Ataques com mísseis não são política
Alguém ainda se lembra do acordo com a Carrier? Lá atrás, em dezembro, o presidente eleito Donald Trump anunciou, triunfantemente, que ele havia chegado a um acordo com a fabricante de equipamentos de ar-condicionado para manter 1.100 empregos na América em vez de realocá-los para o México. E a imprensa passou dias comemorando o feito. […]
Da Redação
Publicado em 4 de maio de 2017 às 18h04.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h23.
Alguém ainda se lembra do acordo com a Carrier? Lá atrás, em dezembro, o presidente eleito Donald Trump anunciou, triunfantemente, que ele havia chegado a um acordo com a fabricante de equipamentos de ar-condicionado para manter 1.100 empregos na América em vez de realocá-los para o México. E a imprensa passou dias comemorando o feito.
Na verdade, o número de empregos envolvidos estava mais perto da casa dos 700, mas quem está contando? Aproximadamente 75 mil trabalhadores são dispensados ou demitidos a cada dia de trabalho nos Estados Unidos, de modo que algumas poucas centenas aqui ou ali dificilmente fazem diferença no quadro geral.
O que quer que seja que o Sr. Trump conseguiu ou não conseguiu com a Carrier, a verdadeira pergunta é se ele daria os passos para fazer uma diferença duradoura.
Até agora, ele não deu; não há sequer um vago esboço de uma genuína política trumpista de empregos.
Além disso, as empresas e investidores parecem ter decidido que o acordo com a Carrier era só show sem substância, e que apesar de toda sua retórica protecionista o Sr. Trump é na prática um tigre de papel. Depois de uma breve interrupção, a movimentação contínua da manufatura para o México foi retomada, enquanto o peso mexicano, cujo valor é um barômetro da política comercial esperada da América, recuperou quase todas as suas perdas pós-novembro.
Em outras palavras, ações exibicionistas que rendam um ou dois dias de manchetes não são um substituto para políticas de verdade, coerentes. De fato, seu maior efeito no longo prazo pode ser o de desperdiçar a credibilidade de um governo. O que nos traz ao ataque com mísseis à Síria no começo deste mês.
O ataque mudou instantaneamente a cobertura da imprensa sobre o governo Trump. De repente histórias sobre brigas internas e disfunção deram lugar a manchetes escandalosas sobre a dureza do presidente e imagens de lançamentos de Tomahawks.
Entretanto, fora do efeito que ele teve no noticiário, quanto o ataque efetivamente obteve? Poucas horas após a investida, aviões de guerra sírios estavam decolando do mesmo campo aéreo, e os ataques continuaram na cidade em que o uso de gás venenosos fez com que o Sr. Trump tomasse uma atitude. Sem dúvida as forças de Assad tiveram algumas perdas reais, mas não há razão para acreditar que uma ação isolada terá algum resultado na trajetória da guerra civil da Síria.
De fato, se a ação da última semana foi o fim da história, o efeito eventual pode muito bem ter sido o de fortalecer o regime Assad – Veja, eles encararam uma superpotência! – e enfraquecer a credibilidade americana. Para obter qualquer tipo de resultado duradouro, o Sr. Trump teria de se envolver com uma regularidade sustentável na Síria.
Fazendo o que, você pergunta? Bom, essa é a grande dúvida – e a falta de boas respostas para essa questão é o motivo pelo qual o presidente Barack Obama decidiu não começar algo que ninguém sabia como terminar.
Ou seja, o que nós descobrimos com o ataque à Síria e as consequências dele?
Não, nós não descobrimos que o Sr. Trump é um líder de fato. Ordenar que os militares disparem alguns mísseis é fácil. Fazê-lo de uma maneira que efetivamente sirva aos interesses americanos é a parte difícil, e nós não vimos nenhuma indicação que fosse de que o Sr. Trump e seus assessores descobriram o que fazer quanto a essa parte.
