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Economistas que estavam errados sobre a inflação continuam a prosperar

Economistas erram previsões mas muitas vezes não admitem erros

ECONOMIA: previsões sobre inflações muitas vezes são equivocadas e economistas não são afetados / Gary Cameron/File Photo/ Reuters
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Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2018 às 12h17.

Os anos imediatamente depois da crise econômica de 2008 foram uma era de ouro da inflação “burra”, em muitos sentidos.

Havia os tipos hidrofóbicos como Glenn Beck/Ron Paul, que previam que a hiperinflação espreitava na próxima esquina. Mas também havia os aparentemente respeitáveis “especialistas” monetários, de Alan Greenspan a Allan Meltzer a John Taylor, que continuaram a prever inflação alta causada por déficits e flexibilização quantitativa.

Não é difícil entender por que eles estavam prevendo inflação: Houve um grande aumento na base monetária (moeda corrente mais reservas bancárias), o que você imaginaria que causasse um bocado de inflação, a menos, isto é, que você compreendesse que o jogo muda quando as taxas de juros estão próximas de zero, e caso você tivesse estudado a experiência do Japão.

Claro, alguns poucos economistas efetivamente entenderam tudo isso: Ben Bernanke, Olivier Blanchard e este que vos escreve, entre outros. Além disso, nós previmos corretamente que a alta maciça na base monetária não teria efeitos distinguíveis na inflação.

De modo que alguns economistas entenderam errado. Isso acontece com todo mundo, a menos que a pessoa seja covarde o bastante para fazer uma previsão testável que seja. Porém, o que se espera que você faça quando as coisas não saem do jeito que você previu é (a)admitir o erro (b)tentar entender o que deu errado e (c)revisar seu enquadramento para tentar evitar cometer o mesmo erro de novo. Creio que eu posso dizer honestamente que tenho seguido essas regras.

O que é marcante nos economistas que previram uma inflação descontrolada entre 2009 e 2011 é que, até onde eu posso dizer, nenhum deles chegou perto sequer do passo (a). Eles continuaram a dizer as mesmas coisas erradas ano após ano (que é o que torna a coisa toda burra), e mesmo aqueles que eventualmente pararam jamais admitiram erros passados.

Assim, quando a Bloomberg News tentou, há quatro anos, ir atrás dos economistas que haviam assinado a famigerada carta aberta ao Sr. Bernanke, o ex-chairman do Federal Reserve, documento que insistia que a flexbilização quantitativa iria “depreciar o dólar”, a agência não conseguiu encontrar uma única pessoa que admitisse que o aviso original estava errado.

O que explica a persistência da burrice irredutível e antiprofissional? Certamente, ao menos uma parte é política: Prever o apocalipse como resultado da impressão de dinheiro certamente agrada forças poderosas à direita, e é efetivamente uma espécie de credencial que assegura regalias, não importa quão errada esteja a previsão. E vamos encarar: A profissão econômica é essencialmente obcecada com estas questões. Não há custos para comportamento antiprofissional à serviço da ideologia de direita; você continuará a ser convidado para todos os encontros, ainda será tratado com respeito, e vai até mesmo receber cartas de colegas liberais e moderados apoiando sua indicação para um alto cargo.

E é assim que hoje nós temos Marvin Goodfriend, indicado à diretoria do Fed, simplesmente se recusando a responder perguntas sobre por que ele pensava que a inflação estivesse à beira da explosão, e que reduzir o desemprego era impossível. Segundo um artigo recente do New York Times: “Depois da crise, o Sr. Goodfriend repetidamente criticou a campanha de estímulos do Fed como capaz de gerar inflação em vez de um revival econômico. Ele disse em 2012 à Bloomberg que estava ‘realmente com dúvidas’ sobre se o Fed conseguiria reduzir o desemprego, que à ocasião pairava acima de 8%, para 7%. Além disso, afirmou ele, mesmo se o Fed for bem-sucedido em fazê-lo, ‘isso abriria o caminho para uma inflação crescente nos próximos anos, o que seria desastroso para a economia.’”

