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Politicamente incorreto de esquerda?

Na última semana, Lula cometeu algumas gafes. Mas a pior de todas só teve mesmo repercussão no final de semana prolongado

(AFP/AFP Photo)

Publicado em 24 de abril de 2023 às 20h27.

Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu algumas gafes. Mas a pior de todas só teve mesmo repercussão no final de semana prolongado. A razão para mais uma celeuma foi a declaração sobre pessoas com transtornos mentais. “Sempre ouvi dizer que a Organização Mundial da Saúde afirmou que a humanidade deve ter mais ou menos 15% de pessoas com problema de deficiência mental. Se esse número é verdadeiro, e você pega o Brasil com 220 milhões de habitantes, se você pegar 15% disso significa que temos quase 30 milhões de pessoas com problema de desequilíbrio de parafuso”, afirmou Lula em um encontro com chefes dos Três Poderes, governadores e prefeitos.

Na verdade, a OMS divulgou em 2019 que 12,5 % da população sofre de algum tipo de transtorno mental, seja de distúrbios intelectuais, emocionais ou comportamentais. Ou seja, colocou no mesmo balaio pessoas que cometeram violência nas escolas com gente absolutamente pacífica e que não tem culpa de sofrer de algum tipo de disfunção cerebral.

Lula foi politicamente incorreto e suas palavras provocaram reação de várias entidades ou de familiares de indivíduos que são acometidos por problemas mentais. No sábado, pediu desculpas em nota oficial. “Não devemos relacionar qualquer tipo de violência a pessoas com deficiência ou pessoas que tenham questões de saúde mental. Não vamos mais reproduzir esse estereótipo. Tanto eu quanto nosso governo estamos abertos ao diálogo”, escreveu o presidente, que ainda ressalvou que não tem “vergonha de assumir que” segue “aprendendo e buscando evoluir”.

A fala de Lula mostra duas coisas.

A primeira é que líderes de esquerda também podem ser politicamente incorretos. Ao contrário do que muitos pensam, essa característica não é monopólio da direita ou de personagens como o ex-presidente Jair Bolsonaro. Apesar de contar com uma claque que defende as minorias e é contrária a manifestações preconceituosas, o presidente também solta aqui e ali os seus petardos contra o discurso que elimina a linguagem desrespeitosa.

O outro ponto: Lula, no passado, também criticou o comportamento neutro, e talvez essa convicção continue viva dentro do presidente. Tomemos como exemplo o que ele disse há exatamente um ano, em entrevista concedida a youtubers: “O mundo está pesado. Sabe, todas as piadas agora viraram politicamente erradas. Então, não há mais graça. Não queremos um mundo unipolar, em que só pode estar na mesa um pensamento, uma tese. Queremos um mundo multipolar, que tenha 500 pessoas discutindo na mesa. Aí, sim, a gente vai ter um mundo feliz. O cara contando piada de nordestino e eu rindo. Eu contando piada de outras pessoas, e as pessoas rindo”.

Voltando no tempo, há outros exemplos mais pesados. Em uma gravação de 2000, diz ao prefeito de Pelotas que a cidade era uma “exportadora de v…”. Mais tarde, em 2003, em viagem à Namíbia, afirmou o seguinte: “Quem chega em Windhoek não parece que está em um país africano. Poucas cidades do mundo são tão limpas, tão bonitas arquitetonicamente e têm um povo tão extraordinário como tem essa cidade”. Mais tarde, em 2010, afirmou que “uma mulher não pode ser submissa ao homem por causa de um prato de comida – tem de ser submissa porque gosta dele”. Seis anos mais tarde, chamou as feministas do PT de “mulheres do grelo duro”.

Como se pode ver, o presidente, no fundo, tem fortes preconceitos que são disfarçados pelo convívio social. Neste ponto, ele é um ser humano como qualquer um, que convive com suas próprias contradições e precisa aprender a evoluir como pessoa. O problema, porém, é que ouvimos os petistas execrando o comportamento irritante e desrespeitoso de Bolsonaro e, agora, fazem vista grossa quando Lula escorrega e escancara uma visão antiquada de mundo.

