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Os heróis anônimos da vacinação

O SUS, que muitos atacaram no passado, é a principal causa de termos vacinado tão rapidamente cerca de 82 milhões de pessoas

Vacinação no estado de São Paulo (Governo do Estado de São Paulo/Flickr)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de junho de 2021 às 13h14.

Aluizio Falcão Filho

Ontem, tomei a minha primeira dose da vacina contra a Covid-19 . Foi uma experiência inesquecível. Como defensor de uma agenda liberal para o Brasil, costumo torcer o nariz para tudo o que está no âmbito estatal. Acredito que a iniciativa privada sempre executará uma tarefa melhor que o poder público – e foi com esse espírito que me dirigi à Unidade Básica de Saúde na qual iria me vacinar. Me preparei psicologicamente e esperei por filas, desorganização e, principalmente, funcionários públicos mal-humorados.

Chegando lá, deparei-me com uma situação totalmente diferente da imaginada. Os primeiros atendentes foram muito solícitos e gentis, organizando a fila utilizando uma combinação de paciência e firmeza. Neste momento, ainda estava do lado de fora da unidade e percebia uma certa euforia entre aqueles que esperavam. Um senhor à minha frente, inclusive, dava pulinhos de alegria e conversava alegremente com uma moça adiante.

Rapidamente, veio uma atendente com um tablet e recolheu meus dados a partir do número de CPF. Qual não foi a minha surpresa quando ela perguntou se o meu telefone de contato era o número tal-tal-tal. Era. Fiquei espantado com a acurácia dos bancos de dados que o Brasil gerencia e fui informado a respeito de qual imunizante receberia. Foi neste momento que percebi uma falha no processo. Apesar de termos apresentado nossos dados na fila, em um ambiente online, teríamos que esperar o preenchimento à mão de uma ficha. Caso estivéssemos na inciativa privada, esse passo poderia ser encurtado com o uso de uma impressora conectada via wi-fi diretamente aos tablets. Passada essa etapa, mais uma espera: apenas uma enfermeira estava aplicando as doses.

O processo todo durou cerca de uma hora e meia. Mas sei de outras unidades nas quais as pessoas não ficaram mais que quinze minutos entre a chegada e a vacinação em si. Ou seja, este processo demorado pode ser um problema isolado e não sistêmico.

De qualquer forma, pode-se dizer que o nível dos colaboradores das UBS é excepcional. Desde a chegada, ainda na calçada, nota-se que existe um intenso espírito de colaboração e dever cívico por parte de quem lida com o público. Não é uma impressão pessoal ou um caso isolado. Nesta semana, vários amigos, da mesma faixa etária que eu, foram vacinados. E todos tinham histórias semelhantes para contar.

A enfermeira que me aplicou a vacina é um caso que demonstra a excelência desses heróis anônimos que já imunizaram mais de 55 milhões de brasileiros (primeira dose). Essa moça está aplicando imunizantes desde janeiro. Deve ter atendido, sozinha, milhares de pessoas. Mas pude observar, de meu lugar na fila, sua paciência, dedicação e entusiasmo. Quando alguém novo se postava à sua frente era como se ela estivesse fazendo aquele ritual pela primeira vez. Cumprimentava seus pacientes com um sorriso, conferia a ficha e anunciava a vacina que seria ministrada. Depois, mostrava o frasco do imunizante e o envelope de onde sairia a seringa descartável. Em seguida, apresentava a dose dentro do recipiente e, após a picada, chamava a atenção para o recipiente vazio. Finalmente, colocava um curativo no local e listava os possíveis efeitos colaterais.

Era possível perceber o alto profissionalismo em cada um dos envolvidos nessa força-tarefa de vacinação. Mas, antes de mais nada, todos os funcionários se mostraram acolhedores, carinhosos e calorosos. Isso faz grande diferença no atendimento a um público que está ansioso e preocupado com sua própria saúde e com a crise sanitária de maneira geral.

O SUS, que muitos atacaram no passado, é a principal causa de termos vacinado tão rapidamente cerca de 82 milhões de pessoas. E poderíamos ter imunizado mais gente, é verdade. A velocidade na aquisição de vacinas não foi a desejável e tivemos a interrupção no recebimento de insumos para fabricar as vacinas através da Fiocruz e Instituto Butantan.

Mas, em compensação, temos um dos sistemas de saúde mais capilarizados do mundo. Recheado de profissionais dedicados que compreenderam perfeitamente o seu papel em um momento seríssimo para o país. Minha sincera homenagem a esses colaboradores que se dedicam de corpo e alma para proporcionar um atendimento de primeira classe aos milhares de brasileiros que batem diariamente às portas das UBS e postos de saúde em busca de vacinação. Sem esse acolhimento, a experiência seria um sucesso do ponto de vista científico – mas não ficaria tão marcada em nossos corações como ficou.

