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O silêncio eloquente de Bolsonaro

Brasil ficou quase 1 ano e meio à mercê de bravatas. Hoje, tem certa tranquilidade política e é o caso de questionar: vale criar tanto caso a troco de nada?

Jair Bolsonaro: as duas semanas sem discursos inflamados foram notadas por todos os analistas políticos (Adriano Machado/Reuters)
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felipegiacomelli

Publicado em 3 de julho de 2020 às 08h21.

A fase “paz e amor” do presidente Jair Bolsonaro está prestes a completar duas semanas. Até agora, são doze dias de calmaria política, percebida por todos analistas políticos. Ontem, por sinal, um artigo na grande imprensa trazia um título significativo: “Bolsonaro emudeceu”. O silêncio de Bolsonaro trouxe estabilidade ao Planalto Central e apaziguou ânimos. Foi uma reação coordenada por quem percebeu que a combinação entre a alta octanagem do discurso presidencial e a prisão de Fabrício Queiroz , ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, poderia ser desastrosa.

A narrativa agressiva do presidente, até agora deixada para trás, teria a ver com claque bolsonarista e os seguidores mais inflamados nas redes sociais. As lacradas e as falas inflamadas no cercadinho do Alvorada, assim, seriam doses diárias para manter a tigrada das redes sociais em constante estado de alerta. O efeito colateral destas constantes alfinetadas, porém, era um desgaste político visível, que tornava a convivência entre Executivo, Judiciário e Legislativo um desafio diário.

O Brasil ficou durante quase um ano e meio à mercê dessas bravatas. Hoje, experimentando certa tranquilidade política – mesmo com a demissão de dois Ministros da Educação neste meio tempo –, é o caso de se questionar: valeu a pena criar tanto caso a troco de nada? Seguramente não.

Portanto, é preciso que o núcleo duro do governo enfatize o lado bom dessa calmaria ao ocupante do terceiro andar do Palácio do Planalto.
Se o presidente mantiver a moderação (e não cair nas cascas de banana que vão aparecer pela frente) vai desfrutar de um cenário favorável até para retomar as reformas que o país tanto precisa. Mas ainda não se sabe se isso é apenas uma nuvem passageira ou se é algo que veio para ficar.

Nota-se uma certa frustração nos colegas que tinham em Bolsonaro uma fonte diária de pautas para reportagens e artigos. Entendo perfeitamente isso. Muitos anos atrás, o então presidente da Câmara Federal, Severino Cavalcanti, foi alvo de vários artigos de minha autoria. Se era uma semana calma e eu tinha dificuldades para encontrar um bom tema para a Carta do Editor da publicação que dirigia, a saída era verificar as declarações de Cavalcanti. Em questão de minutos, seria possível encontrar algo que tivesse potencial para ser assunto de um editorial.

Antes, no auge dos conflitos criados ou amplificados por Bolsonaro, uma parte dos eleitores de direita (em especial o MBL, Movimento Brasil Livre) começou a traçar um paralelo entre o Bolsonarismo e Petismo. O ponto de encontro estaria no comportamento de ambos, que manteriam uma defesa cega de seus líderes, qualquer que fosse a razão das críticas.

O economista Gustavo Franco gosta de usar uma metáfora para os mandatos do Partido dos Trabalhadores. Ele afirma que, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, houve uma espécie de petismo envergonhado, no qual o chamado tripé macroeconômico foi preservado, assim como boa parte da essência do Plano Real, inaugurado em 1994. Quando Dilma o sucedeu, contudo, desarrumou a economia, gastando mais do que deveria, ampliando o déficit e pressionando a inflação. A esta fase, Franco dá o nome de petismo escancarado.

Se permanecer nesta trilha, o governo fará um movimento oposto ao do PT. Terá iniciado a administração sob a égide de uma linha totalmente voltada para seus eleitores mais fiéis. Ou seja, um bolsonarismo escancarado. Mas, caso a discrição passe a imperar no governo, entraremos numa fase na qual o estilo de governar entrará em sua fase envergonhada – exatamente o contrário do que ocorreu nas administrações petistas.

Winston Churchill, certa vez, disse que os políticos deveriam ser julgados pelo grau de animosidade que causavam entre seus oponentes. Essa frase, em princípio, parece ter sido feita sob medida para o Jair Bolsonaro que foi eleito em 2018. Na Inglaterra marcada pela Segunda Guerra Mundial, contudo, a observação de Churchill estava ligada ao estilo de governar do Primeiro Ministro britânico: ser fiel a suas ideias e trabalhar para empenhá-las, causando brutal desconforto aos oponentes.

Embora tenha sido muitas vezes perseverante e implacável para viabilizar suas convicções, Churchill também soube como e quando negociar com o Parlamento. Ganhou e perdeu, mas sabia o quanto era importante deixar os canais de comunicação azeitados com aliados e opositores. Por isso, conseguia ser compreendido e apoiado por figuras emblemáticas e de ideologias completamente diferentes, como Franklin Delano Roosevelt e Joseph Stálin. Sempre teve em mente a importância de se adaptar aos novos cenários – algo que Bolsonaro parece estar fazendo agora (repetindo: só poderemos ter certeza disso no futuro). Na política, essa é uma das lições mais importantes, como reforça o próprio Churchill: “Melhorar é mudar; buscar a perfeição é estar sempre disposto a mudar”.

