Exame Logo

Egon Zehnder: CEOs são arquitetos da prosperidade

Leia o primeiro de uma série de sete artigos da consultoria Egon Zehnder focado em Liderança para a Prosperidade

A Fábrica (Divulgação/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2021 às 15h04.

Nos arredores de Barcelona, na Catalunha, está situada uma estrutura extraordinária. Com torres e arcos que evocam a arquitetura regional tradicional, movimentados espaços de trabalho interconectados e vegetação luxuriante que transborda de pátios e telhados, o complexo parece parte oficina, parte catedral e parte playground. No entanto, o local nem sempre esteve repleto de tal vitalidade. Em 1973, quando o jovem arquiteto Ricardo Bofill a viu pela primeira vez, essa fábrica de cimento abandonada era uma ruína poluída. Bofill, porém, viu uma oportunidade: um espaço para que a equipe diversificada que ele estava montando – engenheiros, matemáticos, planejadores, filósofos, artistas e cineastas – pudesse crescer, aprender e construir. A empresa, que ficou conhecida como Ricardo Bofill Taller de Arquitectura, estabeleceu sua sede no local e passou a revitalizá-lo e reinventá-lo, fazendo demolições seletivas, restaurando e aumentando a estrutura, enquanto Bofill conduzia sua equipe em direção a uma brilhante síntese criativa.

La Fábrica, onde Bofill hoje mora e trabalha, é um sucesso internacional e se mantém em permanente transformação. Em muitos aspectos, ela personifica a abordagem da empresa: reinventar processos e empregar novas tecnologias, evoluindo para atender às necessidades que surgem, ao mesmo tempo em que permanece fundamentada em seus valores; um lugar de múltiplas perspectivas, profundamente adaptável, que fecha negócios em muitos países. Enquanto Bofill trabalha para sustentar e fortalecer sua empresa, equilibrando as rígidas expectativas empresariais com as necessidades sociais e as dos mercados emergentes, sua visão se irradia para transformar comunidades; sua equipe vem realizando um trabalho que gera benefícios em grande escala, desde projetos inovadores de habitação social até o Teatro Nacional da Catalunha. Em seus projetos, Bofill busca não transcender a humanidade, mas sim ter as pessoas sempre em mente: “abranger”, como afirma a empresa, “a experiência humana”.

Nesta era de incerteza mundial, as empresas estão enfrentando mudanças rápidas e a disrupção de modelos. Elas se veem envolvidas cada vez mais em questões sociais, e espera-se que trabalhem em soluções que gerem prosperidade em todos os aspectos: “pessoas, proventos, planeta”. É o momento dos CEOs reconhecerem seu papel de arquitetos desse novo ambiente, com a oportunidade de planejar e construir algo semelhante a La Fábrica: resiliente, transformadora e geradora de valor para muitas pessoas.

As empresas se veem envolvidas cada vez mais em questões sociais, e espera-se que trabalhem em soluções que gerem prosperidade em todos os aspectos: “pessoas, proventos, planeta”.

Essa oportunidade se apresenta em um panorama desafiador. Para terem sucesso, os CEOs precisam abraçar as mudanças pelas quais estão passando o mundo e o papel que exercem e precisam estar prontos para transformar a si mesmos e à sua organização.

A Egon Zehnder tem o prazer de apresentar uma série de artigos que oferecem percepções exatamente sobre esses desafios e oportunidades de liderança, de interesse especial para CEOs e conselheiros e para aspirantes a esses cargos. Essas narrativas se baseiam em nosso amplo trabalho internacional com mais de 2 mil CEOs de todos os setores nos últimos cinco anos, bem como em nossos serviços de assessoria aos Conselhos que designam CEOs. Fazemos reflexões sobre o trabalho transformador que nossos colegas tiveram o privilégio de realizar com os executivos de alto escalão e descrevemos seus desafios espinhosos, seus lampejos de inspiração, seus tropeços – em suma, os marcos em sua trajetória de geração de prosperidade para todos os seus stakeholders, bem como o escopo e os objetivos de sua organização.