Na verdade, o que nós sabemos do processo de tomada de decisões é qualquer coisa menos reconfortante. Há meros dias do ataque, o governo Trump parecia estar sinalizando uma falta de interesse em uma mudança de regime na Síria.
O que mudou? As imagens de vítimas de gás venenoso foram horríveis, mas a Síria tem sido uma história de horror inacreditável há anos. Será que o Sr. Trump está tomando decisões de vida e morte envolvendo a segurança nacional com base na cobertura da TV?
Uma coisa é certa: A reação da imprensa ao ataque à Síria mostrou que muitos especialistas e organizações de mídia não aprenderam nada com os fiascos passados.
O Sr. Trump pode gostar de dizer que a mídia é enviesada contra ele, mas a verdade é que ela se se dobrou como pôde a favor dele. Ela querem parecer equilibrados, mesmo quando não há equilíbrio; ela tem estado desesperada por desculpas para ignorar as circunstâncias dúbias de sua eleição e de seu comportamento errático no gabinete, e para começar a tratá-lo como um presidente normal.
Você talvez se recorde de como os especialistas disseram com entusiasmo que o Sr. Trump “se tornou o presidente dos Estados Unidos hoje” porque ele conseguiu o feito de ler um discurso de um teleprompter sem fugir do script. Depois disso, ele voltou a tuitar.
Alguém teria imaginado que a experiência serviria de lição. Mas não: Os Estados Unidos dispararam alguns mísseis, e mais uma vez o Sr. Trump “se tornou o presidente”. À parte todo o resto, pense nos incentivos que isso gera. O governo Trump agora entende que ele consegue afastar reportagens sobre seus escândalos e fracassos bombardeando alguém.
Então, aqui vai uma dica: Liderança de verdade significa criar e levar adiante políticas sustentáveis que tornem o mundo um lugar melhor. Truques para ganhar publicidade podem render alguns dias de cobertura favorável na imprensa, mas eles acabam fazendo a América mais fraca, e não mais forte, porque mostram ao mundo que nós temos um governo que não consegue promover continuidade.
E alguém viu um sinal, qualquer um, de que o Sr. Trump esteja pronto para exibir uma verdadeira liderança dessa natureza? Eu não.
Alguém ainda se lembra do acordo com a Carrier? Lá atrás, em dezembro, o presidente eleito Donald Trump anunciou, triunfantemente, que ele havia chegado a um acordo com a fabricante de equipamentos de ar-condicionado para manter 1.100 empregos na América em vez de realocá-los para o México. E a imprensa passou dias comemorando o feito.
Na verdade, o número de empregos envolvidos estava mais perto da casa dos 700, mas quem está contando? Aproximadamente 75 mil trabalhadores são dispensados ou demitidos a cada dia de trabalho nos Estados Unidos, de modo que algumas poucas centenas aqui ou ali dificilmente fazem diferença no quadro geral.
O que quer que seja que o Sr. Trump conseguiu ou não conseguiu com a Carrier, a verdadeira pergunta é se ele daria os passos para fazer uma diferença duradoura.
Até agora, ele não deu; não há sequer um vago esboço de uma genuína política trumpista de empregos.
Além disso, as empresas e investidores parecem ter decidido que o acordo com a Carrier era só show sem substância, e que apesar de toda sua retórica protecionista o Sr. Trump é na prática um tigre de papel. Depois de uma breve interrupção, a movimentação contínua da manufatura para o México foi retomada, enquanto o peso mexicano, cujo valor é um barômetro da política comercial esperada da América, recuperou quase todas as suas perdas pós-novembro.
Em outras palavras, ações exibicionistas que rendam um ou dois dias de manchetes não são um substituto para políticas de verdade, coerentes. De fato, seu maior efeito no longo prazo pode ser o de desperdiçar a credibilidade de um governo. O que nos traz ao ataque com mísseis à Síria no começo deste mês.