Será que ele conseguirá aprender com os próprios erros? Aguardemos.

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Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu algumas gafes. Mas a pior de todas só teve mesmo repercussão no final de semana prolongado. A razão para mais uma celeuma foi a declaração sobre pessoas com transtornos mentais. “Sempre ouvi dizer que a Organização Mundial da Saúde afirmou que a humanidade deve ter mais ou menos 15% de pessoas com problema de deficiência mental. Se esse número é verdadeiro, e você pega o Brasil com 220 milhões de habitantes, se você pegar 15% disso significa que temos quase 30 milhões de pessoas com problema de desequilíbrio de parafuso”, afirmou Lula em um encontro com chefes dos Três Poderes, governadores e prefeitos.

Na verdade, a OMS divulgou em 2019 que 12,5 % da população sofre de algum tipo de transtorno mental, seja de distúrbios intelectuais, emocionais ou comportamentais. Ou seja, colocou no mesmo balaio pessoas que cometeram violência nas escolas com gente absolutamente pacífica e que não tem culpa de sofrer de algum tipo de disfunção cerebral.

Lula foi politicamente incorreto e suas palavras provocaram reação de várias entidades ou de familiares de indivíduos que são acometidos por problemas mentais. No sábado, pediu desculpas em nota oficial. “Não devemos relacionar qualquer tipo de violência a pessoas com deficiência ou pessoas que tenham questões de saúde mental. Não vamos mais reproduzir esse estereótipo. Tanto eu quanto nosso governo estamos abertos ao diálogo”, escreveu o presidente, que ainda ressalvou que não tem “vergonha de assumir que” segue “aprendendo e buscando evoluir”.

A fala de Lula mostra duas coisas.

A primeira é que líderes de esquerda também podem ser politicamente incorretos. Ao contrário do que muitos pensam, essa característica não é monopólio da direita ou de personagens como o ex-presidente Jair Bolsonaro. Apesar de contar com uma claque que defende as minorias e é contrária a manifestações preconceituosas, o presidente também solta aqui e ali os seus petardos contra o discurso que elimina a linguagem desrespeitosa.

O outro ponto: Lula, no passado, também criticou o comportamento neutro, e talvez essa convicção continue viva dentro do presidente. Tomemos como exemplo o que ele disse há exatamente um ano, em entrevista concedida a youtubers: “O mundo está pesado. Sabe, todas as piadas agora viraram politicamente erradas. Então, não há mais graça. Não queremos um mundo unipolar, em que só pode estar na mesa um pensamento, uma tese. Queremos um mundo multipolar, que tenha 500 pessoas discutindo na mesa. Aí, sim, a gente vai ter um mundo feliz. O cara contando piada de nordestino e eu rindo. Eu contando piada de outras pessoas, e as pessoas rindo”.

Voltando no tempo, há outros exemplos mais pesados. Em uma gravação de 2000, diz ao prefeito de Pelotas que a cidade era uma “exportadora de v…”. Mais tarde, em 2003, em viagem à Namíbia, afirmou o seguinte: “Quem chega em Windhoek não parece que está em um país africano. Poucas cidades do mundo são tão limpas, tão bonitas arquitetonicamente e têm um povo tão extraordinário como tem essa cidade”. Mais tarde, em 2010, afirmou que “uma mulher não pode ser submissa ao homem por causa de um prato de comida – tem de ser submissa porque gosta dele”. Seis anos mais tarde, chamou as feministas do PT de “mulheres do grelo duro”.

Como se pode ver, o presidente, no fundo, tem fortes preconceitos que são disfarçados pelo convívio social. Neste ponto, ele é um ser humano como qualquer um, que convive com suas próprias contradições e precisa aprender a evoluir como pessoa. O problema, porém, é que ouvimos os petistas execrando o comportamento irritante e desrespeitoso de Bolsonaro e, agora, fazem vista grossa quando Lula escorrega e escancara uma visão antiquada de mundo.

Será que ele conseguirá aprender com os próprios erros? Aguardemos.

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