Ao longo do caminho, você conhecerá alguns dos grandes líderes ao lado dos quais fizemos essa caminhada; pessoas que nos inspiraram e com quem aprendemos. Contaremos a história de Mateo, cuja enorme experiência em fabricação e cujas décadas de sucesso não o impediram de passar dificuldades em uma economia e uma sociedade em mutação; a de Tara, que mudou a marca de seus restaurantes para um mundo novo; a de Daniel, que percebeu bem a tempo que ser um executivo de alto desempenho e com boa formação em faculdade de administração não era suficiente para conduzir uma empresa multinacional por águas turbulentas; e a de Jan, que se livrou da hesitação inicial na função de CEO para desencadear uma transformação de longo prazo.

Também haverá outros: Lukas, que assinalou sua ascensão a CEO exortando seus funcionários seniores a se tornarem executivos-chefes por mérito próprio e estabeleceu fortes laços para além do conjunto comum de stakeholders; Beth, que abandonou uma antiga concepção de liderança empresarial e aprendeu a se conectar; e Raj, que nos surpreendeu com sua capacidade de adaptação alicerçada na escuta. Descreveremos guerreiros e visionários dos negócios: homens e mulheres que se transformaram, elevando seu próprio desempenho e o de sua empresa; que tiveram coragem e imaginação para ver seus relacionamentos com os stakeholders como vias para a prosperidade, e não como um fardo – e que se mantiveram alertas, adaptando-se sem parar.

O mundo está mudando – e o mesmo vale para o papel do CEO

Estamos vivendo em um mundo no qual o poder geopolítico vem migrando para novos centros, o que causa enormes incertezas; as fronteiras tradicionais entre influência e responsabilidade vêm se dissipando; a tecnologia vem transformando todos os setores; e indivíduos, grupos e instituições estão cada vez mais interconectados e interdependentes. Para os líderes empresariais, isso significa que seus empreendimentos estão inseridos em sistemas novos e complicados, o que requer uma visão diferente com relação aos stakeholders.

A globalização não eliminou os desafios: nosso panorama sociopolítico está mais polarizado, expondo inquietação social, alienação e desconfiança quanto ao status quo. Ainda assim, temos a população mais instruída que o mundo já viu, maior acesso à água potável, menor mortalidade infantil, maior conscientização sobre questões de saúde mental e muitos outros fortes sinais de progresso. Também estamos passando pela quarta revolução industrial, que vem transformando radicalmente o trabalho de pessoas e organizações. Em suma, o mundo é inevitavelmente mais complexo.

Espera-se agora que as empresas usem cada vez mais sua influência como uma força benéfica duradoura.

Nesse panorama, não é de surpreender que os líderes empresariais estejam perante um novo conjunto de expectativas por parte de seus stakeholders. As empresas têm agora um impacto de longo alcance que, em alguns casos, supera até mesmo o dos governos, e espera-se cada vez mais que usem sua influência como uma força benéfica duradoura, para além do âmbito dos lucros e dos tradicionais programas de responsabilidade social corporativa. Essa pressão vem crescendo de todos os lados e se reflete no aumento do consumo ético, nos investimentos de impacto, na expectativa de que os líderes empresariais tomem posição sobre questões sociais e na demanda de trabalhos que não sejam apenas seguros, mas plenos de propósito.

Nesse contexto, o papel do CEO cresceu e evoluiu. Trabalhando com o impulso dado pelos eventos atuais, desde crises envolvendo saúde pública, sociedades, economias e meio ambiente até disrupções tecnológicas e de modelos de negócios, os CEOs devem conceber e construir o futuro ao mesmo tempo em que geram valor para os acionistas e uma ampla gama de stakeholders.

Os CEOs devem conceber e construir o futuro ao mesmo tempo em que geram valor para os acionistas e uma ampla gama de stakeholders.

Um CEO deve reconhecer que esses objetivos aparentemente díspares estão interconectados: desempenho requer transformação, e lucro para muitas pessoas significa lucro para a empresa. A integração da prosperidade em sentido mais amplo ao modelo de negócios apresenta situações novas que vão além da tradicional gestão de stakeholders. Manter o desempenho financeiro ao mesmo tempo em que se atua como força benéfica requer não apenas crescer e ficar de olho nos resultados financeiros, mas também, às vezes, dirigir o olhar para a perspectiva de oportunidades inesperadas.

