Petrobras: já vimos esse filme e morremos no final
A manipulação de preços de combustíveis para segurar os índices não é exatamente um monopólio petista
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Publicado em 7 de agosto de 2023 às 12h38.
A defasagem do preço da gasolina em relação às cotações internacionais de petróleo está em torno de 25 %. O óleo diesel segue a mesma toada: os preços nacionais estão 21 % menores do que a paridade internacional. A nova política de preços da Petrobras já faz efeitos no caixa da empresa: o lucro da companhia no segundo trimestre foi de R$ 28,8 bilhões, um resultado 47 % abaixo do registrado no mesmo período de 2022.
Apesar disso, nem a Petrobras nem o governo se mostram interessados em, na melhor das hipóteses, diminuir o descompasso atual. A explicação está na inflação e nos juros da Selic. Na semana que passou, finalmente, o Banco Central promoveu uma queda nas taxas nacionais, reduzindo-as de 13,75 % para 13,25 % ao ano. Essa queda foi possível por conta de uma indiscutível tendência de queda da espiral inflacionária.
O que aconteceria, no entanto, se as bombas dos postos fossem reajustadas para acompanhar a evolução do mercado internacional?
A resposta é óbvia: haveria um repique da inflação, pois os combustíveis interferem na formação de preços de praticamente todas as mercadorias. Se a inflação der um sinal de alta, os juros podem voltar a subir (ou, na melhor das hipóteses, deixar de cair).
Isso seria um verdadeiro desastre para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que joga a culpa no ritmo lento de recuperação econômica nas costas do presidente do BC, Roberto Campos Neto (quem, por sinal, votou juntamente com o diretor do Banco Central indicado pelo PT, Gabriel Galípolo, por uma queda nas taxas de meio ponto percentual). Lula e os petistas de maneira geral (em especial, a presidente do partido, Gleisi Hoffman) dizem que os juros poderiam ter caído há muito tempo e que isso somente não ocorreu porque Campos Neto é bolsonarista e “não entende o Brasil”.
Ocorre que, até recentemente, o chamado núcleo da inflação continuava a mostrar fôlego. Isso causou a relutância no BC em promover uma redução de taxas. Mas, se os reajustes da gasolina promoverem uma remarcação em massa de preços, a estratégia do BC pode ser revista.
Para segurar o índice inflacionário e promover a queda dos juros, Lula vai repetir a estratégia de Dilma Rousseff: jogar a conta no colo dos acionistas da Petrobras. Em 2014, o primeiro ano em que Dilma tirou esse coelho da cartola, a Petrobras teve um prejuízo de R$ 21,5 bilhões, contra um lucro de R$ 23,6 bilhões em 2013. Durante os anos em que a petista esteve no Planalto, o valor de mercado da companhia encolheu 57 %. E o custo de segurar o preço na bomba foi estimado em R$ 100 bilhões.
Se a Petrobras fosse uma companhia 100 % estatal, essa prática já seria condenável, pois a cobertura do rombo sairia do Tesouro. Ocorre que a Petrobras é de capital misto, ou seja, possui acionistas privados. Para ser mais específico, em números de abril de 2022, são 718.185 pessoas físicas, 5.931 pessoas jurídicas e 2.949 investidores institucionais. Portanto, o rombo provocado pela discrepância de preços será coberto pelo caixa da empresa e por empréstimos bancários – o que causará impacto direto nos dividendos dos acionistas e nas cotações dos papeis.
A manipulação de preços de combustíveis para segurar os índices não é exatamente um monopólio petista. Jair Bolsonaro tentou fazer isso e não conseguiu – mas essa prática foi altamente disseminada pelo general Ernesto Geisel em seu governo (ele mesmo, diga-se, um ex-presidente da Petrobras).
Lula tentará manter a nova política da Petrobras nessa mesma toada por algum tempo, torcendo para que o vai e vem das cotações reduza a defasagem e melhore o caixa da companhia. Hoje, porém, o barril de petróleo está cotado em US$ 85 e as previsões apontam que, em 2024, a cotação deverá ser de US$ 100.
Portanto, é de se esperar que o rombo apenas aumente daqui para frente. E que, em algum momento, a empresa tenha de pagar pela irresponsabilidade do governo, drenando seus próprios recursos e tendo de elevar o preço da bomba de uma vez só, dando um baita susto nos consumidores e provocando uma alta inflacionária generalizada. A Petrobras é protagonista de um filme que já vimos – e no qual todos nós morremos no final.
