O Nobel de economia e o papel imperfeito da racionalidade
Como a grande maioria dos economistas, eu fiquei encantado ao ver Richard H. Thaler levar o Prêmio Nobel de Economia deste ano. Qualquer um com um pouco de noção – um grupo que, acredite ou não, inclui muitos economistas – sabe que as pessoas não são perfeitamente racionais. Mas a presunção da hiperracionalidade ainda desempenha […]
Da Redação
Publicado em 16 de outubro de 2017 às 19h55.
Como a grande maioria dos economistas, eu fiquei encantado ao ver Richard H. Thaler levar o Prêmio Nobel de Economia deste ano. Qualquer um com um pouco de noção – um grupo que, acredite ou não, inclui muitos economistas – sabe que as pessoas não são perfeitamente racionais. Mas a presunção da hiperracionalidade ainda desempenha um papel um tanto grande nos campos. E o Sr. Thaler não só documentou desvios da racionalidade como mostrou que há padrões consistentes e usáveis nesses desvios.
A dúvida, entretanto, é quanta diferença isso deveria fazer na prática da economia. E aqui você tem uma divisão entre dois campos. Um diz que a racionalidade imperfeita muda tudo: o outro, que a presunção de racionalidade ainda é o melhor jeito de se jogar o jogo que há, ou que no mínimo ela define um parâmetro a partir do qual descolagens da norma precisam ser justificadas em profundidade.
Qual campo está certo? Minha opinião: depende do campo, por razões que não estão totalmente claras para mim. Permitam-me discutir dois campos com os quais eu tenho razoável familiaridade: o da macroeconomia, que eu considero conhecer bastante bem, e os de finanças, sobre o qual eu estou muito menos informado no geral mas estou bastante familiar com no mínimo algumas áreas internacionais. O que me chama a atenção é que a lógica vagamente thaleriana é amplamente importante em um campo, e não tanto no outro.
Permitam-me detalhar duas propostas derivadas da ideia de que as pessoas são perfeitamente racionais:
1.Investidores racionais irão reunir todas as informações disponíveis no preço dos ativos, de modo que movimentações nesses preços serão conduzidas somente por eventos não-antecipados; isto é, elas vão seguir um caminho aleatório, sem padrões que você possa explorar para obter lucro.
2.Formadores de preços e salários racionais levarão em consideração toda a informação disponível ao definir o preço do trabalho e dos bens, o que pressupõe que choques de demanda terão efeitos reais somente se eles não forem antecipados – em particular, que a política monetária só “funciona” se for uma surpresa, e não pode desempenhar um papel estabilizador.
Ora, a primeira proposta é basicamente a teoria dos mercados eficientes, que nós sabemos que está errada nos detalhes; há uma série de anomalias. Em finanças internacionais, por exemplo, existe o bastante conhecido e pouco abordado quebra-cabeças da paridade da taxa de juros: Diferenças em taxas de juro nacionais deveriam ser indicadores não enviesados de mudanças futuras nas taxas cambiais, mas de fato se revelam como algo sem poder premonitório algum. Além disso, qualquer um que acreditou que a racionalidade dos investidores evitou a possibilidade de uma fixação errada dos preços que foi enorme e óbvia não teve uma década boa.
No entanto, a proposição mais ampla de que os movimentos nos preços dos ativos são imprevisíveis, de que os padrões são sutis, instáveis e difíceis para ganhar dinheiro, parece estar certa. Como um todo, me parece que levar em conta as implicações do comportamento racional tem feito mais bem do que mal ao campo das finanças.
E quanto à segunda proposta? Foi aí que o economista Robert Lucas apareceu: tentando normalizar os fatos observados no ciclo de negócios com um comportamento perfeitamente racional diante da informação imperfeita. Esta abordagem teve um grande impacto na prática da macroeconomia, pelo menos na macroeconomia acadêmica. Porém, a essa altura nós podemos dizer com segurança que ela levou o campo inteiro pro buraco. Fixar salários e preços não reflete a melhor informação disponível sobre as políticas monetárias futuras.
Ou seja, a racionalidade é uma mentira. Porém, em algumas áreas da economia ela parece uma espécie de mentira branda, útil como um modo de pensar desde que você mantenha um pé firmemente atrás. Em outras áreas, contudo, é simplesmente um desastre.
