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Voto nulo: essa pode ser a estratégia de Bolsonaro para combater Lula

Buscar o apoio do eleitor jovem de classe média é algo descartado pelo Planalto

Urnas eletrônicas em depósito do TSE (Heuler Andrey/AFP/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 31 de março de 2022 às 11h02.

Aluizio Falcão Filho

O presidente Jair Bolsonaro obteve uma melhora nas últimas pesquisas, mas em um ritmo de recuperação que deixa a desejar. A estratégia para obter a reeleição, assim, precisa ser repensada e recalculada. Alguns assessores de campanha acreditam ter a solução para o problema e começam a propor ao Planalto um estratagema inusitado: já que é muito difícil fazer os apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva virarem a casaca, talvez seja mais fácil convencer um pequeno grupo de apoiadores do petista a enveredar pelo caminho do voto nulo.

Lula ainda não sofreu um grande ataque por parte de bolsonaristas em 2022. Mas espera-se que os mísseis comecem a ser endereçados a ele em breve (um ensaio veio com o episódio do relógio Piaget). A intenção do Planalto é relembrar todas as acusações de corrupção sofridas pelo PT no âmbito da Operação Lava-Jato, além de colar no petista a defesa de uma pauta progressista de costumes que pode desagradar a classe média.

Com isso, esses gurus eleitorais de Bolsonaro querem convencer aqueles que se decepcionaram com o presidente a desistir do pleito. Dessa forma, não ganham um voto, mas evitam que o adversário leve um sufrágio a seu favor.

Fenômeno “nem-nem”

Dentro de um clima agressivo e emocional, convencer os insatisfeitos é quase impossível. Portanto, a possibilidade de se inflar o fenômeno “nem-nem”, ou seja, o eleitorado que não quer saber de Bolsonaro ou de Lula, é uma solução que parece ter eco no Planalto.

O que pode fazer Lula? Antecipar esse movimento, falando sobre as eventuais acusações antes que sejam formuladas e, assim, tomar conta da narrativa – deixando os situacionistas com a tarefa de reagir.

Mas, caso receba cutucões inesperados, Lula não deixará estes ataques em branco.

Contra-ataque

O contra-ataque de Lula virá a galope: as gravações do ministro Paulo Guedes falando, em tom de crítica, que as empregadas domésticas, em um passado recente, faziam viagens internacionais e iam à Disney. Outro ponto que deve ser explorado é a fala de Guedes sobre o porteiro de seu prédio, cujo filho entrou na faculdade – e o ministro achou tal fato um absurdo por conta das notas tiradas pelo rapaz no vestibular (fato que será ignorado na comunicação do PT).

Lula vai evidentemente dizer que ele e seus partido estão ao lado dos menos favorecidos – e que os defenderá da política econômica de Paulo Guedes, que será taxada de elitista e antiquada. A mensagem subliminar será a de que tempo bom e de fartura no Brasil foi o seu mandato, de 2003 a 2009.

A estratégia de Bolsonaro deve surtir efeito em alguns casos, mas não deverá repercutir na grande maioria dos eleitores de Lula, que ou são fortes apoiadores do ex-presidente ou possuem uma rejeição abissal em relação ao atual inquilino do Palácio do Alvorada. Mas, para vencer, o presidente precisa apenas convencer o suficiente para transformar a sua (hoje) minoria em maioria.

É como naquela piada: não é preciso correr mais que o leão. Basta correr mais que o sujeito que está ao lado. A grande dúvida, porém, é se Bolsonaro conseguirá convencer um número expressivo de eleitores a cravar “nulo” nas próximas eleições.

Jovens de classe média

A equipe do Planalto, aparentemente, desistiu de trabalhar o voto dos jovens de classe média depois das vaias e apupos vistos no festival Lolapalooza. Vai se concentrar nos eleitores que ganham menos de 2 salários mínimos e também no público feminino de baixa renda, grupos nos quais — segundo os especialistas do governo — há alguma chance de reverter intenções eleitorais.

Os dois candidatos, porém, já atentaram para uma outra oportunidade: as pesquisas apontam um índice de indecisos, brancos e nulos em torno de 25 %. Nas últimas eleições, a soma de todos esses votos desperdiçados ultrapassou os 30%. Ou seja, talvez os ânimos exaltados tenham reduzido o volume de pessoas que não quiseram votar em 2018, levando-nos a um pragmatismo forçado. Mas estamos falando de um quarto do total de eleitores – um percentual suficiente para consolidar o favoritismo de um candidato ou providenciar a virada de outro.