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A fase “paz e amor” do presidente Jair Bolsonaro está prestes a completar duas semanas. Até agora, são doze dias de calmaria política, percebida por todos analistas políticos. Ontem, por sinal, um artigo na grande imprensa trazia um título significativo: “Bolsonaro emudeceu”. O silêncio de Bolsonaro trouxe estabilidade ao Planalto Central e apaziguou ânimos. Foi uma reação coordenada por quem percebeu que a combinação entre a alta octanagem do discurso presidencial e a prisão de Fabrício Queiroz , ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, poderia ser desastrosa.

A narrativa agressiva do presidente, até agora deixada para trás, teria a ver com claque bolsonarista e os seguidores mais inflamados nas redes sociais. As lacradas e as falas inflamadas no cercadinho do Alvorada, assim, seriam doses diárias para manter a tigrada das redes sociais em constante estado de alerta. O efeito colateral destas constantes alfinetadas, porém, era um desgaste político visível, que tornava a convivência entre Executivo, Judiciário e Legislativo um desafio diário.

O Brasil ficou durante quase um ano e meio à mercê dessas bravatas. Hoje, experimentando certa tranquilidade política – mesmo com a demissão de dois Ministros da Educação neste meio tempo –, é o caso de se questionar: valeu a pena criar tanto caso a troco de nada? Seguramente não.

Portanto, é preciso que o núcleo duro do governo enfatize o lado bom dessa calmaria ao ocupante do terceiro andar do Palácio do Planalto.
Se o presidente mantiver a moderação (e não cair nas cascas de banana que vão aparecer pela frente) vai desfrutar de um cenário favorável até para retomar as reformas que o país tanto precisa. Mas ainda não se sabe se isso é apenas uma nuvem passageira ou se é algo que veio para ficar.

Nota-se uma certa frustração nos colegas que tinham em Bolsonaro uma fonte diária de pautas para reportagens e artigos. Entendo perfeitamente isso. Muitos anos atrás, o então presidente da Câmara Federal, Severino Cavalcanti, foi alvo de vários artigos de minha autoria. Se era uma semana calma e eu tinha dificuldades para encontrar um bom tema para a Carta do Editor da publicação que dirigia, a saída era verificar as declarações de Cavalcanti. Em questão de minutos, seria possível encontrar algo que tivesse potencial para ser assunto de um editorial.

Antes, no auge dos conflitos criados ou amplificados por Bolsonaro, uma parte dos eleitores de direita (em especial o MBL, Movimento Brasil Livre) começou a traçar um paralelo entre o Bolsonarismo e Petismo. O ponto de encontro estaria no comportamento de ambos, que manteriam uma defesa cega de seus líderes, qualquer que fosse a razão das críticas.

O economista Gustavo Franco gosta de usar uma metáfora para os mandatos do Partido dos Trabalhadores. Ele afirma que, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, houve uma espécie de petismo envergonhado, no qual o chamado tripé macroeconômico foi preservado, assim como boa parte da essência do Plano Real, inaugurado em 1994. Quando Dilma o sucedeu, contudo, desarrumou a economia, gastando mais do que deveria, ampliando o déficit e pressionando a inflação. A esta fase, Franco dá o nome de petismo escancarado.

Se permanecer nesta trilha, o governo fará um movimento oposto ao do PT. Terá iniciado a administração sob a égide de uma linha totalmente voltada para seus eleitores mais fiéis. Ou seja, um bolsonarismo escancarado. Mas, caso a discrição passe a imperar no governo, entraremos numa fase na qual o estilo de governar entrará em sua fase envergonhada – exatamente o contrário do que ocorreu nas administrações petistas.

Winston Churchill, certa vez, disse que os políticos deveriam ser julgados pelo grau de animosidade que causavam entre seus oponentes. Essa frase, em princípio, parece ter sido feita sob medida para o Jair Bolsonaro que foi eleito em 2018. Na Inglaterra marcada pela Segunda Guerra Mundial, contudo, a observação de Churchill estava ligada ao estilo de governar do Primeiro Ministro britânico: ser fiel a suas ideias e trabalhar para empenhá-las, causando brutal desconforto aos oponentes.

Embora tenha sido muitas vezes perseverante e implacável para viabilizar suas convicções, Churchill também soube como e quando negociar com o Parlamento. Ganhou e perdeu, mas sabia o quanto era importante deixar os canais de comunicação azeitados com aliados e opositores. Por isso, conseguia ser compreendido e apoiado por figuras emblemáticas e de ideologias completamente diferentes, como Franklin Delano Roosevelt e Joseph Stálin. Sempre teve em mente a importância de se adaptar aos novos cenários – algo que Bolsonaro parece estar fazendo agora (repetindo: só poderemos ter certeza disso no futuro). Na política, essa é uma das lições mais importantes, como reforça o próprio Churchill: “Melhorar é mudar; buscar a perfeição é estar sempre disposto a mudar”.

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