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Geraldo Alckmin deve ser fiel a quem o traiu?

O ex-governador é conhecido por seu comedimento, autocontrole e predileção por decisões racionais. Mas a política também é feita de emoções

Geraldo Alckmin (Andre Coelho/Bloomberg)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de junho de 2021 às 10h33.

Aluizio Falcão Filho

Há um movimento em curso no PSDB paulista para impedir que o ex-governador Geraldo Alckmin saia do partido e dispute as eleições de 2022 por outra agremiação. O argumento é o de que Alckmin teria exigido prévias partidárias e foi atendido. Portanto, teria de aceitar os resultados desse pleito particular e se curvar à vontade dos tucanos de São Paulo.

Sabe-se, no entanto, que a Executiva do PSDB paulista é controlada por João Doria. E a vontade do atual governador é colocar seu vice, Rodrigo Garcia, na disputa estadual, enquanto ele tenta a legenda nacional para disputar a presidência. Isso, porém, está sujeito à possibilidade de Doria perder a indicação para o senador Tasso Jereissati. Neste caso, o tucano poderia tentar a reeleição ou mudar de partido.

Ou seja, a vaga deverá ser de Garcia ou de Doria (até porque nunca se viu um governador em exercício ser preterido por seu partido em uma reeleição). A Alckmin restará a possibilidade de se candidatar ao Senado (caso José Serra concorde) ou tentar uma vaga na Câmara dos Deputados.

O ex-governador é conhecido por seu comedimento, autocontrole e predileção por decisões racionais. Assim, ao examinarmos essa situação apenas com a lógica, é até possível concordar com Doria. Talvez seja hora de um político mais novo, como Garcia, disputar o Palácio dos Bandeirantes.

Mas a política também é feita de emoções – e há outros motivos que fazem Alckmin considerar seriamente sair do PSDB e buscar um novo mandato estadual.

O primeiro é sua liderança de intenção de votos em diversas enquetes. O ex-governador lidera com folga essas sondagens, enquanto Rodrigo Garcia mal aparece na lista. Segundo estudo do Instituto Paraná Pesquisas divulgado no mês passado, Alckmin está na dianteira com cerca de 20 %, seguido por Márcio França, com 14,4%. Garcia, também de acordo com a pesquisa, tem apenas 3,1 %. O detalhe que faz a diferença é que França já emitiu sinais de que aceitaria compor novamente a chapa com Alckmin (como em ocorreu em 2014), o que elevaria muito as chances do ex-governador.

Outro fator é a rejeição de Doria. Segundo o mesmo Instituto Paraná, a desaprovação do atual governador atinge o índice de 65 %. Assim, ele mesmo ou seu vice teriam enormes dificuldades para vencer o pleito estadual.

Por fim, Alckmin carrega uma forte mágoa em relação ao governador. Em 2016, o ex-governador foi contra todo o partido e bancou, sozinho, a candidatura de Doria à prefeitura de São Paulo. O resultado foi a vitória ainda em primeiro turno. Com o triunfo no bolso, Doria passou a ser considerado um nome promissor para a campanha presidencial que haveria em 2018 e começou um périplo nacional. Essas viagens foram consideradas por Alckmin como um sinal de que o apadrinhado político queria furar a fila e ser ele o candidato a presidente. Esse foi o início de um afastamento que atingiu o auge no pleito seguinte, quando Doria foi acusado de fazer corpo mole em relação à campanha do padrinho à presidência da República. Essa impressão foi reforçada com a rapidez através da qual Doria aderiu à campanha de Jair Bolsonaro.

Eleito governador por pouco (diferença de 741 000 votos) com a ajuda do mote “Bolsodoria”, o governador foi construindo uma base importante na seção paulista do PSDB até emplacar Marco Vinholi, um de seus secretários, como o líder da executiva estadual. Essa manobra reduziu o espaço de Alckmin e, com isso, diminuiu suas chances nas prévias.

Alckmin considera que Doria o traiu. E deve se perguntar agora: por que ser fiel a quem o atraiçoou? O que você faria no lugar dele? Seria um bom soldado do partido ou procuraria outra sigla?

Muitos concordam com a tese da traição – e uma parte da rejeição a Doria pelo eleitorado deve-se a esse sentimento. Portanto, há muitos que torcem para que o ex-governador cante em outra freguesia e dispute o Bandeirantes no ano que vem. Há uma expressão em inglês que explique o que Alckmin talvez esteja sentindo neste momento: “Enough is enough”. Esse termo pode ser traduzido protocolarmente como “já chega”. Mas geralmente é algo dito como desabafo por quem engoliu sapos por muito tempo e decidiu que as coisas iriam ser diferentes daquele momento em diante. Será que chegou a hora de Alckmin dizer “enough is enough”?