Arquitetos de uma nova era

Os CEOs e os Conselhos de Administração com os quais eles trabalham estão começando a reconhecer que, embora a experiência e os talentos de um CEO continuem sendo essenciais, já não são suficientes para garantir o sucesso. A maioria dos CEOs terá aprimorado suas habilidades em uma era anterior e modelado seu estilo de liderança em um arquétipo mais antigo, desenvolvido em circunstâncias diferentes. Para serem eficazes em tempos complexos e incertos, os CEOs devem estar prontos para uma ambiciosa jornada dupla de reflexão e desenvolvimento profissional e pessoal, enquanto lideram e inspiram sua equipe a embarcar na mesma jornada.

Os CEOs devem estar prontos para uma ambiciosa jornada dupla de reflexão e desenvolvimento profissional e pessoal.

Os CEOs estão sendo chamados a assumir a função de arquitetos desta nova era, concebendo empresas que sejam inovadoras, resilientes e responsivas a seu ambiente. Isso requer que os líderes sejam autoconscientes, relacionais e adaptativos – conjunto de qualidades que não são independentes, mas que se mantêm fortemente unidas em apoio mútuo.

A autoconsciência é um compromisso rigoroso e disciplinado, por parte de uma pessoa, no sentido de estar ciente de seu estágio na jornada e de aprender e crescer pessoalmente de forma contínua. Isso envolve uma atenção constante aos nossos motivos e comportamentos, bem como à maneira pela qual estes irradiam para transformar nossos negócios e nossas equipes. Os CEOs devem encontrar um equilíbrio delicado entre autoconfiança e atenção plena, sempre cientes de suas próprias limitações. Em vez de considerarem que chegaram ao ponto final do desenvolvimento profissional e pessoal, os CEOs devem ter a coragem e a humildade de considerar sua própria designação como um ponto intermediário de sua jornada, permanecendo ávidos por fazerem mudanças que aumentem sua liderança e eficácia.

Além da autoconsciência, os CEOs devem cultivar e expandir seus relacionamentos com abertura e ousadia genuínas, canalizando o poder coletivo dos membros da equipe e stakeholders em toda a sua diversidade para abastecer sua organização e aumentar o desempenho dela.

Ter uma orientação relacional requer aprender novas maneiras de ouvir e de se comunicar: com curiosidade, humildade, empatia e autenticidade. Essas habilidades permitem que um CEO cultive um relacionamento de “primeiro entre iguais” com seu Conselho e sua equipe, expandindo sua autoconsciência e consciência organizacional ao atrair inspiração e percepções de diversos pontos de vista, inclusive respostas à sua própria liderança. Tratar esses relacionamentos como sacrossantos, definidos pela confiança e o respeito mútuos, será essencial para os CEOs que queiram impulsionar a transformação e o desempenho de sua organização em um panorama cada vez mais complexo.

Essa abordagem relacional deve ir além dos stakeholders convencionais de uma empresa. Um CEO deve buscar alianças novas e incomuns com uma grande variedade de organizações e setores, vendo essas entidades como geradoras de valor e pilares da força coletiva que oferecem novas oportunidades e pontos de vista singulares para fortalecer a capacidade de discernimento da instituição. À medida que os líderes adotam uma orientação relacional, um arquétipo mais antigo – o CEO “herói”, que permanece sozinho no topo de uma hierarquia – vem ficando obsoleto gradualmente.

Não se pode negar que o compromisso com uma orientação relacional é desafiador. Os CEOs relacionais devem ser perspicazes o suficiente para perceberem quais relacionamentos podem beneficiar sua empresa e promover a prosperidade de maneira ampla, além de astutos o suficiente para concretizarem esses benefícios.

Em uma era de transições rápidas, os CEOs que forem capazes de manter uma visão clara e de permanecer adaptáveis serão arquitetos inovadores de um desempenho empresarial excepcional.

Em uma era de transições rápidas, os CEOs que forem capazes de manter uma visão clara e de permanecer adaptáveis serão arquitetos inovadores de um desempenho empresarial excepcional. Eles serão ousados e criativos, honrando tradições valiosas e, ao mesmo tempo, elaborando novas estratégias com benefícios que extrapolam a organização.

