Milei terá sua primeira prova de fogo ainda em dezembro
Milei assume o poder em 10 de dezembro, com o Congresso em recesso até o dia 1 de março
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Publicado em 21 de novembro de 2023 às 13h49.
A maioria na Câmara argentina é de 129 cadeiras.
Se somarmos as coalizões “Unidos pela Pátria”, que apoiou Patricia Bullrich, e “A Liberdade Avança”, do presidente eleito Javier Milei, teremos 131 deputados. Trata-se de margem pequena. Para garantir a aprovação de suas medidas, o novo governo deve também tentar atrair para sua órbita os partidos pequenos, que possuem 15 assentos. Mas o principal esforço se dará em torno de Bullrich e do ex-presidente Maurício Macri, representantes de uma direita mais tradicional e donos de 93 votos.
É importante lembrar que são os partidos que escolhem os deputados que assumem suas posições. O voto popular é dado à legenda – e o sistema eleitoral argentino tem como base a escolha de congressistas através de listas fornecidas pelas siglas. Portanto, o comando das agremiações políticas tem muito mais força na Argentina do que no Brasil, onde cada deputado tem seu próprio capital político.
Milei assume o poder em 10 de dezembro, com o Congresso em recesso até o dia 1 de março. Mas o presidente eleito tem o direito de convocar o Parlamento de maneira extraordinária e colocar em votação pautas próprias. É o que deve ocorrer, especialmente por conta de projetos urgentes como o da dolarização da economia, com a qual Macri e Bullrich não concordam.
Ainda não se tem detalhes de como isso vai ocorrer. E há divisão entre os analistas econômicos sobre este processo. Alguns dizem que seriam necessários pelo menos US$ 35 bilhões em espécie para tirar o peso de circulação e promover o uso pleno da moeda americana (o governo, entretanto, tem apenas US$ 7 bilhões em reservas, já comprometidas com pagamentos internacionais). Outros, porém, dizem que isso não será necessário.
Enquanto não se cria um consenso sobre o tema, teremos de esperar o desenrolar dos próximos dias para compreender melhor o que fará Milei – um presidente que, por ser economista, não depende necessariamente da nomeação de um ministro para decretar mudanças na área econômica.
Uma coisa, porém, é certa. Ao utilizar o dólar como moeda oficial, os argentinos terão de seguir as flutuações dos juros americanos, ditadas pelo Federal Reserve. Assim, uma instituição como um Banco Central deixa de ser necessária.
Há, porém, pelo menos dois riscos nesta situação.
O primeiro é que o Fed vai decidir os rumos de sua política monetária baseado no cenário econômico dos Estados Unidos, que pode ser totalmente diferente do da Argentina. Assim, se os EUA estiverem passando por um período de inflação alta, os juros americanos irão subir. Mas imagine que, neste mesmo período, o país latino-americano esteja passando por uma recessão. Neste caso, a decisão do Federal Reserve irá tornar ainda mais duro o período recessivo.
A dolarização também pode trazer problemas em momentos em que certas commodities fiquem mais caras. Em uma economia como a brasileira, por exemplo, altas de commodities têm um impacto diluído sobre inflação, pois o restante da economia é regido por moeda nacional. Mas dentro de um contexto no qual todos os preços estão em dólar, isso pode ser um problema.
Milei não é exatamente um veterano na política e, durante a campanha, demonstrou em várias ocasiões impaciência e rispidez. Por isso, não se espera que a aprovação de medidas econômicas inéditas seja fácil.
Trata-se de um panorama de difícil leitura, diante do qual temos várias perguntas e poucas respostas.
Algumas dessas questões:
- Como o novo presidente dobrará Macri e Bullrich, que são contra a dolarização?
- Conseguirá Milei, que tem o controle pleno de apenas 37 deputados, costurar acordos que mantenham o coração de suas propostas originais sem comprometer seus princípios de governo
- Como será a pressão dos 107 deputados peronistas assim que o Parlamento reabrir as portas?
