pensando bem sim, dependendo de para quem e quando você perguntasse.
Ou seja, se você estivesse procurando um documento que pudesse usar para estimar, ainda que em uma conta grosseira, quanto um indivíduo acabaria pagando, desculpe.
Fica claro que a Casa Branca está propondo grandes incentivos fiscais para empresas e os ricos, com estímulos especialmente grande para as pessoas que podem contornar impostos pessoais ordinários ao canalizar a renda delas em negócios fiscalmente privilegiados – pessoas, por exemplo, com o nome Donald Trump. Assim, o Sr. Trump planeja explodir o déficit, em grande parte para seu benefício pessoal; mas isso é basicamente tudo o que nós sabemos.
Sendo assim, por que a Casa Branca divulgaria um documento tão embaraçoso? Por que o Departamento do Tesouro tomaria parte nesta palhaçada?
Infelizmente, nós sabemos a resposta. Cada relatório do interior da Casa Branca passa a impressão de que o Sr. Trump é como uma criança temperamental, entediada com os detalhes e facilmente frustrada quando as coisas não saem do jeito que ela quer; ser um empregado eficiente parece ter a ver com encontrar maneiras de fazê-lo se sentir bem e desviar a atenção dele de notícias que ele considera que o fazem parecer que está em uma situação ruim.
Se ele quiser dizer alguma coisa, não importa quão ridícula, você responde “Sim, Sr. Presidente!”; no máximo, você tenta minimizar o estrago.
Neste momento, ao que tudo indica, o bebê-homem no comando está fazendo birra diante da perspectiva de matérias que avaliem seus primeiros 100 dias de governo e concluam que ele não conseguiu fazer muito, se é que fez alguma coisa (porque ele não fez). Assim, ele anunciou a divulgação iminente de alguma coisa que pudesse chamar de plano fiscal.
Segundo o The New York Times, isso deixou a equipe do Tesouro – que não estava sequer próxima de ter um plano pronto para lançamento – “sem palavras”. Mas ninguém se atreveu a dizer a ele que não poderia ser feito. Em vez disso, eles divulgaram… alguma coisa, que ninguém tem certeza do que quer dizer.
E a falta de um plano fiscal real não é a única coisa que o círculo mais próximo aparentemente não se atreve a contar a ele.
Obviamente, ninguém ainda teve coragem de contar ao Sr. Trump que ele fez algo ridículo e vil ao acusar o presidente Barack Obama de grampear a campanha dele, Trump; em vez disso, autoridades do governo passaram semanas tentando levantar alguma coisa, qualquer uma, que desse alguma substância à acusação.
Ou então, pense na cobertura de saúde. A tentativa de revogar e substituir o Obamacare fracassou vergonhosamente, por muito bons motivos: Depois de tanto bufar e assoprar, os republicanos não conseguiram aparecer com uma ideia melhor. Pelo contrário, todas as propostas deles levariam à perda em massa da cobertura de saúde e a custos ascendentes para os mais necessitados.
Claramente, o Sr. Trump e cia. deveriam ter deixado isso para lá e seguido em frente com outra coisa. Mas isso exigiria um certo nível de maturidade – o que é uma qualidade impossível de ser encontrada nesta Casa Branca. Assim, eles continuam nessa toada, com propostas que qualquer um que eu conheço chama de Trumpcare Zumbi 2.0, 3.0 e assim em diante.
E eu não quero nem pensar sobre a política externa. No front interno, acalmar o ego frágil do presidente com proclamações que soam vigorosas, ainda que incoerentes, pode causar um prejuízo limitado; no front internacional é uma boa maneira de dar de cara com uma crise diplomática, ou até mesmo uma guerra.
De todo modo, eu gostaria de fazer um apelo aos meus colegas de imprensa: Não finjam que isso é normal. Não vamos agir como se essa coisa lançada recentemente, o que quer que ela seja, foi alguma coisa parecida com, digamos, os cortes fiscais de Bush em 2001; Eu discordei fortemente daquele corte, mas no mínimo ele era compreensível. Não vamos fazer de conta que nós estamos tendo uma discussão real, digamos, sobre os efeitos no crescimento causados pelas mudanças nas alíquotas tributárias das empresas.
Não. O que nós estamos vendo aqui não é política; é um pedaço de papel cujo objetivo é acalmar os chiliques do homem no comando. Infelizmente, todos nós pagamos a conta da terapia dele.
Fãs de séries de TV antigas talvez se recordem de um episódio clássico de Além da Imaginação intitulado É um bom dia. Ele mostrava uma pequena cidade aterrorizada por um garoto de seis anos que por algum motivo tinha superpoderes monstruosos, aliados a uma completa imaturidade emocional. Todo mundo vivia em medo constante, piorado pela necessidade de fingir que estava tudo bem. Afinal, qualquer indício de descontentamento poderia invocar uma retribuição terrível.
E agora vocês sabem como deve ser trabalhar no governo Trump. Na verdade, já parece bastante com aquele episódio simplesmente o fato de viver na América de Donald Trump.
O que desencadeou em mim essa cadeia de associações? A resposta pode surpreender vocês: foi o “plano” fiscal que o governo divulgou recentemente.