Esses CEOs, sobretudo se forem relacionais e autoconscientes, usarão sua vantagem ímpar, enriquecida por percepções de sua equipe e de seus stakeholders, para aproveitar oportunidades genuínas, bem como para superar ou contornar desafios. Reconhecerão que as aparentes polaridades entre pessoas e lucro, se sintetizadas de maneira criativa, podem ser motores de valor, em vez de problemas a resolver. E percorrerão o difícil caminho adaptativo dos antigos para os novos modelos de operação, inspirando sua organização e conduzindo-a ao longo dessa transição.

Flexibilidade envolve abertura, um apetite insaciável por aprendizado, presciência visionária para prever desafios e oportunidades futuras e capacidade de explorar as histórias de origem e os pontos fortes institucionais e para estimular a organização e obter o máximo dela.

Enquanto nos guiam em meio à complexidade até um futuro melhor, os CEOs devem manter valores fortes – reconhecendo sua responsabilidade de usar uma humanidade inabalável como bússola ou estrela guia ao tomarem decisões ou mudarem de caminho.

Cada época define suas próprias demandas de liderança. Em reação a isso, um grande líder não apenas aceita o desafio, como também leva a ele sua própria visão. Ricardo Bofill sabia que, para alcançar a excelência internacional, exercer a arquitetura à moda antiga não seria suficiente. Em vez disso, ele montou uma equipe diversificada e qualificada, levando as capacidades de todos ao limite enquanto, juntos, construíam de maneiras que ninguém havia imaginado antes, criando novos monumentos magníficos e inspiradores que celebram o imenso potencial da humanidade. No momento em que entramos em um período que apresenta desafios e oportunidades em escala mundial, é uma honra para nós, da Egon Zehnder, compartilhar as experiências de líderes que estão se empenhando para reinventar a si mesmos e à sua equipe, construindo juntos novas organizações. Esperamos que você nos acompanhe ao apresentarmos as dificuldades e conquistas – o drama humano imperfeito e inspirador – de suas histórias.

Assine a EXAME e acesse as notícias mais importantes em tempo real.

Veja também

Nos arredores de Barcelona, na Catalunha, está situada uma estrutura extraordinária. Com torres e arcos que evocam a arquitetura regional tradicional, movimentados espaços de trabalho interconectados e vegetação luxuriante que transborda de pátios e telhados, o complexo parece parte oficina, parte catedral e parte playground. No entanto, o local nem sempre esteve repleto de tal vitalidade. Em 1973, quando o jovem arquiteto Ricardo Bofill a viu pela primeira vez, essa fábrica de cimento abandonada era uma ruína poluída. Bofill, porém, viu uma oportunidade: um espaço para que a equipe diversificada que ele estava montando – engenheiros, matemáticos, planejadores, filósofos, artistas e cineastas – pudesse crescer, aprender e construir. A empresa, que ficou conhecida como Ricardo Bofill Taller de Arquitectura, estabeleceu sua sede no local e passou a revitalizá-lo e reinventá-lo, fazendo demolições seletivas, restaurando e aumentando a estrutura, enquanto Bofill conduzia sua equipe em direção a uma brilhante síntese criativa.

La Fábrica, onde Bofill hoje mora e trabalha, é um sucesso internacional e se mantém em permanente transformação. Em muitos aspectos, ela personifica a abordagem da empresa: reinventar processos e empregar novas tecnologias, evoluindo para atender às necessidades que surgem, ao mesmo tempo em que permanece fundamentada em seus valores; um lugar de múltiplas perspectivas, profundamente adaptável, que fecha negócios em muitos países. Enquanto Bofill trabalha para sustentar e fortalecer sua empresa, equilibrando as rígidas expectativas empresariais com as necessidades sociais e as dos mercados emergentes, sua visão se irradia para transformar comunidades; sua equipe vem realizando um trabalho que gera benefícios em grande escala, desde projetos inovadores de habitação social até o Teatro Nacional da Catalunha. Em seus projetos, Bofill busca não transcender a humanidade, mas sim ter as pessoas sempre em mente: “abranger”, como afirma a empresa, “a experiência humana”.

