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A debandada dos economistas republicanos

“Tenho amigos republicanos que acham que nada é pior do que a aposta dobrada nas políticas econômicas de Obama com Hillary Clinton na presidência. Como eles, não sou fã da agenda que prega o inchaço do Estado e o aumento dos impostos. Contudo, meus pares estão equivocados: as coisas podem, sim, piorar. Temo que piorariam […]

DONALD TRUMP: é o homem que prega o pior das propostas republicanas e abandona o que há de melhor no partido / Scott Olson / Staff / Getty Images
DR

Da Redação

Publicado em 12 de agosto de 2016 às 11h12.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h19.

“Tenho amigos republicanos que acham que nada é pior do que a aposta dobrada nas políticas econômicas de Obama com Hillary Clinton na presidência. Como eles, não sou fã da agenda que prega o inchaço do Estado e o aumento dos impostos. Contudo, meus pares estão equivocados: as coisas podem, sim, piorar. Temo que piorariam muito com Donald Trump”. Trecho extraído do blog de Greg Mankiw, renomado economista americano, professor de Harvard, e republicano convicto.

Muitos comentaristas e blogueiros brasileiros citam, sem grande conhecimento de causa, a “grande mídia” como responsável pelos ataques supostamente mal-intencionados e enviesados ao candidato à presidência dos EUA pelo partido republicano. Ecoando de forma simplória os argumentos da própria campanha de Donald Trump, dizem que os principais jornais e periódicos americanos e internacionais fazem uma investida desleal contra o candidato, algo parecido com o rótulo PIG (“Partido da Imprensa Golpista”) dado por alguns militantes da esquerda brasileira à mídia local. Curioso que os mesmos comentaristas que repudiam os defensores do PIG chamem de quase-PIG quem expõe com objetividade as inúmeras debilidades de Trump. Mas, divago.

Outro renomado economista republicano, também professor de Harvard, Martin Feldstein, declarou recentemente que não acredita que Trump saiba qual é seu plano para a economia americana. Feldstein foi Chairman do Conselho de Assessores Econômicos de Ronald Reagan, um dos formuladores das políticas que ficaram conhecidas como supply-side economics. Supply-side economics resume-se à ideia de que ao reduzir impostos, sobretudo impostos que incidem sobre as empresas, aumentam-se os incentivos para que invistam, criando mais empregos e propelindo o crescimento. O maior crescimento proveniente desse impulso atenua eventuais consequências fiscais negativas da queda da arrecadação, reza a cartilha do supply-side economics. Na prática, entretanto, não funciona bem assim. Empresas beneficiadas por impostos mais baixos não necessariamente investem mais, tampouco criam mais empregos. Às vezes o que fazem é utilizar tal folga de recursos para outros fins, impedindo que o dano fiscal decorrente da queda da arrecadação seja suavizado. Não é segredo que os governos de Reagan e de George Bush deixaram rombos fiscais consideráveis nas contas públicas americanas, posteriormente resolvidos pelos ajustes do democrata Bill Clinton.

Apesar disso e da ampla evidência empírica acadêmica sobre os efeitos quase inexistentes de reduções de impostos sobre o crescimento, republicanos continuam a insistir que esse seria o caminho mais rápido para o crescimento — esquecendo-se, convenientemente, que as projeções da dívida pública federal para os próximos dez anos é de que alcance os 90% do PIB, nível histórico. Em tempo: há mais evidências de que dívidas excessivas prejudicam o crescimento e a geração de empregos, do que evidências de que o supply-side economics funcione.

O plano econômico de Donald Trump, não surpreendentemente, prevê redução acentuada de impostos, sobretudo para os mais ricos e para as empresas, hasteando a bandeira do supply-side economics para impedir que mais republicanos o abandonem. O plano também prevê a simplificação do imposto de renda para pessoa física, reduzindo o número de faixas de 7 para 3. Aqui há um aceno claro para o Forbes Flat-Tax Proposal, a proposta formulada pelo magnata da Forbes em 1996 que pretendia criar imposto único para os EUA, e que jamais recebeu apoio incondicional de economistas do partido republicano por ser uma forma mais extrema — e, portanto, mais propensa a criar sérios problemas fiscais à frente — do supply-side economics. Em entrevista recente, Steve Forbes exortou Trump ao enquadrar sua campanha sob o risco de perder a eleição para Hillary Clinton.

Volto às palavras de Greg Mankiw, autor de tantos livros utilizados nos cursos de graduação em economia: “O Sr. Trump não expôs uma visão de mundo coerente, mas se restringiu a um tema recorrente — a hostilidade a um sistema comercial livre e aberto. De minha perspectiva como estudioso e formulador de políticas econômicas, isso por si o desqualifica (como candidato)”. Abertura comercial e incentivos à integração, duas bandeiras republicanas que muito bem fizeram ao mundo, haja vista a ampla documentação empírica a esse respeito.