O motivo de eu usar aspas aqui é que o documento de uma única página que a Casa Branca fez circular não guardava semelhança alguma com o que as pessoas normalmente querem dizer quando falam em um plano fiscal. É verdade, algumas alíquotas tributárias foram mencionadas – mas nada foi dito sobre os limites de receita sob os quais essas alíquotas serão aplicadas.
Enquanto isso, o documento disse alguma coisa sobre eliminar incentivos fiscais, mas não especificou quais. Por exemplo, a isenção tributária para contas de aposentadorias acima de US$ 401 mil seria preservada? A resposta, de acordo com a Casa Branca, foi sim, ou talvez não, ou pensando bem sim, dependendo de para quem e quando você perguntasse.
Ou seja, se você estivesse procurando um documento que pudesse usar para estimar, ainda que em uma conta grosseira, quanto um indivíduo acabaria pagando, desculpe.
Fica claro que a Casa Branca está propondo grandes incentivos fiscais para empresas e os ricos, com estímulos especialmente grande para as pessoas que podem contornar impostos pessoais ordinários ao canalizar a renda delas em negócios fiscalmente privilegiados – pessoas, por exemplo, com o nome Donald Trump. Assim, o Sr. Trump planeja explodir o déficit, em grande parte para seu benefício pessoal; mas isso é basicamente tudo o que nós sabemos.
Sendo assim, por que a Casa Branca divulgaria um documento tão embaraçoso? Por que o Departamento do Tesouro tomaria parte nesta palhaçada?
Infelizmente, nós sabemos a resposta. Cada relatório do interior da Casa Branca passa a impressão de que o Sr. Trump é como uma criança temperamental, entediada com os detalhes e facilmente frustrada quando as coisas não saem do jeito que ela quer; ser um empregado eficiente parece ter a ver com encontrar maneiras de fazê-lo se sentir bem e desviar a atenção dele de notícias que ele considera que o fazem parecer que está em uma situação ruim.
Se ele quiser dizer alguma coisa, não importa quão ridícula, você responde “Sim, Sr. Presidente!”; no máximo, você tenta minimizar o estrago.
Neste momento, ao que tudo indica, o bebê-homem no comando está fazendo birra diante da perspectiva de matérias que avaliem seus primeiros 100 dias de governo e concluam que ele não conseguiu fazer muito, se é que fez alguma coisa (porque ele não fez). Assim, ele anunciou a divulgação iminente de alguma coisa que pudesse chamar de plano fiscal.
Segundo o The New York Times, isso deixou a equipe do Tesouro – que não estava sequer próxima de ter um plano pronto para lançamento – “sem palavras”. Mas ninguém se atreveu a dizer a ele que não poderia ser feito. Em vez disso, eles divulgaram… alguma coisa, que ninguém tem certeza do que quer dizer.
E a falta de um plano fiscal real não é a única coisa que o círculo mais próximo aparentemente não se atreve a contar a ele.
Obviamente, ninguém ainda teve coragem de contar ao Sr. Trump que ele fez algo ridículo e vil ao acusar o presidente Barack Obama de grampear a campanha dele, Trump; em vez disso, autoridades do governo passaram semanas tentando levantar alguma coisa, qualquer uma, que desse alguma substância à acusação.
Ou então, pense na cobertura de saúde. A tentativa de revogar e substituir o Obamacare fracassou vergonhosamente, por muito bons motivos: Depois de tanto bufar e assoprar, os republicanos não conseguiram aparecer com uma ideia melhor. Pelo contrário, todas as propostas deles levariam à perda em massa da cobertura de saúde e a custos ascendentes para os mais necessitados.
Claramente, o Sr. Trump e cia. deveriam ter deixado isso para lá e seguido em frente com outra coisa. Mas isso exigiria um certo nível de maturidade – o que é uma qualidade impossível de ser encontrada nesta Casa Branca. Assim, eles continuam nessa toada, com propostas que qualquer um que eu conheço chama de Trumpcare Zumbi 2.0, 3.0 e assim em diante.
E eu não quero nem pensar sobre a política externa. No front interno, acalmar o ego frágil do presidente com proclamações que soam vigorosas, ainda que incoerentes, pode causar um prejuízo limitado; no front internacional é uma boa maneira de dar de cara com uma crise diplomática, ou até mesmo uma guerra.
De todo modo, eu gostaria de fazer um apelo aos meus colegas de imprensa: Não finjam que isso é normal. Não vamos agir como se essa coisa lançada recentemente, o que quer que ela seja, foi alguma coisa parecida com, digamos, os cortes fiscais de Bush em 2001; Eu discordei fortemente daquele corte, mas no mínimo ele era compreensível. Não vamos fazer de conta que nós estamos tendo uma discussão real, digamos, sobre os efeitos no crescimento causados pelas mudanças nas alíquotas tributárias das empresas.
Não. O que nós estamos vendo aqui não é política; é um pedaço de papel cujo objetivo é acalmar os chiliques do homem no comando. Infelizmente, todos nós pagamos a conta da terapia dele.