Zema é a bola da vez da direita?
Desde o início do ano, a direita ficou sem líder e, por alguns dias, ficou envolta em um vácuo
Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2023 às 17h37.
Não existe vácuo na política. A cada momento em que um líder se recolhe ou sai de cena, outra personalidade se apresenta rapidamente para ocupar o lugar vazio. Nos últimos anos, a direita se viu representada por Jair Bolsonaro, um capitão reformado que acabou aglutinando em torno de si uma tonelada de votos vindos dos do eixo mais conservador do eleitorado.
A ascensão de uma figura como Bolsonaro tem muito a ver com a polarização política que surgiu no Brasil a partir da Operação Lava-Jato. Boa parte dos brasileiros, chocados com o tamanho dos desvios realizados na Petrobras, passaram a nutrir um sentimento de antipetismo que desaguou no endeusamento de figuras como Sergio Moro e o próprio Bolsonaro.
O ex-presidente, no entanto, foi ao longo de seu mandato turbinando seus índices de rejeição. Embora a economia seja geralmente um fator preponderante de julgamento de um governo, com Bolsonaro tivemos um outro fator de aversão – a própria personalidade do ex-mandatário, especialmente entre a juventude e o público feminino. O estilo politicamente incorreto e agressivo foi afastando os eleitores de centro e desagradando a classe média menos conservadora.
Bolsonaro errou na dose ao achar que, apesar dessa rejeição, ele seria escolhido contra Luiz Inácio Lula da Silva em um segundo turno, pois o candidato do PT seria mais desprezado que ele próprio. Como se sabe, não foi o que aconteceu. Os erros de Bolsonaro acabaram reabilitando Lula, que foi eleito para um terceiro mandato. Com a derrota, o ex-presidente se recolheu e deu pouquíssimas declarações a seus seguidores. Quando seu mandato estava acabando, foi para os Estados Unidos e lá ficou em um período de reclusão.
Desde o início do ano, a direita ficou sem líder e, por alguns dias, ficou envolta em um vácuo.
Mas, ao julgar pelas declarações recentes, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, está disposto a ocupar esse espaço. Em entrevista à Rádio Gaúcha, do Rio Grande do Sul, ele disse: “Me parece que houve um erro da direita radical, que, lembrando, é uma minoria, e houve um erro também, talvez até proposital, do governo federal, que fez vista grossa para que o pior acontecesse e ele se fizesse posteriormente de vítima”.
Ao cutucar a onça, Zema chamou a atenção de todos os oposicionistas. E, para isso, utilizou um expediente clássico de quem é político fora do eixo Rio-São Paulo e deseja aparecer na imprensa: deu entrevista para um veículo grande, localizado fora de seu estado, como é o caso da Rádio Gaúcha.
Como Bolsonaro, embora em quantidades infinitamente menores, Zema também tem suas tiradas politicamente incorretas. Em 2021, durante uma entrevista, perguntei a ele sobre a crise entre o seu partido, o Novo, e seu fundador, João Amoêdo. Sua resposta foi parar em vários órgãos de imprensa: “Está havendo, assim, uma obsessão [de Amoêdo]. E quando alguém fica obcecado, fica cego. Como exemplo, eu sei que isso acontece tanto com homens quanto com mulheres, mas, um percentual mais elevado com mulheres: é a mulher que separa e passa a ser a obsessão da vida dela destruir, atacar o ex-cônjuge”.
No ano passado, ele voltaria à carga, desagradando novamente o eleitorado feminino e, evidentemente, parte do masculino, ao dizer: “A questão da opressão contra a mulher está dentro desse contexto e ela extrapola classes sociais, mas nós temos de ter ferramentas que inibam, né? Isso que a gente poderia chamar meio que instinto natural do ser humano”.
Essas escorregadas mostram que Zema, como vários colegas do sexo masculino, traz uma visão preconceituosa dentro de si. No entanto, se quiser vencer uma eleição presidencial, não pode continuar com esse comportamento – ele precisa polir suas frases e, principalmente, suas ideias. Se Zema tiver intenção de liderar a direita, deve se lembrar que para vencer a eleição vai precisar dos votos do Centro. E, neste caso, precisa deixar de lado o discurso machista.
Comparado com Bolsonaro, Zema é um nome muito mais competitivo para reconduzir a direita ao poder. Mas, para isso, ele vai precisar ouvir seus assessores para se encaixar melhor no perfil desejado pelos eleitores. Os centristas, depois de 2018, não vão mais relevar discursos politicamente incorretos e agressividade gratuita. E vão deixar isso bem claro no pleito de 2024.
