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Quando se trata do futuro da economia, é de se esperar o inesperado

Após um 2023 com expressivas altas, o S&P 500 surpreendeu novamente e teve seu melhor primeiro trimestre desde 2019

Quando se trata do futuro da economia, é de se esperar o inesperado (WeAre/Getty Images)
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Panorama Econômico

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Publicado em 22 de abril de 2024 às 08h30.

Por Caio Athié Teruel*

Era início de 2023, os Estados Unidos, assim como grande parte do mundo, lidavam com uma inflação persistente pelo segundo ano consecutivo. O consenso entre os economistas era de um provável cenário de recessão. Uma pesquisa com especialistas conduzida pelo Wall Street Journal, ainda em janeiro, mostrou uma probabilidade de recessão de 61%.

O tempo passou e a previsão não se concretizou. Ao contrário do que se esperava, a economia americana surpreendeu e cresceu mais de 3% no ano, número bastante expressivo. A forte atividade econômica puxou o mercado acionário. O S&P 500, por exemplo, teve uma alta de 24% no ano, carregado pelas empresas de tecnologia.

Para muitos, entretanto, a performance que fez brilhar os olhos não soou como o início de uma sólida valorização, mas sim um motivo para cautela. O resultado expressivo em um ano duvidoso, somado à inflação ainda resiliente, levou gestores, economistas e analistas a adotar prudência em relação ao índice. Os resultados pareciam exagerados e havia dúvidas sobre seu embasamento. A concentração dos ganhos em poucas ações corroborava essa ideia.

Contudo, 2024 começou e a resiliência do S&P se manteve. O índice, que antes era puxado por poucos papeis, passou a ter uma alta mais bem distribuída e fechou o primeiro trimestre do ano com mais 10% de alta. Para os investidores bem informados que, cientes dos alertas feitos por especialistas, ajustaram suas alocações, os resultados expressivos do S&P 500 se tornaram uma oportunidade perdida.

Vale ressaltar que eventos como os mencionados acima mais se parecem com a regra do que com a exceção e validam uma característica marcante dos mercados: probabilidades não são certezas.

Dificilmente será possível determinar o futuro econômico com a mesma precisão com que se determinam os resultados em um experimento científico controlado. Felizmente, para se atingir uma boa rentabilidade, não é preciso esse nível de exatidão. A busca por certezas no mercado acaba sendo, para muitos investidores, seu calcanhar de Aquiles.

Robert Mercer, antigo CEO da Renaissance Technologies, supostamente revelou a um amigo que o fundo Medallion, famoso pelos seus retornos significativos, possuía uma taxa de acerto de apenas 50,75% em seu modelo.

Em meio ao caos dos eventos econômicos, resta para o investidor a certeza de que acontecerão surpresas ao longo do caminho. Certeza, essa, que pode servir como estímulo para um investimento que considera não somente os cenários esperados ou prováveis, mas também os improváveis.

Ao levar em conta todos os cenários possíveis, construir um portfólio se torna algo mais parecido com uma balança do que com uma prova de tiro ao alvo. Uma alocação equilibrada não apenas ajuda a mitigar o risco de concentração em ativos específicos, mas também permite que os investidores aproveitem as oportunidades de crescimento enquanto protegem seus investimentos contra possíveis reversões de mercado.

A recente reviravolta do S&P 500 serve como um lembrete vívido da volatilidade inerente aos mercados financeiros e da importância de uma gestão de portfólio baseada em uma análise cuidadosa e adaptável das condições macroeconômicas. Esse gerenciamento consiste no trabalho de macro alocação, que busca equilibrar os investimentos em diferentes classes de ativos.

A macro alocação de ativos é uma estratégia fundamental na gestão de investimentos, com respaldo em diversos autores e conceitos na literatura financeira. Autores renomados como Burton Malkiel e Eugene Fama destacam a macro alocação como um determinante chave do desempenho do portfólio a longo prazo.

Harry Markowitz, por exemplo, fala de "fronteira eficiente", conceito que ressalta a necessidade de diversificação para otimizar o retorno esperado em relação ao risco assumido. Já Robert Merton, outro autor influente, fala sobre alocação dinâmica de portfólio, destacando a importância de ajustar a alocação de ativos ao longo do tempo de acordo com as mudanças das condições de mercado e das metas de investimento.

Esses autores e conceitos fundamentam a prática da macro alocação de portfólios. Em resumo, mais do que buscar o ativo ideal, essas teorias focam na construção de um portfólio equilibrado em sua composição de risco e classes de ativos.

Assim, no trabalho de gestão patrimonial, a predição do comportamento de mercado deixa de ser o foco, que passa a ser a construção de carteiras equilibradas, permitindo ao investidor gerenciar as incertezas de mercado.