Trump é o homem que prega o pior das propostas republicanas e abandona o que há de melhor. De fato, é difícil ter amplo conhecimento da economia e apoiá-lo, simultaneamente. Independentemente da chamada “mídia mainstream”, PIG às avessas, como querem alguns a quem falta domínio do tema.

MONICA-DE-BOLLE

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“Tenho amigos republicanos que acham que nada é pior do que a aposta dobrada nas políticas econômicas de Obama com Hillary Clinton na presidência. Como eles, não sou fã da agenda que prega o inchaço do Estado e o aumento dos impostos. Contudo, meus pares estão equivocados: as coisas podem, sim, piorar. Temo que piorariam muito com Donald Trump”. Trecho extraído do blog de Greg Mankiw, renomado economista americano, professor de Harvard, e republicano convicto.

Muitos comentaristas e blogueiros brasileiros citam, sem grande conhecimento de causa, a “grande mídia” como responsável pelos ataques supostamente mal-intencionados e enviesados ao candidato à presidência dos EUA pelo partido republicano. Ecoando de forma simplória os argumentos da própria campanha de Donald Trump, dizem que os principais jornais e periódicos americanos e internacionais fazem uma investida desleal contra o candidato, algo parecido com o rótulo PIG (“Partido da Imprensa Golpista”) dado por alguns militantes da esquerda brasileira à mídia local. Curioso que os mesmos comentaristas que repudiam os defensores do PIG chamem de quase-PIG quem expõe com objetividade as inúmeras debilidades de Trump. Mas, divago.

Outro renomado economista republicano, também professor de Harvard, Martin Feldstein, declarou recentemente que não acredita que Trump saiba qual é seu plano para a economia americana. Feldstein foi Chairman do Conselho de Assessores Econômicos de Ronald Reagan, um dos formuladores das políticas que ficaram conhecidas como supply-side economics. Supply-side economics resume-se à ideia de que ao reduzir impostos, sobretudo impostos que incidem sobre as empresas, aumentam-se os incentivos para que invistam, criando mais empregos e propelindo o crescimento. O maior crescimento proveniente desse impulso atenua eventuais consequências fiscais negativas da queda da arrecadação, reza a cartilha do supply-side economics. Na prática, entretanto, não funciona bem assim. Empresas beneficiadas por impostos mais baixos não necessariamente investem mais, tampouco criam mais empregos. Às vezes o que fazem é utilizar tal folga de recursos para outros fins, impedindo que o dano fiscal decorrente da queda da arrecadação seja suavizado. Não é segredo que os governos de Reagan e de George Bush deixaram rombos fiscais consideráveis nas contas públicas americanas, posteriormente resolvidos pelos ajustes do democrata Bill Clinton.

Apesar disso e da ampla evidência empírica acadêmica sobre os efeitos quase inexistentes de reduções de impostos sobre o crescimento, republicanos continuam a insistir que esse seria o caminho mais rápido para o crescimento — esquecendo-se, convenientemente, que as projeções da dívida pública federal para os próximos dez anos é de que alcance os 90% do PIB, nível histórico. Em tempo: há mais evidências de que dívidas excessivas prejudicam o crescimento e a geração de empregos, do que evidências de que o supply-side economics funcione.

O plano econômico de Donald Trump, não surpreendentemente, prevê redução acentuada de impostos, sobretudo para os mais ricos e para as empresas, hasteando a bandeira do supply-side economics para impedir que mais republicanos o abandonem. O plano também prevê a simplificação do imposto de renda para pessoa física, reduzindo o número de faixas de 7 para 3. Aqui há um aceno claro para o Forbes Flat-Tax Proposal, a proposta formulada pelo magnata da Forbes em 1996 que pretendia criar imposto único para os EUA, e que jamais recebeu apoio incondicional de economistas do partido republicano por ser uma forma mais extrema — e, portanto, mais propensa a criar sérios problemas fiscais à frente — do supply-side economics. Em entrevista recente, Steve Forbes exortou Trump ao enquadrar sua campanha sob o risco de perder a eleição para Hillary Clinton.

Volto às palavras de Greg Mankiw, autor de tantos livros utilizados nos cursos de graduação em economia: “O Sr. Trump não expôs uma visão de mundo coerente, mas se restringiu a um tema recorrente — a hostilidade a um sistema comercial livre e aberto. De minha perspectiva como estudioso e formulador de políticas econômicas, isso por si o desqualifica (como candidato)”. Abertura comercial e incentivos à integração, duas bandeiras republicanas que muito bem fizeram ao mundo, haja vista a ampla documentação empírica a esse respeito.

Trump é o homem que prega o pior das propostas republicanas e abandona o que há de melhor. De fato, é difícil ter amplo conhecimento da economia e apoiá-lo, simultaneamente. Independentemente da chamada “mídia mainstream”, PIG às avessas, como querem alguns a quem falta domínio do tema.

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