O ataque mudou instantaneamente a cobertura da imprensa sobre o governo Trump. De repente histórias sobre brigas internas e disfunção deram lugar a manchetes escandalosas sobre a dureza do presidente e imagens de lançamentos de Tomahawks.
Entretanto, fora do efeito que ele teve no noticiário, quanto o ataque efetivamente obteve? Poucas horas após a investida, aviões de guerra sírios estavam decolando do mesmo campo aéreo, e os ataques continuaram na cidade em que o uso de gás venenosos fez com que o Sr. Trump tomasse uma atitude. Sem dúvida as forças de Assad tiveram algumas perdas reais, mas não há razão para acreditar que uma ação isolada terá algum resultado na trajetória da guerra civil da Síria.
De fato, se a ação da última semana foi o fim da história, o efeito eventual pode muito bem ter sido o de fortalecer o regime Assad – Veja, eles encararam uma superpotência! – e enfraquecer a credibilidade americana. Para obter qualquer tipo de resultado duradouro, o Sr. Trump teria de se envolver com uma regularidade sustentável na Síria.
Fazendo o que, você pergunta? Bom, essa é a grande dúvida – e a falta de boas respostas para essa questão é o motivo pelo qual o presidente Barack Obama decidiu não começar algo que ninguém sabia como terminar.
Ou seja, o que nós descobrimos com o ataque à Síria e as consequências dele?
Não, nós não descobrimos que o Sr. Trump é um líder de fato. Ordenar que os militares disparem alguns mísseis é fácil. Fazê-lo de uma maneira que efetivamente sirva aos interesses americanos é a parte difícil, e nós não vimos nenhuma indicação que fosse de que o Sr. Trump e seus assessores descobriram o que fazer quanto a essa parte.
Na verdade, o que nós sabemos do processo de tomada de decisões é qualquer coisa menos reconfortante. Há meros dias do ataque, o governo Trump parecia estar sinalizando uma falta de interesse em uma mudança de regime na Síria.
O que mudou? As imagens de vítimas de gás venenoso foram horríveis, mas a Síria tem sido uma história de horror inacreditável há anos. Será que o Sr. Trump está tomando decisões de vida e morte envolvendo a segurança nacional com base na cobertura da TV?
Uma coisa é certa: A reação da imprensa ao ataque à Síria mostrou que muitos especialistas e organizações de mídia não aprenderam nada com os fiascos passados.
O Sr. Trump pode gostar de dizer que a mídia é enviesada contra ele, mas a verdade é que ela se se dobrou como pôde a favor dele. Ela querem parecer equilibrados, mesmo quando não há equilíbrio; ela tem estado desesperada por desculpas para ignorar as circunstâncias dúbias de sua eleição e de seu comportamento errático no gabinete, e para começar a tratá-lo como um presidente normal.
Você talvez se recorde de como os especialistas disseram com entusiasmo que o Sr. Trump “se tornou o presidente dos Estados Unidos hoje” porque ele conseguiu o feito de ler um discurso de um teleprompter sem fugir do script. Depois disso, ele voltou a tuitar.
Alguém teria imaginado que a experiência serviria de lição. Mas não: Os Estados Unidos dispararam alguns mísseis, e mais uma vez o Sr. Trump “se tornou o presidente”. À parte todo o resto, pense nos incentivos que isso gera. O governo Trump agora entende que ele consegue afastar reportagens sobre seus escândalos e fracassos bombardeando alguém.
Então, aqui vai uma dica: Liderança de verdade significa criar e levar adiante políticas sustentáveis que tornem o mundo um lugar melhor. Truques para ganhar publicidade podem render alguns dias de cobertura favorável na imprensa, mas eles acabam fazendo a América mais fraca, e não mais forte, porque mostram ao mundo que nós temos um governo que não consegue promover continuidade.
E alguém viu um sinal, qualquer um, de que o Sr. Trump esteja pronto para exibir uma verdadeira liderança dessa natureza? Eu não.