A Grande Recessão continua a segurar aumentos de salário?
A debilidade econômica prolongada que sucedeu a crise financeira está lançando sombra sobre os mercados de trabalho nos Estados Unidos
Da Redação
Publicado em 17 de maio de 2018 às 13h07.
O título deste post é uma questão real, e não retórica. Eu tenho uma teoria que pode ou não ser verdadeira, e estou lançando ela aqui para ampliar a discussão.
Comecemos com o quebra-cabeça: o índice de desemprego nos Estados Unidos hoje é bastante baixo para os parâmetros históricos. De fato, ele recuou aos níveis de 2002; aquele foi o período em que o emprego era tão pleno que as pessoas costumavam fazer piada com o “teste do espelho” para o mercado de trabalho: se a sua respiração deixasse um espelho embaçado, ou seja, se você estivesse vivo, você estaria contratado.
(Desculpem, zumbis.) Ainda assim, o crescimento dos salários permanece comedido, muito abaixo dos níveis pré-crise.
O que está acontecendo?
Uma resposta é que o índice oficial de desemprego é errôneo como um indicador do abrandamento econômico, ou de que mudanças estruturais tenham alterado a Curva de Phillips. Isto pode ser verdade, mas há várias histórias sobre empresas reclamando que não conseguem encontrar trabalhadores. Se é assim, por que elas simplesmente não aumentam os salários?
Eis uma hipótese: em parte, tem a ver com uma rigidez nominal descendente dos salários. A ideia de que as empresas são muito hesitantes em cortar salários vem de longa data, por uma razão muito boa: é verdade. Esta verdade tem sido óbvia para muitos observadores. Empregadores acreditam que cortes reais de salários – o que é diferente, digamos, de deixar que os salários reais sejam corroídos pela inflação – são desmoralizantes e considerados injustos. Assim, tende a haver um limite inferior zero nas mudanças salariais, a não ser nos casos de desemprego muito alto.
Até a Grande Recessão, a maioria dos economistas acreditava que este obstáculo, do mesmo modo que o limite inferior zero nas taxas de juros, não fosse tão importante assim na prática. Contudo, durante a recessão e seu rescaldo, a rigidez nominal descendente dos salários se tornou obrigatória para grande parte da força de trabalho.
Mas isso só explica por que as empresas não cortaram salários quando o desemprego estava alto. Como isso explica por que elas não vão aumentar os salários agora que o desemprego está baixo novamente?
Ok, aí vai minha teoria sobre salários. O que os empregadores descobriram durante a grande quebra é que você não pode cortar salários nem mesmo quando as pessoas estão desesperadas por trabalho; eles também aprenderam que longos períodos nos quais você cortaria salários se pudesse são mais prováveis do que eles tinham imaginado. Isso os torna relutantes em conceder aumentos salariais mesmo nos bons tempos, porque eles sabem que ficarão presos a esses salários caso a economia volte a piorar.
Esta hipótese também explica outra coisa que também tem me intrigado: anedotas generalizadas sobre empregadores tentando atrair funcionários com bônus de assinatura em vez de salários maiores. Um bônus de assinatura é um custo pontual; um salário maior, hoje nós sabemos, é mais ou menos para sempre.
Se existe um fundo de verdade nesta história, a debilidade econômica prolongada que sucedeu a crise financeira ainda está lançando sombra sobre os mercados de trabalho, apesar do desemprego baixo atual.
O título deste post é uma questão real, e não retórica. Eu tenho uma teoria que pode ou não ser verdadeira, e estou lançando ela aqui para ampliar a discussão.
Comecemos com o quebra-cabeça: o índice de desemprego nos Estados Unidos hoje é bastante baixo para os parâmetros históricos. De fato, ele recuou aos níveis de 2002; aquele foi o período em que o emprego era tão pleno que as pessoas costumavam fazer piada com o “teste do espelho” para o mercado de trabalho: se a sua respiração deixasse um espelho embaçado, ou seja, se você estivesse vivo, você estaria contratado.
(Desculpem, zumbis.) Ainda assim, o crescimento dos salários permanece comedido, muito abaixo dos níveis pré-crise.
O que está acontecendo?
Uma resposta é que o índice oficial de desemprego é errôneo como um indicador do abrandamento econômico, ou de que mudanças estruturais tenham alterado a Curva de Phillips. Isto pode ser verdade, mas há várias histórias sobre empresas reclamando que não conseguem encontrar trabalhadores. Se é assim, por que elas simplesmente não aumentam os salários?
Eis uma hipótese: em parte, tem a ver com uma rigidez nominal descendente dos salários. A ideia de que as empresas são muito hesitantes em cortar salários vem de longa data, por uma razão muito boa: é verdade. Esta verdade tem sido óbvia para muitos observadores. Empregadores acreditam que cortes reais de salários – o que é diferente, digamos, de deixar que os salários reais sejam corroídos pela inflação – são desmoralizantes e considerados injustos. Assim, tende a haver um limite inferior zero nas mudanças salariais, a não ser nos casos de desemprego muito alto.
Até a Grande Recessão, a maioria dos economistas acreditava que este obstáculo, do mesmo modo que o limite inferior zero nas taxas de juros, não fosse tão importante assim na prática. Contudo, durante a recessão e seu rescaldo, a rigidez nominal descendente dos salários se tornou obrigatória para grande parte da força de trabalho.
Mas isso só explica por que as empresas não cortaram salários quando o desemprego estava alto. Como isso explica por que elas não vão aumentar os salários agora que o desemprego está baixo novamente?
Ok, aí vai minha teoria sobre salários. O que os empregadores descobriram durante a grande quebra é que você não pode cortar salários nem mesmo quando as pessoas estão desesperadas por trabalho; eles também aprenderam que longos períodos nos quais você cortaria salários se pudesse são mais prováveis do que eles tinham imaginado. Isso os torna relutantes em conceder aumentos salariais mesmo nos bons tempos, porque eles sabem que ficarão presos a esses salários caso a economia volte a piorar.
Esta hipótese também explica outra coisa que também tem me intrigado: anedotas generalizadas sobre empregadores tentando atrair funcionários com bônus de assinatura em vez de salários maiores. Um bônus de assinatura é um custo pontual; um salário maior, hoje nós sabemos, é mais ou menos para sempre.
Se existe um fundo de verdade nesta história, a debilidade econômica prolongada que sucedeu a crise financeira ainda está lançando sombra sobre os mercados de trabalho, apesar do desemprego baixo atual.