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Ontem, tomei a minha primeira dose da vacina contra a Covid-19 . Foi uma experiência inesquecível. Como defensor de uma agenda liberal para o Brasil, costumo torcer o nariz para tudo o que está no âmbito estatal. Acredito que a iniciativa privada sempre executará uma tarefa melhor que o poder público – e foi com esse espírito que me dirigi à Unidade Básica de Saúde na qual iria me vacinar. Me preparei psicologicamente e esperei por filas, desorganização e, principalmente, funcionários públicos mal-humorados.

Chegando lá, deparei-me com uma situação totalmente diferente da imaginada. Os primeiros atendentes foram muito solícitos e gentis, organizando a fila utilizando uma combinação de paciência e firmeza. Neste momento, ainda estava do lado de fora da unidade e percebia uma certa euforia entre aqueles que esperavam. Um senhor à minha frente, inclusive, dava pulinhos de alegria e conversava alegremente com uma moça adiante.

Rapidamente, veio uma atendente com um tablet e recolheu meus dados a partir do número de CPF. Qual não foi a minha surpresa quando ela perguntou se o meu telefone de contato era o número tal-tal-tal. Era. Fiquei espantado com a acurácia dos bancos de dados que o Brasil gerencia e fui informado a respeito de qual imunizante receberia. Foi neste momento que percebi uma falha no processo. Apesar de termos apresentado nossos dados na fila, em um ambiente online, teríamos que esperar o preenchimento à mão de uma ficha. Caso estivéssemos na inciativa privada, esse passo poderia ser encurtado com o uso de uma impressora conectada via wi-fi diretamente aos tablets. Passada essa etapa, mais uma espera: apenas uma enfermeira estava aplicando as doses.

O processo todo durou cerca de uma hora e meia. Mas sei de outras unidades nas quais as pessoas não ficaram mais que quinze minutos entre a chegada e a vacinação em si. Ou seja, este processo demorado pode ser um problema isolado e não sistêmico.

De qualquer forma, pode-se dizer que o nível dos colaboradores das UBS é excepcional. Desde a chegada, ainda na calçada, nota-se que existe um intenso espírito de colaboração e dever cívico por parte de quem lida com o público. Não é uma impressão pessoal ou um caso isolado. Nesta semana, vários amigos, da mesma faixa etária que eu, foram vacinados. E todos tinham histórias semelhantes para contar.

A enfermeira que me aplicou a vacina é um caso que demonstra a excelência desses heróis anônimos que já imunizaram mais de 55 milhões de brasileiros (primeira dose). Essa moça está aplicando imunizantes desde janeiro. Deve ter atendido, sozinha, milhares de pessoas. Mas pude observar, de meu lugar na fila, sua paciência, dedicação e entusiasmo. Quando alguém novo se postava à sua frente era como se ela estivesse fazendo aquele ritual pela primeira vez. Cumprimentava seus pacientes com um sorriso, conferia a ficha e anunciava a vacina que seria ministrada. Depois, mostrava o frasco do imunizante e o envelope de onde sairia a seringa descartável. Em seguida, apresentava a dose dentro do recipiente e, após a picada, chamava a atenção para o recipiente vazio. Finalmente, colocava um curativo no local e listava os possíveis efeitos colaterais.

Era possível perceber o alto profissionalismo em cada um dos envolvidos nessa força-tarefa de vacinação. Mas, antes de mais nada, todos os funcionários se mostraram acolhedores, carinhosos e calorosos. Isso faz grande diferença no atendimento a um público que está ansioso e preocupado com sua própria saúde e com a crise sanitária de maneira geral.

O SUS, que muitos atacaram no passado, é a principal causa de termos vacinado tão rapidamente cerca de 82 milhões de pessoas. E poderíamos ter imunizado mais gente, é verdade. A velocidade na aquisição de vacinas não foi a desejável e tivemos a interrupção no recebimento de insumos para fabricar as vacinas através da Fiocruz e Instituto Butantan.

Mas, em compensação, temos um dos sistemas de saúde mais capilarizados do mundo. Recheado de profissionais dedicados que compreenderam perfeitamente o seu papel em um momento seríssimo para o país. Minha sincera homenagem a esses colaboradores que se dedicam de corpo e alma para proporcionar um atendimento de primeira classe aos milhares de brasileiros que batem diariamente às portas das UBS e postos de saúde em busca de vacinação. Sem esse acolhimento, a experiência seria um sucesso do ponto de vista científico – mas não ficaria tão marcada em nossos corações como ficou.

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