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O desencontro das expectativas para o próximo Copom

Cenários divergentes e a complexidade das projeções econômicas

Copom: Cenários divergentes e a complexidade das projeções econômicas (Divulgação/Divulgação)
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Panorama Econômico

Panorama Econômico

Publicado em 9 de setembro de 2024 às 18h48.

Por Mateus Weirich*

Expectativas determinam nossas escolhas. Embora muitos não tenham clareza desse fato, nosso inconsciente sempre busca se cercar do máximo de informações possíveis, quantitativas ou qualitativas, para que possamos decidir qual caminho seguir. Incorrer em subjetividade ao se elaborar projeções é algo, invariavelmente, inevitável.

Há quem não concorde com um viés altamente subjetivo e prefira se ancorar em dados “fresquinhos” na sua tomada de decisão, optando por uma visão mais de curto prazo, fugindo das grandes oscilações que uma janela de tempo mais ampla implica.

No transitar dessa temporalidade e permeado pelas incertezas, constroem-se as inúmeras versões daqueles que ousam formar opinião a respeito de assuntos complexos, subjetivos e com um horizonte de tempo sem definição clara.

Falar a respeito de qual será a taxa (meta) estipulada pelo Banco Central a partir do dia 18 de setembro é se valer do que há de mais incerto e subjetivo no momento. São muitas expectativas, muitas variáveis (que, por óbvio, não controlamos), muitos “se”, muita especulação e, no meio disso tudo, uma mudança de comando da instituição que dita a política monetária no país.

Para contribuir na difícil missão de escolher um cenário, temos uma economia aquecida via expansão fiscal e um governo que não tem como predicado (assim como outros) uma comunicação clara e transparente.

Dessa forma, temos a turma que ancorou suas expectativas em um cenário otimista, que acredita na convergência do nosso IPCA, dado o seu comportamento (quantitativo) nos últimos meses, em especial o IPCA-15 de agosto, na leitura mensal e na média móvel de 12 meses. Por consequência, acreditam na manutenção da taxa ou até em uma redução marginal.

Temos também a turma mais neutra, não tão direcional, que está ancorando suas expectativas nos dados de curto prazo que ainda estão por ser divulgados até o próximo comitê, ou seja, data dependency. Consideram em suas análises a conjuntura americana e a veem como positiva. Entretanto, não se sentem confortáveis em dar um guidance para suas projeções, uma vez que um dos pilares do equilíbrio monetário no Brasil não vem tendo um comportamento muito animador.

Por último, transitando no polo do pessimismo, temos a turma que acredita que o quadro atual só se resolve com Selic mais alta. Em suas projeções, embutem o crescimento da massa salarial, ganho real dos salários, fechamento do hiato do produto, formação bruta de capital fixo muito tímida a ponto de equilibrar a equação pelo lado da oferta e, principalmente, pelo fiscal completamente sem controle.

Entendo que, em todos os cenários, há dados e bons argumentos que sustentam a tese que cada um construiu. Todavia, em cenários como o que estamos vivendo agora, ter cautela é fundamental. Olhar somente para dados recentes ou projetar trajetórias de alguns indicadores para os próximos cinco anos pode ser bastante difuso. Considero difícil afirmar o impacto que uma redução significativa dos juros americanos pode causar no fluxo financeiro global e de que maneira isso impactaria o Brasil. Por mais difícil que possa parecer, há o risco de o governo federal conseguir entregar resultados dentro do que é estipulado pelo arcabouço fiscal.

Sendo assim, sigo e admiro a postura que o presidente Roberto Campos Neto e seus demais pares de comitê vêm adotando, pois souberam ser previsíveis quando o cenário permitia, foram duros quando precisaram ser e, agora, estão sendo pragmáticos quando as circunstâncias exigem.

Atualmente, adotar uma postura incisiva pode ser muito danosa ao que foi construído pela instituição nos últimos anos.

Particularmente, ainda sigo reticente em relação ao aumento significativo dos juros com pace acelerado mediante os dados recentes (aqui e lá fora), com uma China que dá sinais de enfraquecimento na sua economia e um fiscal que, a meu ver, tem que ser entregue; do contrário, pode desencadear consequências políticas negativas para o governo atual. De qualquer forma, aqui na API Capital, também não é unânime a expectativa do próximo movimento do Banco Central.

Acredito que estamos em boas mãos. Em uma instituição consolidada e que já provou ser eficiente no controle da inflação no Brasil, principalmente nos últimos 30 anos. O que, convenhamos, é para poucos.