Nesta era de incerteza mundial, as empresas estão enfrentando mudanças rápidas e a disrupção de modelos. Elas se veem envolvidas cada vez mais em questões sociais, e espera-se que trabalhem em soluções que gerem prosperidade em todos os aspectos: “pessoas, proventos, planeta”. É o momento dos CEOs reconhecerem seu papel de arquitetos desse novo ambiente, com a oportunidade de planejar e construir algo semelhante a La Fábrica: resiliente, transformadora e geradora de valor para muitas pessoas.

As empresas se veem envolvidas cada vez mais em questões sociais, e espera-se que trabalhem em soluções que gerem prosperidade em todos os aspectos: “pessoas, proventos, planeta”.

Essa oportunidade se apresenta em um panorama desafiador. Para terem sucesso, os CEOs precisam abraçar as mudanças pelas quais estão passando o mundo e o papel que exercem e precisam estar prontos para transformar a si mesmos e à sua organização.

A Egon Zehnder tem o prazer de apresentar uma série de artigos que oferecem percepções exatamente sobre esses desafios e oportunidades de liderança, de interesse especial para CEOs e conselheiros e para aspirantes a esses cargos. Essas narrativas se baseiam em nosso amplo trabalho internacional com mais de 2 mil CEOs de todos os setores nos últimos cinco anos, bem como em nossos serviços de assessoria aos Conselhos que designam CEOs. Fazemos reflexões sobre o trabalho transformador que nossos colegas tiveram o privilégio de realizar com os executivos de alto escalão e descrevemos seus desafios espinhosos, seus lampejos de inspiração, seus tropeços – em suma, os marcos em sua trajetória de geração de prosperidade para todos os seus stakeholders, bem como o escopo e os objetivos de sua organização.

Ao longo do caminho, você conhecerá alguns dos grandes líderes ao lado dos quais fizemos essa caminhada; pessoas que nos inspiraram e com quem aprendemos. Contaremos a história de Mateo, cuja enorme experiência em fabricação e cujas décadas de sucesso não o impediram de passar dificuldades em uma economia e uma sociedade em mutação; a de Tara, que mudou a marca de seus restaurantes para um mundo novo; a de Daniel, que percebeu bem a tempo que ser um executivo de alto desempenho e com boa formação em faculdade de administração não era suficiente para conduzir uma empresa multinacional por águas turbulentas; e a de Jan, que se livrou da hesitação inicial na função de CEO para desencadear uma transformação de longo prazo.

Também haverá outros: Lukas, que assinalou sua ascensão a CEO exortando seus funcionários seniores a se tornarem executivos-chefes por mérito próprio e estabeleceu fortes laços para além do conjunto comum de stakeholders; Beth, que abandonou uma antiga concepção de liderança empresarial e aprendeu a se conectar; e Raj, que nos surpreendeu com sua capacidade de adaptação alicerçada na escuta. Descreveremos guerreiros e visionários dos negócios: homens e mulheres que se transformaram, elevando seu próprio desempenho e o de sua empresa; que tiveram coragem e imaginação para ver seus relacionamentos com os stakeholders como vias para a prosperidade, e não como um fardo – e que se mantiveram alertas, adaptando-se sem parar.

O mundo está mudando – e o mesmo vale para o papel do CEO

Estamos vivendo em um mundo no qual o poder geopolítico vem migrando para novos centros, o que causa enormes incertezas; as fronteiras tradicionais entre influência e responsabilidade vêm se dissipando; a tecnologia vem transformando todos os setores; e indivíduos, grupos e instituições estão cada vez mais interconectados e interdependentes. Para os líderes empresariais, isso significa que seus empreendimentos estão inseridos em sistemas novos e complicados, o que requer uma visão diferente com relação aos stakeholders.

A globalização não eliminou os desafios: nosso panorama sociopolítico está mais polarizado, expondo inquietação social, alienação e desconfiança quanto ao status quo. Ainda assim, temos a população mais instruída que o mundo já viu, maior acesso à água potável, menor mortalidade infantil, maior conscientização sobre questões de saúde mental e muitos outros fortes sinais de progresso. Também estamos passando pela quarta revolução industrial, que vem transformando radicalmente o trabalho de pessoas e organizações. Em suma, o mundo é inevitavelmente mais complexo.