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Há um movimento em curso no PSDB paulista para impedir que o ex-governador Geraldo Alckmin saia do partido e dispute as eleições de 2022 por outra agremiação. O argumento é o de que Alckmin teria exigido prévias partidárias e foi atendido. Portanto, teria de aceitar os resultados desse pleito particular e se curvar à vontade dos tucanos de São Paulo.

Sabe-se, no entanto, que a Executiva do PSDB paulista é controlada por João Doria. E a vontade do atual governador é colocar seu vice, Rodrigo Garcia, na disputa estadual, enquanto ele tenta a legenda nacional para disputar a presidência. Isso, porém, está sujeito à possibilidade de Doria perder a indicação para o senador Tasso Jereissati. Neste caso, o tucano poderia tentar a reeleição ou mudar de partido.

Ou seja, a vaga deverá ser de Garcia ou de Doria (até porque nunca se viu um governador em exercício ser preterido por seu partido em uma reeleição). A Alckmin restará a possibilidade de se candidatar ao Senado (caso José Serra concorde) ou tentar uma vaga na Câmara dos Deputados.

O ex-governador é conhecido por seu comedimento, autocontrole e predileção por decisões racionais. Assim, ao examinarmos essa situação apenas com a lógica, é até possível concordar com Doria. Talvez seja hora de um político mais novo, como Garcia, disputar o Palácio dos Bandeirantes.

Mas a política também é feita de emoções – e há outros motivos que fazem Alckmin considerar seriamente sair do PSDB e buscar um novo mandato estadual.

O primeiro é sua liderança de intenção de votos em diversas enquetes. O ex-governador lidera com folga essas sondagens, enquanto Rodrigo Garcia mal aparece na lista. Segundo estudo do Instituto Paraná Pesquisas divulgado no mês passado, Alckmin está na dianteira com cerca de 20 %, seguido por Márcio França, com 14,4%. Garcia, também de acordo com a pesquisa, tem apenas 3,1 %. O detalhe que faz a diferença é que França já emitiu sinais de que aceitaria compor novamente a chapa com Alckmin (como em ocorreu em 2014), o que elevaria muito as chances do ex-governador.

Outro fator é a rejeição de Doria. Segundo o mesmo Instituto Paraná, a desaprovação do atual governador atinge o índice de 65 %. Assim, ele mesmo ou seu vice teriam enormes dificuldades para vencer o pleito estadual.

Por fim, Alckmin carrega uma forte mágoa em relação ao governador. Em 2016, o ex-governador foi contra todo o partido e bancou, sozinho, a candidatura de Doria à prefeitura de São Paulo. O resultado foi a vitória ainda em primeiro turno. Com o triunfo no bolso, Doria passou a ser considerado um nome promissor para a campanha presidencial que haveria em 2018 e começou um périplo nacional. Essas viagens foram consideradas por Alckmin como um sinal de que o apadrinhado político queria furar a fila e ser ele o candidato a presidente. Esse foi o início de um afastamento que atingiu o auge no pleito seguinte, quando Doria foi acusado de fazer corpo mole em relação à campanha do padrinho à presidência da República. Essa impressão foi reforçada com a rapidez através da qual Doria aderiu à campanha de Jair Bolsonaro.

Eleito governador por pouco (diferença de 741 000 votos) com a ajuda do mote “Bolsodoria”, o governador foi construindo uma base importante na seção paulista do PSDB até emplacar Marco Vinholi, um de seus secretários, como o líder da executiva estadual. Essa manobra reduziu o espaço de Alckmin e, com isso, diminuiu suas chances nas prévias.

Alckmin considera que Doria o traiu. E deve se perguntar agora: por que ser fiel a quem o atraiçoou? O que você faria no lugar dele? Seria um bom soldado do partido ou procuraria outra sigla?

Muitos concordam com a tese da traição – e uma parte da rejeição a Doria pelo eleitorado deve-se a esse sentimento. Portanto, há muitos que torcem para que o ex-governador cante em outra freguesia e dispute o Bandeirantes no ano que vem. Há uma expressão em inglês que explique o que Alckmin talvez esteja sentindo neste momento: “Enough is enough”. Esse termo pode ser traduzido protocolarmente como “já chega”. Mas geralmente é algo dito como desabafo por quem engoliu sapos por muito tempo e decidiu que as coisas iriam ser diferentes daquele momento em diante. Será que chegou a hora de Alckmin dizer “enough is enough”?

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