A burrice inflacionária persiste. Na verdade, ela é boa para sua carreira.

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Os anos imediatamente depois da crise econômica de 2008 foram uma era de ouro da inflação “burra”, em muitos sentidos.

Havia os tipos hidrofóbicos como Glenn Beck/Ron Paul, que previam que a hiperinflação espreitava na próxima esquina. Mas também havia os aparentemente respeitáveis “especialistas” monetários, de Alan Greenspan a Allan Meltzer a John Taylor, que continuaram a prever inflação alta causada por déficits e flexibilização quantitativa.

Não é difícil entender por que eles estavam prevendo inflação: Houve um grande aumento na base monetária (moeda corrente mais reservas bancárias), o que você imaginaria que causasse um bocado de inflação, a menos, isto é, que você compreendesse que o jogo muda quando as taxas de juros estão próximas de zero, e caso você tivesse estudado a experiência do Japão.

Claro, alguns poucos economistas efetivamente entenderam tudo isso: Ben Bernanke, Olivier Blanchard e este que vos escreve, entre outros. Além disso, nós previmos corretamente que a alta maciça na base monetária não teria efeitos distinguíveis na inflação.

De modo que alguns economistas entenderam errado. Isso acontece com todo mundo, a menos que a pessoa seja covarde o bastante para fazer uma previsão testável que seja. Porém, o que se espera que você faça quando as coisas não saem do jeito que você previu é (a)admitir o erro (b)tentar entender o que deu errado e (c)revisar seu enquadramento para tentar evitar cometer o mesmo erro de novo. Creio que eu posso dizer honestamente que tenho seguido essas regras.

O que é marcante nos economistas que previram uma inflação descontrolada entre 2009 e 2011 é que, até onde eu posso dizer, nenhum deles chegou perto sequer do passo (a). Eles continuaram a dizer as mesmas coisas erradas ano após ano (que é o que torna a coisa toda burra), e mesmo aqueles que eventualmente pararam jamais admitiram erros passados.

Assim, quando a Bloomberg News tentou, há quatro anos, ir atrás dos economistas que haviam assinado a famigerada carta aberta ao Sr. Bernanke, o ex-chairman do Federal Reserve, documento que insistia que a flexbilização quantitativa iria “depreciar o dólar”, a agência não conseguiu encontrar uma única pessoa que admitisse que o aviso original estava errado.

O que explica a persistência da burrice irredutível e antiprofissional? Certamente, ao menos uma parte é política: Prever o apocalipse como resultado da impressão de dinheiro certamente agrada forças poderosas à direita, e é efetivamente uma espécie de credencial que assegura regalias, não importa quão errada esteja a previsão. E vamos encarar: A profissão econômica é essencialmente obcecada com estas questões. Não há custos para comportamento antiprofissional à serviço da ideologia de direita; você continuará a ser convidado para todos os encontros, ainda será tratado com respeito, e vai até mesmo receber cartas de colegas liberais e moderados apoiando sua indicação para um alto cargo.

E é assim que hoje nós temos Marvin Goodfriend, indicado à diretoria do Fed, simplesmente se recusando a responder perguntas sobre por que ele pensava que a inflação estivesse à beira da explosão, e que reduzir o desemprego era impossível. Segundo um artigo recente do New York Times: “Depois da crise, o Sr. Goodfriend repetidamente criticou a campanha de estímulos do Fed como capaz de gerar inflação em vez de um revival econômico. Ele disse em 2012 à Bloomberg que estava ‘realmente com dúvidas’ sobre se o Fed conseguiria reduzir o desemprego, que à ocasião pairava acima de 8%, para 7%. Além disso, afirmou ele, mesmo se o Fed for bem-sucedido em fazê-lo, ‘isso abriria o caminho para uma inflação crescente nos próximos anos, o que seria desastroso para a economia.’”

A burrice inflacionária persiste. Na verdade, ela é boa para sua carreira.

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