O comportamento fiscal dos conservadores não vai causar uma recessão
Republicanos agem irresponsavelmente, mas não causarão recessão nos Estados Unidos
Da Redação
Publicado em 22 de fevereiro de 2018 às 09h13.
Os republicanos pregavam austeridade fiscal quando a economia americana precisava de estímulos, e se voltaram para a extravagância fiscal agora que ela não precisa. Se isso te surpreende, ou você esteve completamente alheio à realidade do Partido Republicano moderno ao longo da última década, ou você é um centrista reflexivo, o que é essencialmente a mesma coisa.
Mas quão ruim é a libertinagem fiscal? Não é boa: significa dívida maior, que por sua vez vai reduzir o espaço fiscal para responder à próxima crise. Também vai esvaziar o investimento, prejudicando o crescimento no longo prazo. Porém, eu tenho visto algumas pessoas sugerirem que os déficits crescentes vão afetar a economia no curto prazo, e talvez até causar uma recessão.
Será que vão?
Bem, por mais que eu goste de acreditar nesta hipótese por razões políticas, ela não faz sentido. Os mesmos analistas que nos disseram que a austeridade era uma coisa ruim, nas profundezas da recessão, dizem que as despesas públicas agora não vão causar uma contração. Os casos não são simétricos; este déficit vai trazer muito menos benefícios do que a austeridade causou prejuízos. Mas, ainda assim, nós devemos ser consistentes.
Lembrem-se, o efeito direto da política fiscal é mudar o gasto geral na economia: Uma expansão fiscal significa mais gastos; uma contração fiscal significa menos gastos. Quando a economia está deprimida, como ela esteve durante anos após a crise econômica de 2008, o número de empregos é contido pelo nível geral de gastos. E, porque o Federal Reserve tinha uma influência limitada – as taxas de juro de curto prazo, que o Fed controla, já estavam em zero -, a contração fiscal se traduziu em grandes perdas de postos de trabalho.
É verdade que os defensores da austeridade tentaram dizer o contrário. Durante algum tempo, um bocado de legisladores aderiu à doutrina da “austeridade expansionista”, na qual cortar gastos públicos em uma economia deprimida de algum modo nos conduziria a uma grande alta nas despesas privadas. Mas essa doutrina, como eu escrevi em 2010, dependia da crença na “fada da confiança”, a crença de que de alguma maneira os consumidores e investidores estariam tão confiantes da disposição do governo em causar dor que a economia iria disparar.
Não foi assim que aconteceu: A austeridade prejudicou as economias tanto quanto os keynesianos disseram que prejudicaria.
Porém, se nós não acreditássemos que a fada da confiança vinha nos resgatar naquela ocasião, nós não deveríamos crer que ela irá nos abandonar agora. O que o Partido Republicano tem feito é enormemente irresponsável, mas não esperem que isso cause algum efeito significativo nos gastos do setor privado.
E quanto às taxas de juros? Será que este estímulo indesejado vai elevá-las? Sim, um pouco, mas é importante entender o porquê.
Como eu disse, o Fed estabelece taxas de juros de curto prazo, e as taxas de juros de longo prazo são em grande parte guiadas pelas expectativas sobre as futuras taxas de juros de longo prazo – isto é, pelas expectativas sobre a política futura do Fed.
Assim, por que o estouro do déficit vai fazer com que o Fed eleve as taxas? Precisamente porque ele tenderá a fazer a economia crescer mais depressa no curto prazo, aumentando o risco percebido de inflação, e o Fed vai aumentar as taxas para prevenir esse risco. Você pode pensar que o Fed está excessivamente preocupado neste flanco, mas é assim que vai funcionar.
E isso quer dizer que você não deveria se preocupar com as taxas de juro maiores causando uma recessão – as taxas estarão subindo apenas até onde o Fed acreditar que este estouro fiscal vai provocar uma expansão econômica.
Claro, o papel do Fed vai limitar os efeitos expansionistas do déficit. O Fed não podia compensar os efeitos das políticas de austeridade entre 2010 e 2013 cortando taxas, mas ele pode e vai compensar os efeitos de estímulos indesejados agora aumentando as taxas. Contudo, ele vai limitar o alcance do efeito expansionista, e não transformá-lo em uma contração.
Só existe uma pequena carta na manga aqui: Se acontecesse uma bolha nos preços dos ativos, as perspectivas de alta nos juros pelo Fed poderiam ser o alfinete que fura a bolha.
Mas nós não temos certeza disso, e mesmo que este seja o caso, a bolha estouraria eventualmente de qualquer forma.
