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O pacto dos republicanos com o Diabo

Partido Republicano está atado ao mal governo de Trump

TRUMP: presidente americano se alia a assessores que acobertam seus erros / Carlo Allegri | Reuters
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Da Redação

Publicado em 17 de janeiro de 2018 às 13h51.

Eu não li “Fire and Fury”, do Michael Wolff, mas as linhas gerais do livro têm sido familiares e inequívocas há tempos para qualquer um de olhos abertos.

O presidente Trump é moral e intelectualmente incapaz de ser presidente. Ele tem se aproveitado de seu cargo para ganho pessoal, obstruindo a justiça e conspirando com uma potência externa hostil.

Qualquer um que não tenha a Fox como fonte de notícias basicamente sabe disso há algum tempo, embora o Sr. Wolff tenha nos ajudado a focar no assunto.

Me parece que a verdadeira notícia agora é a maneira como os republicanos no Congresso estão lidando com este pesadelo nacional: Em vez de se distanciar do Sr. Trump, eles estão redobrando o apoio deles e, em especial, nos esforços deles para cobrir os defeitos e crimes de Trump.

Lembram de quando Paul Ryan era o Conservador Sério e Honesto? (Ele nunca foi isso de verdade, mas essa era a figura pública dele.) Agora ele está apoiando Devin Nunes, o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, em seus esforços para ajudar a acobertar Trump.

Como diz o comentarista político Brian Beutler, o Partido Republicano se tornou o Partido dos Empata-planos. Por quê?

A resposta, eu acho, é que a barganha cínica que tem sido a base da estratégia republicana desde Ronald Reagan agora se transformou em uma armadilha moral. E até onde nós podemos enxergar, nenhum republicano eleito, nem um, tem a firmeza de caráter para sequer tentar escapar.

A barganha cínica da qual eu estou falando, é claro, foi a decisão de se aproveitar do racismo para avançar uma pauta econômica da direita. Fale sobre madames da assistência social dirigindo cadillacs, depois corte os impostos sobre rendimentos. Gabe-se de suas credenciais pela lei e pela ordem, depois bloqueie a legislação sobre o acesso público à saúde.

Durante mais de uma geração, o status quo republicano foi capaz de manter esta estratégia pega-trouxa sob controle: O racismo era empregado para ganhar eleições, e deixado no mudo logo depois, em parte para manter a negação plausível e em parte para manter o foco na real prioridade: enriquecer o 1%. Mas com o Sr. Trump eles perderam o controle: A base queria alguém que fosse descaradamente racista e que não fingisse ser outra coisa. E foi o que eles levaram, com corrupção, incompetência e traição de brinde.

Apesar disso, à exceção de alguns partidários do Trump Nunca, praticamente todo mundo no status quo republicano decidiu que eles poderiam trabalhar com isso. Eles sabiam o que o Sr. Trump era, mas estavam dispostos a fazer vista grossa desde que eles pudessem levar adiante a pauta de sempre. Mas e quanto ao populismo?

Eles adivinharam, corretamente, que isso não seria um problema: O Sr. Trump sequer hesitou em abandonar suas promessas de campanha, e foi com tudo para cima do corte de impostos dos ricos ao mesmo tempo em que barrava benefícios para os pobres.

Desde o começo, alguns especularam que isso seria uma aliança temporária. Republicanos do status quo usariam Trump para conseguir o que eles queriam, e então se voltariam contra ele. Agora está claro que isso não vai acontecer. O Sr. Trump superou as piores expectativas de todo mundo, e no entanto os republicanos, muito longe de cortá-lo fora, estão se agarrando com ainda mais firmeza ao destino dele.

Por quê?

A resposta, eu diria, é que eles estão presos. Eles sabidamente fizeram um pacto com o Diabo, e não podem voltar atrás agora.

Mais especificamente, a própria horripilância do Sr. Trump significa que, se ele fracassar, o partido inteiro vai para o buraco com ele. Os republicanos poderiam admissivelmente se distanciar de um presidente que se revelou um mau gestor, ou até mesmo de um que se descobriu que estava envolvido em corrupção de pequeno porte. Mas quando a corrupção é de grande porte, e além disso combinada com obstrução de justiça e colaboração com Vladimir Putin, ninguém vai notar quais republicanos estiveram um pouco menos envolvidos, ou que foram um tico menos subservientes que outros. Caso o Sr. Trump afunde, ele irá criar um vórtice que sugará para o fundo todos os envolvidos.

E assim, hoje nós temos o Partido Republicano como um todo inteiramente mancomunado com os crimes do Sr. Trump.

Porque isso é o que eles são, não importando se Trump e aqueles ao redor dele serão algum dia levados à Justiça.

O que isso significa, entre outras coisas, é que esperar que o Partido Republicano realize alguma supervisão ou restrição de qualquer forma a Trump é simplesmente tolo a essa altura do campeonato. Uma enorme derrota eleitoral – enorme o suficiente para esmagar a manipulação partidária de distritos e as outras vantagens estruturais da direita – é a única saída.