Não existe vácuo na política. A cada momento em que um líder se recolhe ou sai de cena, outra personalidade se apresenta rapidamente para ocupar o lugar vazio. Nos últimos anos, a direita se viu representada por Jair Bolsonaro, um capitão reformado que acabou aglutinando em torno de si uma tonelada de votos vindos dos do eixo mais conservador do eleitorado.
A ascensão de uma figura como Bolsonaro tem muito a ver com a polarização política que surgiu no Brasil a partir da Operação Lava-Jato. Boa parte dos brasileiros, chocados com o tamanho dos desvios realizados na Petrobras, passaram a nutrir um sentimento de antipetismo que desaguou no endeusamento de figuras como Sergio Moro e o próprio Bolsonaro.
O ex-presidente, no entanto, foi ao longo de seu mandato turbinando seus índices de rejeição. Embora a economia seja geralmente um fator preponderante de julgamento de um governo, com Bolsonaro tivemos um outro fator de aversão – a própria personalidade do ex-mandatário, especialmente entre a juventude e o público feminino. O estilo politicamente incorreto e agressivo foi afastando os eleitores de centro e desagradando a classe média menos conservadora.
Bolsonaro errou na dose ao achar que, apesar dessa rejeição, ele seria escolhido contra Luiz Inácio Lula da Silva em um segundo turno, pois o candidato do PT seria mais desprezado que ele próprio. Como se sabe, não foi o que aconteceu. Os erros de Bolsonaro acabaram reabilitando Lula, que foi eleito para um terceiro mandato. Com a derrota, o ex-presidente se recolheu e deu pouquíssimas declarações a seus seguidores. Quando seu mandato estava acabando, foi para os Estados Unidos e lá ficou em um período de reclusão.
Desde o início do ano, a direita ficou sem líder e, por alguns dias, ficou envolta em um vácuo.
Mas, ao julgar pelas declarações recentes, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, está disposto a ocupar esse espaço. Em entrevista à Rádio Gaúcha, do Rio Grande do Sul, ele disse: “Me parece que houve um erro da direita radical, que, lembrando, é uma minoria, e houve um erro também, talvez até proposital, do governo federal, que fez vista grossa para que o pior acontecesse e ele se fizesse posteriormente de vítima”.
Ao cutucar a onça, Zema chamou a atenção de todos os oposicionistas. E, para isso, utilizou um expediente clássico de quem é político fora do eixo Rio-São Paulo e deseja aparecer na imprensa: deu entrevista para um veículo grande, localizado fora de seu estado, como é o caso da Rádio Gaúcha.
Como Bolsonaro, embora em quantidades infinitamente menores, Zema também tem suas tiradas politicamente incorretas. Em 2021, durante uma entrevista, perguntei a ele sobre a crise entre o seu partido, o Novo, e seu fundador, João Amoêdo. Sua resposta foi parar em vários órgãos de imprensa: “Está havendo, assim, uma obsessão [de Amoêdo]. E quando alguém fica obcecado, fica cego. Como exemplo, eu sei que isso acontece tanto com homens quanto com mulheres, mas, um percentual mais elevado com mulheres: é a mulher que separa e passa a ser a obsessão da vida dela destruir, atacar o ex-cônjuge”.
No ano passado, ele voltaria à carga, desagradando novamente o eleitorado feminino e, evidentemente, parte do masculino, ao dizer: “A questão da opressão contra a mulher está dentro desse contexto e ela extrapola classes sociais, mas nós temos de ter ferramentas que inibam, né? Isso que a gente poderia chamar meio que instinto natural do ser humano”.
Essas escorregadas mostram que Zema, como vários colegas do sexo masculino, traz uma visão preconceituosa dentro de si. No entanto, se quiser vencer uma eleição presidencial, não pode continuar com esse comportamento – ele precisa polir suas frases e, principalmente, suas ideias. Se Zema tiver intenção de liderar a direita, deve se lembrar que para vencer a eleição vai precisar dos votos do Centro. E, neste caso, precisa deixar de lado o discurso machista.
Comparado com Bolsonaro, Zema é um nome muito mais competitivo para reconduzir a direita ao poder. Mas, para isso, ele vai precisar ouvir seus assessores para se encaixar melhor no perfil desejado pelos eleitores. Os centristas, depois de 2018, não vão mais relevar discursos politicamente incorretos e agressividade gratuita. E vão deixar isso bem claro no pleito de 2024.