Como eu disse, eu posso imaginar alguns motivos. Nos mercados financeiros, os investidores espertos podem, dentro das limitações, arbitrar contra a irracionalidade dos outros. Não existe um equivalente a isso nos mercados de trabalho ou de bens (ou mesmo no comportamento do consumidor!). Mas, em geral, a validade desigual do pensamento comportamental é claramente – sem dúvida – tema para pesquisas futuras.
Como a grande maioria dos economistas, eu fiquei encantado ao ver Richard H. Thaler levar o Prêmio Nobel de Economia deste ano. Qualquer um com um pouco de noção – um grupo que, acredite ou não, inclui muitos economistas – sabe que as pessoas não são perfeitamente racionais. Mas a presunção da hiperracionalidade ainda desempenha um papel um tanto grande nos campos. E o Sr. Thaler não só documentou desvios da racionalidade como mostrou que há padrões consistentes e usáveis nesses desvios.
A dúvida, entretanto, é quanta diferença isso deveria fazer na prática da economia. E aqui você tem uma divisão entre dois campos. Um diz que a racionalidade imperfeita muda tudo: o outro, que a presunção de racionalidade ainda é o melhor jeito de se jogar o jogo que há, ou que no mínimo ela define um parâmetro a partir do qual descolagens da norma precisam ser justificadas em profundidade.
Qual campo está certo? Minha opinião: depende do campo, por razões que não estão totalmente claras para mim. Permitam-me discutir dois campos com os quais eu tenho razoável familiaridade: o da macroeconomia, que eu considero conhecer bastante bem, e os de finanças, sobre o qual eu estou muito menos informado no geral mas estou bastante familiar com no mínimo algumas áreas internacionais. O que me chama a atenção é que a lógica vagamente thaleriana é amplamente importante em um campo, e não tanto no outro.
Permitam-me detalhar duas propostas derivadas da ideia de que as pessoas são perfeitamente racionais:
1.Investidores racionais irão reunir todas as informações disponíveis no preço dos ativos, de modo que movimentações nesses preços serão conduzidas somente por eventos não-antecipados; isto é, elas vão seguir um caminho aleatório, sem padrões que você possa explorar para obter lucro.
2.Formadores de preços e salários racionais levarão em consideração toda a informação disponível ao definir o preço do trabalho e dos bens, o que pressupõe que choques de demanda terão efeitos reais somente se eles não forem antecipados – em particular, que a política monetária só “funciona” se for uma surpresa, e não pode desempenhar um papel estabilizador.
Ora, a primeira proposta é basicamente a teoria dos mercados eficientes, que nós sabemos que está errada nos detalhes; há uma série de anomalias. Em finanças internacionais, por exemplo, existe o bastante conhecido e pouco abordado quebra-cabeças da paridade da taxa de juros: Diferenças em taxas de juro nacionais deveriam ser indicadores não enviesados de mudanças futuras nas taxas cambiais, mas de fato se revelam como algo sem poder premonitório algum. Além disso, qualquer um que acreditou que a racionalidade dos investidores evitou a possibilidade de uma fixação errada dos preços que foi enorme e óbvia não teve uma década boa.
No entanto, a proposição mais ampla de que os movimentos nos preços dos ativos são imprevisíveis, de que os padrões são sutis, instáveis e difíceis para ganhar dinheiro, parece estar certa. Como um todo, me parece que levar em conta as implicações do comportamento racional tem feito mais bem do que mal ao campo das finanças.
E quanto à segunda proposta? Foi aí que o economista Robert Lucas apareceu: tentando normalizar os fatos observados no ciclo de negócios com um comportamento perfeitamente racional diante da informação imperfeita. Esta abordagem teve um grande impacto na prática da macroeconomia, pelo menos na macroeconomia acadêmica. Porém, a essa altura nós podemos dizer com segurança que ela levou o campo inteiro pro buraco. Fixar salários e preços não reflete a melhor informação disponível sobre as políticas monetárias futuras.
Ou seja, a racionalidade é uma mentira. Porém, em algumas áreas da economia ela parece uma espécie de mentira branda, útil como um modo de pensar desde que você mantenha um pé firmemente atrás. Em outras áreas, contudo, é simplesmente um desastre.
Como eu disse, eu posso imaginar alguns motivos. Nos mercados financeiros, os investidores espertos podem, dentro das limitações, arbitrar contra a irracionalidade dos outros. Não existe um equivalente a isso nos mercados de trabalho ou de bens (ou mesmo no comportamento do consumidor!). Mas, em geral, a validade desigual do pensamento comportamental é claramente – sem dúvida – tema para pesquisas futuras.