Espera-se agora que as empresas usem cada vez mais sua influência como uma força benéfica duradoura.

Nesse panorama, não é de surpreender que os líderes empresariais estejam perante um novo conjunto de expectativas por parte de seus stakeholders. As empresas têm agora um impacto de longo alcance que, em alguns casos, supera até mesmo o dos governos, e espera-se cada vez mais que usem sua influência como uma força benéfica duradoura, para além do âmbito dos lucros e dos tradicionais programas de responsabilidade social corporativa. Essa pressão vem crescendo de todos os lados e se reflete no aumento do consumo ético, nos investimentos de impacto, na expectativa de que os líderes empresariais tomem posição sobre questões sociais e na demanda de trabalhos que não sejam apenas seguros, mas plenos de propósito.

Nesse contexto, o papel do CEO cresceu e evoluiu. Trabalhando com o impulso dado pelos eventos atuais, desde crises envolvendo saúde pública, sociedades, economias e meio ambiente até disrupções tecnológicas e de modelos de negócios, os CEOs devem conceber e construir o futuro ao mesmo tempo em que geram valor para os acionistas e uma ampla gama de stakeholders.

Os CEOs devem conceber e construir o futuro ao mesmo tempo em que geram valor para os acionistas e uma ampla gama de stakeholders.

Um CEO deve reconhecer que esses objetivos aparentemente díspares estão interconectados: desempenho requer transformação, e lucro para muitas pessoas significa lucro para a empresa. A integração da prosperidade em sentido mais amplo ao modelo de negócios apresenta situações novas que vão além da tradicional gestão de stakeholders. Manter o desempenho financeiro ao mesmo tempo em que se atua como força benéfica requer não apenas crescer e ficar de olho nos resultados financeiros, mas também, às vezes, dirigir o olhar para a perspectiva de oportunidades inesperadas.

Arquitetos de uma nova era

Os CEOs e os Conselhos de Administração com os quais eles trabalham estão começando a reconhecer que, embora a experiência e os talentos de um CEO continuem sendo essenciais, já não são suficientes para garantir o sucesso. A maioria dos CEOs terá aprimorado suas habilidades em uma era anterior e modelado seu estilo de liderança em um arquétipo mais antigo, desenvolvido em circunstâncias diferentes. Para serem eficazes em tempos complexos e incertos, os CEOs devem estar prontos para uma ambiciosa jornada dupla de reflexão e desenvolvimento profissional e pessoal, enquanto lideram e inspiram sua equipe a embarcar na mesma jornada.

Os CEOs devem estar prontos para uma ambiciosa jornada dupla de reflexão e desenvolvimento profissional e pessoal.

Os CEOs estão sendo chamados a assumir a função de arquitetos desta nova era, concebendo empresas que sejam inovadoras, resilientes e responsivas a seu ambiente. Isso requer que os líderes sejam autoconscientes, relacionais e adaptativos – conjunto de qualidades que não são independentes, mas que se mantêm fortemente unidas em apoio mútuo.

A autoconsciência é um compromisso rigoroso e disciplinado, por parte de uma pessoa, no sentido de estar ciente de seu estágio na jornada e de aprender e crescer pessoalmente de forma contínua. Isso envolve uma atenção constante aos nossos motivos e comportamentos, bem como à maneira pela qual estes irradiam para transformar nossos negócios e nossas equipes. Os CEOs devem encontrar um equilíbrio delicado entre autoconfiança e atenção plena, sempre cientes de suas próprias limitações. Em vez de considerarem que chegaram ao ponto final do desenvolvimento profissional e pessoal, os CEOs devem ter a coragem e a humildade de considerar sua própria designação como um ponto intermediário de sua jornada, permanecendo ávidos por fazerem mudanças que aumentem sua liderança e eficácia.

Além da autoconsciência, os CEOs devem cultivar e expandir seus relacionamentos com abertura e ousadia genuínas, canalizando o poder coletivo dos membros da equipe e stakeholders em toda a sua diversidade para abastecer sua organização e aumentar o desempenho dela.