*Caio Athié Teruel é gestor de portfólio na Cimo Family Office, uma empresa especializada em gestão patrimonial e consultoria financeira para famílias de alto patrimônio líquido.

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Por Caio Athié Teruel*

Era início de 2023, os Estados Unidos, assim como grande parte do mundo, lidavam com uma inflação persistente pelo segundo ano consecutivo. O consenso entre os economistas era de um provável cenário de recessão. Uma pesquisa com especialistas conduzida pelo Wall Street Journal, ainda em janeiro, mostrou uma probabilidade de recessão de 61%.

O tempo passou e a previsão não se concretizou. Ao contrário do que se esperava, a economia americana surpreendeu e cresceu mais de 3% no ano, número bastante expressivo. A forte atividade econômica puxou o mercado acionário. O S&P 500, por exemplo, teve uma alta de 24% no ano, carregado pelas empresas de tecnologia.

Para muitos, entretanto, a performance que fez brilhar os olhos não soou como o início de uma sólida valorização, mas sim um motivo para cautela. O resultado expressivo em um ano duvidoso, somado à inflação ainda resiliente, levou gestores, economistas e analistas a adotar prudência em relação ao índice. Os resultados pareciam exagerados e havia dúvidas sobre seu embasamento. A concentração dos ganhos em poucas ações corroborava essa ideia.

Contudo, 2024 começou e a resiliência do S&P se manteve. O índice, que antes era puxado por poucos papeis, passou a ter uma alta mais bem distribuída e fechou o primeiro trimestre do ano com mais 10% de alta. Para os investidores bem informados que, cientes dos alertas feitos por especialistas, ajustaram suas alocações, os resultados expressivos do S&P 500 se tornaram uma oportunidade perdida.

Vale ressaltar que eventos como os mencionados acima mais se parecem com a regra do que com a exceção e validam uma característica marcante dos mercados: probabilidades não são certezas.

Dificilmente será possível determinar o futuro econômico com a mesma precisão com que se determinam os resultados em um experimento científico controlado. Felizmente, para se atingir uma boa rentabilidade, não é preciso esse nível de exatidão. A busca por certezas no mercado acaba sendo, para muitos investidores, seu calcanhar de Aquiles.

Robert Mercer, antigo CEO da Renaissance Technologies, supostamente revelou a um amigo que o fundo Medallion, famoso pelos seus retornos significativos, possuía uma taxa de acerto de apenas 50,75% em seu modelo.

Em meio ao caos dos eventos econômicos, resta para o investidor a certeza de que acontecerão surpresas ao longo do caminho. Certeza, essa, que pode servir como estímulo para um investimento que considera não somente os cenários esperados ou prováveis, mas também os improváveis.

Ao levar em conta todos os cenários possíveis, construir um portfólio se torna algo mais parecido com uma balança do que com uma prova de tiro ao alvo. Uma alocação equilibrada não apenas ajuda a mitigar o risco de concentração em ativos específicos, mas também permite que os investidores aproveitem as oportunidades de crescimento enquanto protegem seus investimentos contra possíveis reversões de mercado.

A recente reviravolta do S&P 500 serve como um lembrete vívido da volatilidade inerente aos mercados financeiros e da importância de uma gestão de portfólio baseada em uma análise cuidadosa e adaptável das condições macroeconômicas. Esse gerenciamento consiste no trabalho de macro alocação, que busca equilibrar os investimentos em diferentes classes de ativos.

A macro alocação de ativos é uma estratégia fundamental na gestão de investimentos, com respaldo em diversos autores e conceitos na literatura financeira. Autores renomados como Burton Malkiel e Eugene Fama destacam a macro alocação como um determinante chave do desempenho do portfólio a longo prazo.

Harry Markowitz, por exemplo, fala de "fronteira eficiente", conceito que ressalta a necessidade de diversificação para otimizar o retorno esperado em relação ao risco assumido. Já Robert Merton, outro autor influente, fala sobre alocação dinâmica de portfólio, destacando a importância de ajustar a alocação de ativos ao longo do tempo de acordo com as mudanças das condições de mercado e das metas de investimento.

Esses autores e conceitos fundamentam a prática da macro alocação de portfólios. Em resumo, mais do que buscar o ativo ideal, essas teorias focam na construção de um portfólio equilibrado em sua composição de risco e classes de ativos.

Assim, no trabalho de gestão patrimonial, a predição do comportamento de mercado deixa de ser o foco, que passa a ser a construção de carteiras equilibradas, permitindo ao investidor gerenciar as incertezas de mercado.

*Caio Athié Teruel é gestor de portfólio na Cimo Family Office, uma empresa especializada em gestão patrimonial e consultoria financeira para famílias de alto patrimônio líquido.

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