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Aluizio Falcão Filho

O presidente Jair Bolsonaro obteve uma melhora nas últimas pesquisas, mas em um ritmo de recuperação que deixa a desejar. A estratégia para obter a reeleição, assim, precisa ser repensada e recalculada. Alguns assessores de campanha acreditam ter a solução para o problema e começam a propor ao Planalto um estratagema inusitado: já que é muito difícil fazer os apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva virarem a casaca, talvez seja mais fácil convencer um pequeno grupo de apoiadores do petista a enveredar pelo caminho do voto nulo.

Lula ainda não sofreu um grande ataque por parte de bolsonaristas em 2022. Mas espera-se que os mísseis comecem a ser endereçados a ele em breve (um ensaio veio com o episódio do relógio Piaget). A intenção do Planalto é relembrar todas as acusações de corrupção sofridas pelo PT no âmbito da Operação Lava-Jato, além de colar no petista a defesa de uma pauta progressista de costumes que pode desagradar a classe média.

Com isso, esses gurus eleitorais de Bolsonaro querem convencer aqueles que se decepcionaram com o presidente a desistir do pleito. Dessa forma, não ganham um voto, mas evitam que o adversário leve um sufrágio a seu favor.

Fenômeno “nem-nem”

Dentro de um clima agressivo e emocional, convencer os insatisfeitos é quase impossível. Portanto, a possibilidade de se inflar o fenômeno “nem-nem”, ou seja, o eleitorado que não quer saber de Bolsonaro ou de Lula, é uma solução que parece ter eco no Planalto.

O que pode fazer Lula? Antecipar esse movimento, falando sobre as eventuais acusações antes que sejam formuladas e, assim, tomar conta da narrativa – deixando os situacionistas com a tarefa de reagir.

Mas, caso receba cutucões inesperados, Lula não deixará estes ataques em branco.

Contra-ataque

O contra-ataque de Lula virá a galope: as gravações do ministro Paulo Guedes falando, em tom de crítica, que as empregadas domésticas, em um passado recente, faziam viagens internacionais e iam à Disney. Outro ponto que deve ser explorado é a fala de Guedes sobre o porteiro de seu prédio, cujo filho entrou na faculdade – e o ministro achou tal fato um absurdo por conta das notas tiradas pelo rapaz no vestibular (fato que será ignorado na comunicação do PT).

Lula vai evidentemente dizer que ele e seus partido estão ao lado dos menos favorecidos – e que os defenderá da política econômica de Paulo Guedes, que será taxada de elitista e antiquada. A mensagem subliminar será a de que tempo bom e de fartura no Brasil foi o seu mandato, de 2003 a 2009.

A estratégia de Bolsonaro deve surtir efeito em alguns casos, mas não deverá repercutir na grande maioria dos eleitores de Lula, que ou são fortes apoiadores do ex-presidente ou possuem uma rejeição abissal em relação ao atual inquilino do Palácio do Alvorada. Mas, para vencer, o presidente precisa apenas convencer o suficiente para transformar a sua (hoje) minoria em maioria.

É como naquela piada: não é preciso correr mais que o leão. Basta correr mais que o sujeito que está ao lado. A grande dúvida, porém, é se Bolsonaro conseguirá convencer um número expressivo de eleitores a cravar “nulo” nas próximas eleições.

Jovens de classe média

A equipe do Planalto, aparentemente, desistiu de trabalhar o voto dos jovens de classe média depois das vaias e apupos vistos no festival Lolapalooza. Vai se concentrar nos eleitores que ganham menos de 2 salários mínimos e também no público feminino de baixa renda, grupos nos quais — segundo os especialistas do governo — há alguma chance de reverter intenções eleitorais.

Os dois candidatos, porém, já atentaram para uma outra oportunidade: as pesquisas apontam um índice de indecisos, brancos e nulos em torno de 25 %. Nas últimas eleições, a soma de todos esses votos desperdiçados ultrapassou os 30%. Ou seja, talvez os ânimos exaltados tenham reduzido o volume de pessoas que não quiseram votar em 2018, levando-nos a um pragmatismo forçado. Mas estamos falando de um quarto do total de eleitores – um percentual suficiente para consolidar o favoritismo de um candidato ou providenciar a virada de outro.

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