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Eu não li “Fire and Fury”, do Michael Wolff, mas as linhas gerais do livro têm sido familiares e inequívocas há tempos para qualquer um de olhos abertos.

O presidente Trump é moral e intelectualmente incapaz de ser presidente. Ele tem se aproveitado de seu cargo para ganho pessoal, obstruindo a justiça e conspirando com uma potência externa hostil.

Qualquer um que não tenha a Fox como fonte de notícias basicamente sabe disso há algum tempo, embora o Sr. Wolff tenha nos ajudado a focar no assunto.

Me parece que a verdadeira notícia agora é a maneira como os republicanos no Congresso estão lidando com este pesadelo nacional: Em vez de se distanciar do Sr. Trump, eles estão redobrando o apoio deles e, em especial, nos esforços deles para cobrir os defeitos e crimes de Trump.

Lembram de quando Paul Ryan era o Conservador Sério e Honesto? (Ele nunca foi isso de verdade, mas essa era a figura pública dele.) Agora ele está apoiando Devin Nunes, o presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, em seus esforços para ajudar a acobertar Trump.

Como diz o comentarista político Brian Beutler, o Partido Republicano se tornou o Partido dos Empata-planos. Por quê?

A resposta, eu acho, é que a barganha cínica que tem sido a base da estratégia republicana desde Ronald Reagan agora se transformou em uma armadilha moral. E até onde nós podemos enxergar, nenhum republicano eleito, nem um, tem a firmeza de caráter para sequer tentar escapar.

A barganha cínica da qual eu estou falando, é claro, foi a decisão de se aproveitar do racismo para avançar uma pauta econômica da direita. Fale sobre madames da assistência social dirigindo cadillacs, depois corte os impostos sobre rendimentos. Gabe-se de suas credenciais pela lei e pela ordem, depois bloqueie a legislação sobre o acesso público à saúde.

Durante mais de uma geração, o status quo republicano foi capaz de manter esta estratégia pega-trouxa sob controle: O racismo era empregado para ganhar eleições, e deixado no mudo logo depois, em parte para manter a negação plausível e em parte para manter o foco na real prioridade: enriquecer o 1%. Mas com o Sr. Trump eles perderam o controle: A base queria alguém que fosse descaradamente racista e que não fingisse ser outra coisa. E foi o que eles levaram, com corrupção, incompetência e traição de brinde.

Apesar disso, à exceção de alguns partidários do Trump Nunca, praticamente todo mundo no status quo republicano decidiu que eles poderiam trabalhar com isso. Eles sabiam o que o Sr. Trump era, mas estavam dispostos a fazer vista grossa desde que eles pudessem levar adiante a pauta de sempre. Mas e quanto ao populismo?

Eles adivinharam, corretamente, que isso não seria um problema: O Sr. Trump sequer hesitou em abandonar suas promessas de campanha, e foi com tudo para cima do corte de impostos dos ricos ao mesmo tempo em que barrava benefícios para os pobres.

Desde o começo, alguns especularam que isso seria uma aliança temporária. Republicanos do status quo usariam Trump para conseguir o que eles queriam, e então se voltariam contra ele. Agora está claro que isso não vai acontecer. O Sr. Trump superou as piores expectativas de todo mundo, e no entanto os republicanos, muito longe de cortá-lo fora, estão se agarrando com ainda mais firmeza ao destino dele.

Por quê?

A resposta, eu diria, é que eles estão presos. Eles sabidamente fizeram um pacto com o Diabo, e não podem voltar atrás agora.

Mais especificamente, a própria horripilância do Sr. Trump significa que, se ele fracassar, o partido inteiro vai para o buraco com ele. Os republicanos poderiam admissivelmente se distanciar de um presidente que se revelou um mau gestor, ou até mesmo de um que se descobriu que estava envolvido em corrupção de pequeno porte. Mas quando a corrupção é de grande porte, e além disso combinada com obstrução de justiça e colaboração com Vladimir Putin, ninguém vai notar quais republicanos estiveram um pouco menos envolvidos, ou que foram um tico menos subservientes que outros. Caso o Sr. Trump afunde, ele irá criar um vórtice que sugará para o fundo todos os envolvidos.

E assim, hoje nós temos o Partido Republicano como um todo inteiramente mancomunado com os crimes do Sr. Trump.

Porque isso é o que eles são, não importando se Trump e aqueles ao redor dele serão algum dia levados à Justiça.

O que isso significa, entre outras coisas, é que esperar que o Partido Republicano realize alguma supervisão ou restrição de qualquer forma a Trump é simplesmente tolo a essa altura do campeonato. Uma enorme derrota eleitoral – enorme o suficiente para esmagar a manipulação partidária de distritos e as outras vantagens estruturais da direita – é a única saída.

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