Se alguém tiver respostas imediatas para essas perguntas é porque ainda não entendeu o que está acontecendo em nosso país vizinho.
A maioria na Câmara argentina é de 129 cadeiras.
Se somarmos as coalizões “Unidos pela Pátria”, que apoiou Patricia Bullrich, e “A Liberdade Avança”, do presidente eleito Javier Milei, teremos 131 deputados. Trata-se de margem pequena. Para garantir a aprovação de suas medidas, o novo governo deve também tentar atrair para sua órbita os partidos pequenos, que possuem 15 assentos. Mas o principal esforço se dará em torno de Bullrich e do ex-presidente Maurício Macri, representantes de uma direita mais tradicional e donos de 93 votos.
É importante lembrar que são os partidos que escolhem os deputados que assumem suas posições. O voto popular é dado à legenda – e o sistema eleitoral argentino tem como base a escolha de congressistas através de listas fornecidas pelas siglas. Portanto, o comando das agremiações políticas tem muito mais força na Argentina do que no Brasil, onde cada deputado tem seu próprio capital político.
Milei assume o poder em 10 de dezembro, com o Congresso em recesso até o dia 1 de março. Mas o presidente eleito tem o direito de convocar o Parlamento de maneira extraordinária e colocar em votação pautas próprias. É o que deve ocorrer, especialmente por conta de projetos urgentes como o da dolarização da economia, com a qual Macri e Bullrich não concordam.
Ainda não se tem detalhes de como isso vai ocorrer. E há divisão entre os analistas econômicos sobre este processo. Alguns dizem que seriam necessários pelo menos US$ 35 bilhões em espécie para tirar o peso de circulação e promover o uso pleno da moeda americana (o governo, entretanto, tem apenas US$ 7 bilhões em reservas, já comprometidas com pagamentos internacionais). Outros, porém, dizem que isso não será necessário.
Enquanto não se cria um consenso sobre o tema, teremos de esperar o desenrolar dos próximos dias para compreender melhor o que fará Milei – um presidente que, por ser economista, não depende necessariamente da nomeação de um ministro para decretar mudanças na área econômica.
Uma coisa, porém, é certa. Ao utilizar o dólar como moeda oficial, os argentinos terão de seguir as flutuações dos juros americanos, ditadas pelo Federal Reserve. Assim, uma instituição como um Banco Central deixa de ser necessária.
Há, porém, pelo menos dois riscos nesta situação.
O primeiro é que o Fed vai decidir os rumos de sua política monetária baseado no cenário econômico dos Estados Unidos, que pode ser totalmente diferente do da Argentina. Assim, se os EUA estiverem passando por um período de inflação alta, os juros americanos irão subir. Mas imagine que, neste mesmo período, o país latino-americano esteja passando por uma recessão. Neste caso, a decisão do Federal Reserve irá tornar ainda mais duro o período recessivo.
A dolarização também pode trazer problemas em momentos em que certas commodities fiquem mais caras. Em uma economia como a brasileira, por exemplo, altas de commodities têm um impacto diluído sobre inflação, pois o restante da economia é regido por moeda nacional. Mas dentro de um contexto no qual todos os preços estão em dólar, isso pode ser um problema.
Milei não é exatamente um veterano na política e, durante a campanha, demonstrou em várias ocasiões impaciência e rispidez. Por isso, não se espera que a aprovação de medidas econômicas inéditas seja fácil.
Trata-se de um panorama de difícil leitura, diante do qual temos várias perguntas e poucas respostas.
Algumas dessas questões:
- Como o novo presidente dobrará Macri e Bullrich, que são contra a dolarização?
- Conseguirá Milei, que tem o controle pleno de apenas 37 deputados, costurar acordos que mantenham o coração de suas propostas originais sem comprometer seus princípios de governo
- Como será a pressão dos 107 deputados peronistas assim que o Parlamento reabrir as portas?
Se alguém tiver respostas imediatas para essas perguntas é porque ainda não entendeu o que está acontecendo em nosso país vizinho.