A defasagem do preço da gasolina em relação às cotações internacionais de petróleo está em torno de 25 %. O óleo diesel segue a mesma toada: os preços nacionais estão 21 % menores do que a paridade internacional. A nova política de preços da Petrobras já faz efeitos no caixa da empresa: o lucro da companhia no segundo trimestre foi de R$ 28,8 bilhões, um resultado 47 % abaixo do registrado no mesmo período de 2022.
Apesar disso, nem a Petrobras nem o governo se mostram interessados em, na melhor das hipóteses, diminuir o descompasso atual. A explicação está na inflação e nos juros da Selic. Na semana que passou, finalmente, o Banco Central promoveu uma queda nas taxas nacionais, reduzindo-as de 13,75 % para 13,25 % ao ano. Essa queda foi possível por conta de uma indiscutível tendência de queda da espiral inflacionária.
O que aconteceria, no entanto, se as bombas dos postos fossem reajustadas para acompanhar a evolução do mercado internacional?
A resposta é óbvia: haveria um repique da inflação, pois os combustíveis interferem na formação de preços de praticamente todas as mercadorias. Se a inflação der um sinal de alta, os juros podem voltar a subir (ou, na melhor das hipóteses, deixar de cair).
Isso seria um verdadeiro desastre para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que joga a culpa no ritmo lento de recuperação econômica nas costas do presidente do BC, Roberto Campos Neto (quem, por sinal, votou juntamente com o diretor do Banco Central indicado pelo PT, Gabriel Galípolo, por uma queda nas taxas de meio ponto percentual). Lula e os petistas de maneira geral (em especial, a presidente do partido, Gleisi Hoffman) dizem que os juros poderiam ter caído há muito tempo e que isso somente não ocorreu porque Campos Neto é bolsonarista e “não entende o Brasil”.
Ocorre que, até recentemente, o chamado núcleo da inflação continuava a mostrar fôlego. Isso causou a relutância no BC em promover uma redução de taxas. Mas, se os reajustes da gasolina promoverem uma remarcação em massa de preços, a estratégia do BC pode ser revista.
Para segurar o índice inflacionário e promover a queda dos juros, Lula vai repetir a estratégia de Dilma Rousseff: jogar a conta no colo dos acionistas da Petrobras. Em 2014, o primeiro ano em que Dilma tirou esse coelho da cartola, a Petrobras teve um prejuízo de R$ 21,5 bilhões, contra um lucro de R$ 23,6 bilhões em 2013. Durante os anos em que a petista esteve no Planalto, o valor de mercado da companhia encolheu 57 %. E o custo de segurar o preço na bomba foi estimado em R$ 100 bilhões.
Se a Petrobras fosse uma companhia 100 % estatal, essa prática já seria condenável, pois a cobertura do rombo sairia do Tesouro. Ocorre que a Petrobras é de capital misto, ou seja, possui acionistas privados. Para ser mais específico, em números de abril de 2022, são 718.185 pessoas físicas, 5.931 pessoas jurídicas e 2.949 investidores institucionais. Portanto, o rombo provocado pela discrepância de preços será coberto pelo caixa da empresa e por empréstimos bancários – o que causará impacto direto nos dividendos dos acionistas e nas cotações dos papeis.
A manipulação de preços de combustíveis para segurar os índices não é exatamente um monopólio petista. Jair Bolsonaro tentou fazer isso e não conseguiu – mas essa prática foi altamente disseminada pelo general Ernesto Geisel em seu governo (ele mesmo, diga-se, um ex-presidente da Petrobras).
Lula tentará manter a nova política da Petrobras nessa mesma toada por algum tempo, torcendo para que o vai e vem das cotações reduza a defasagem e melhore o caixa da companhia. Hoje, porém, o barril de petróleo está cotado em US$ 85 e as previsões apontam que, em 2024, a cotação deverá ser de US$ 100.
Portanto, é de se esperar que o rombo apenas aumente daqui para frente. E que, em algum momento, a empresa tenha de pagar pela irresponsabilidade do governo, drenando seus próprios recursos e tendo de elevar o preço da bomba de uma vez só, dando um baita susto nos consumidores e provocando uma alta inflacionária generalizada. A Petrobras é protagonista de um filme que já vimos – e no qual todos nós morremos no final.