Ter uma orientação relacional requer aprender novas maneiras de ouvir e de se comunicar: com curiosidade, humildade, empatia e autenticidade. Essas habilidades permitem que um CEO cultive um relacionamento de “primeiro entre iguais” com seu Conselho e sua equipe, expandindo sua autoconsciência e consciência organizacional ao atrair inspiração e percepções de diversos pontos de vista, inclusive respostas à sua própria liderança. Tratar esses relacionamentos como sacrossantos, definidos pela confiança e o respeito mútuos, será essencial para os CEOs que queiram impulsionar a transformação e o desempenho de sua organização em um panorama cada vez mais complexo.

Essa abordagem relacional deve ir além dos stakeholders convencionais de uma empresa. Um CEO deve buscar alianças novas e incomuns com uma grande variedade de organizações e setores, vendo essas entidades como geradoras de valor e pilares da força coletiva que oferecem novas oportunidades e pontos de vista singulares para fortalecer a capacidade de discernimento da instituição. À medida que os líderes adotam uma orientação relacional, um arquétipo mais antigo – o CEO “herói”, que permanece sozinho no topo de uma hierarquia – vem ficando obsoleto gradualmente.

Não se pode negar que o compromisso com uma orientação relacional é desafiador. Os CEOs relacionais devem ser perspicazes o suficiente para perceberem quais relacionamentos podem beneficiar sua empresa e promover a prosperidade de maneira ampla, além de astutos o suficiente para concretizarem esses benefícios.

Em uma era de transições rápidas, os CEOs que forem capazes de manter uma visão clara e de permanecer adaptáveis serão arquitetos inovadores de um desempenho empresarial excepcional.

Em uma era de transições rápidas, os CEOs que forem capazes de manter uma visão clara e de permanecer adaptáveis serão arquitetos inovadores de um desempenho empresarial excepcional. Eles serão ousados e criativos, honrando tradições valiosas e, ao mesmo tempo, elaborando novas estratégias com benefícios que extrapolam a organização.

Esses CEOs, sobretudo se forem relacionais e autoconscientes, usarão sua vantagem ímpar, enriquecida por percepções de sua equipe e de seus stakeholders, para aproveitar oportunidades genuínas, bem como para superar ou contornar desafios. Reconhecerão que as aparentes polaridades entre pessoas e lucro, se sintetizadas de maneira criativa, podem ser motores de valor, em vez de problemas a resolver. E percorrerão o difícil caminho adaptativo dos antigos para os novos modelos de operação, inspirando sua organização e conduzindo-a ao longo dessa transição.

Flexibilidade envolve abertura, um apetite insaciável por aprendizado, presciência visionária para prever desafios e oportunidades futuras e capacidade de explorar as histórias de origem e os pontos fortes institucionais e para estimular a organização e obter o máximo dela.

Enquanto nos guiam em meio à complexidade até um futuro melhor, os CEOs devem manter valores fortes – reconhecendo sua responsabilidade de usar uma humanidade inabalável como bússola ou estrela guia ao tomarem decisões ou mudarem de caminho.

Cada época define suas próprias demandas de liderança. Em reação a isso, um grande líder não apenas aceita o desafio, como também leva a ele sua própria visão. Ricardo Bofill sabia que, para alcançar a excelência internacional, exercer a arquitetura à moda antiga não seria suficiente. Em vez disso, ele montou uma equipe diversificada e qualificada, levando as capacidades de todos ao limite enquanto, juntos, construíam de maneiras que ninguém havia imaginado antes, criando novos monumentos magníficos e inspiradores que celebram o imenso potencial da humanidade. No momento em que entramos em um período que apresenta desafios e oportunidades em escala mundial, é uma honra para nós, da Egon Zehnder, compartilhar as experiências de líderes que estão se empenhando para reinventar a si mesmos e à sua equipe, construindo juntos novas organizações. Esperamos que você nos acompanhe ao apresentarmos as dificuldades e conquistas – o drama humano imperfeito e inspirador – de suas histórias.

Assine a EXAME e acesse as notícias mais importantes em tempo real.

Acompanhe tudo sobre:ArquitetosArquiteturaCEOsEmpresáriosEmpresas

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se