Conclusão: O comportamento fiscal do Partido Republicano tem sido hipócrita, irresponsável e deplorável. Mas não vai causar uma recessão.
Os republicanos pregavam austeridade fiscal quando a economia americana precisava de estímulos, e se voltaram para a extravagância fiscal agora que ela não precisa. Se isso te surpreende, ou você esteve completamente alheio à realidade do Partido Republicano moderno ao longo da última década, ou você é um centrista reflexivo, o que é essencialmente a mesma coisa.
Mas quão ruim é a libertinagem fiscal? Não é boa: significa dívida maior, que por sua vez vai reduzir o espaço fiscal para responder à próxima crise. Também vai esvaziar o investimento, prejudicando o crescimento no longo prazo. Porém, eu tenho visto algumas pessoas sugerirem que os déficits crescentes vão afetar a economia no curto prazo, e talvez até causar uma recessão.
Será que vão?
Bem, por mais que eu goste de acreditar nesta hipótese por razões políticas, ela não faz sentido. Os mesmos analistas que nos disseram que a austeridade era uma coisa ruim, nas profundezas da recessão, dizem que as despesas públicas agora não vão causar uma contração. Os casos não são simétricos; este déficit vai trazer muito menos benefícios do que a austeridade causou prejuízos. Mas, ainda assim, nós devemos ser consistentes.
Lembrem-se, o efeito direto da política fiscal é mudar o gasto geral na economia: Uma expansão fiscal significa mais gastos; uma contração fiscal significa menos gastos. Quando a economia está deprimida, como ela esteve durante anos após a crise econômica de 2008, o número de empregos é contido pelo nível geral de gastos. E, porque o Federal Reserve tinha uma influência limitada – as taxas de juro de curto prazo, que o Fed controla, já estavam em zero -, a contração fiscal se traduziu em grandes perdas de postos de trabalho.
É verdade que os defensores da austeridade tentaram dizer o contrário. Durante algum tempo, um bocado de legisladores aderiu à doutrina da “austeridade expansionista”, na qual cortar gastos públicos em uma economia deprimida de algum modo nos conduziria a uma grande alta nas despesas privadas. Mas essa doutrina, como eu escrevi em 2010, dependia da crença na “fada da confiança”, a crença de que de alguma maneira os consumidores e investidores estariam tão confiantes da disposição do governo em causar dor que a economia iria disparar.
Não foi assim que aconteceu: A austeridade prejudicou as economias tanto quanto os keynesianos disseram que prejudicaria.
Porém, se nós não acreditássemos que a fada da confiança vinha nos resgatar naquela ocasião, nós não deveríamos crer que ela irá nos abandonar agora. O que o Partido Republicano tem feito é enormemente irresponsável, mas não esperem que isso cause algum efeito significativo nos gastos do setor privado.
E quanto às taxas de juros? Será que este estímulo indesejado vai elevá-las? Sim, um pouco, mas é importante entender o porquê.
Como eu disse, o Fed estabelece taxas de juros de curto prazo, e as taxas de juros de longo prazo são em grande parte guiadas pelas expectativas sobre as futuras taxas de juros de longo prazo – isto é, pelas expectativas sobre a política futura do Fed.
Assim, por que o estouro do déficit vai fazer com que o Fed eleve as taxas? Precisamente porque ele tenderá a fazer a economia crescer mais depressa no curto prazo, aumentando o risco percebido de inflação, e o Fed vai aumentar as taxas para prevenir esse risco. Você pode pensar que o Fed está excessivamente preocupado neste flanco, mas é assim que vai funcionar.
E isso quer dizer que você não deveria se preocupar com as taxas de juro maiores causando uma recessão – as taxas estarão subindo apenas até onde o Fed acreditar que este estouro fiscal vai provocar uma expansão econômica.
Claro, o papel do Fed vai limitar os efeitos expansionistas do déficit. O Fed não podia compensar os efeitos das políticas de austeridade entre 2010 e 2013 cortando taxas, mas ele pode e vai compensar os efeitos de estímulos indesejados agora aumentando as taxas. Contudo, ele vai limitar o alcance do efeito expansionista, e não transformá-lo em uma contração.
Só existe uma pequena carta na manga aqui: Se acontecesse uma bolha nos preços dos ativos, as perspectivas de alta nos juros pelo Fed poderiam ser o alfinete que fura a bolha.
Mas nós não temos certeza disso, e mesmo que este seja o caso, a bolha estouraria eventualmente de qualquer forma.
Conclusão: O comportamento fiscal do Partido Republicano tem sido hipócrita, irresponsável e deplorável. Mas não vai causar uma recessão.