*Mateus Weirich é economista (UFRGS), com MBA em Gestão Financeira pela FGV, possui a certificação CFP® pela PLANEJAR e CNPI pela APIMEC. É sócio e consultor na API Capital, consultoria de investimentos registrada na CVM.

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Por Mateus Weirich*

Expectativas determinam nossas escolhas. Embora muitos não tenham clareza desse fato, nosso inconsciente sempre busca se cercar do máximo de informações possíveis, quantitativas ou qualitativas, para que possamos decidir qual caminho seguir. Incorrer em subjetividade ao se elaborar projeções é algo, invariavelmente, inevitável.

Há quem não concorde com um viés altamente subjetivo e prefira se ancorar em dados “fresquinhos” na sua tomada de decisão, optando por uma visão mais de curto prazo, fugindo das grandes oscilações que uma janela de tempo mais ampla implica.

No transitar dessa temporalidade e permeado pelas incertezas, constroem-se as inúmeras versões daqueles que ousam formar opinião a respeito de assuntos complexos, subjetivos e com um horizonte de tempo sem definição clara.

Falar a respeito de qual será a taxa (meta) estipulada pelo Banco Central a partir do dia 18 de setembro é se valer do que há de mais incerto e subjetivo no momento. São muitas expectativas, muitas variáveis (que, por óbvio, não controlamos), muitos “se”, muita especulação e, no meio disso tudo, uma mudança de comando da instituição que dita a política monetária no país.

Para contribuir na difícil missão de escolher um cenário, temos uma economia aquecida via expansão fiscal e um governo que não tem como predicado (assim como outros) uma comunicação clara e transparente.

Dessa forma, temos a turma que ancorou suas expectativas em um cenário otimista, que acredita na convergência do nosso IPCA, dado o seu comportamento (quantitativo) nos últimos meses, em especial o IPCA-15 de agosto, na leitura mensal e na média móvel de 12 meses. Por consequência, acreditam na manutenção da taxa ou até em uma redução marginal.

Temos também a turma mais neutra, não tão direcional, que está ancorando suas expectativas nos dados de curto prazo que ainda estão por ser divulgados até o próximo comitê, ou seja, data dependency. Consideram em suas análises a conjuntura americana e a veem como positiva. Entretanto, não se sentem confortáveis em dar um guidance para suas projeções, uma vez que um dos pilares do equilíbrio monetário no Brasil não vem tendo um comportamento muito animador.

Por último, transitando no polo do pessimismo, temos a turma que acredita que o quadro atual só se resolve com Selic mais alta. Em suas projeções, embutem o crescimento da massa salarial, ganho real dos salários, fechamento do hiato do produto, formação bruta de capital fixo muito tímida a ponto de equilibrar a equação pelo lado da oferta e, principalmente, pelo fiscal completamente sem controle.

Entendo que, em todos os cenários, há dados e bons argumentos que sustentam a tese que cada um construiu. Todavia, em cenários como o que estamos vivendo agora, ter cautela é fundamental. Olhar somente para dados recentes ou projetar trajetórias de alguns indicadores para os próximos cinco anos pode ser bastante difuso. Considero difícil afirmar o impacto que uma redução significativa dos juros americanos pode causar no fluxo financeiro global e de que maneira isso impactaria o Brasil. Por mais difícil que possa parecer, há o risco de o governo federal conseguir entregar resultados dentro do que é estipulado pelo arcabouço fiscal.

Sendo assim, sigo e admiro a postura que o presidente Roberto Campos Neto e seus demais pares de comitê vêm adotando, pois souberam ser previsíveis quando o cenário permitia, foram duros quando precisaram ser e, agora, estão sendo pragmáticos quando as circunstâncias exigem.

Atualmente, adotar uma postura incisiva pode ser muito danosa ao que foi construído pela instituição nos últimos anos.

Particularmente, ainda sigo reticente em relação ao aumento significativo dos juros com pace acelerado mediante os dados recentes (aqui e lá fora), com uma China que dá sinais de enfraquecimento na sua economia e um fiscal que, a meu ver, tem que ser entregue; do contrário, pode desencadear consequências políticas negativas para o governo atual. De qualquer forma, aqui na API Capital, também não é unânime a expectativa do próximo movimento do Banco Central.

Acredito que estamos em boas mãos. Em uma instituição consolidada e que já provou ser eficiente no controle da inflação no Brasil, principalmente nos últimos 30 anos. O que, convenhamos, é para poucos.

*Mateus Weirich é economista (UFRGS), com MBA em Gestão Financeira pela FGV, possui a certificação CFP® pela PLANEJAR e CNPI pela APIMEC. É sócio e consultor na API Capital, consultoria de investimentos registrada na CVM.

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