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Doria ganhou a indicação. Mas sua candidatura ainda é questionada

Parte da cúpula do PSDB quer melar a vitória do governador nas prévias

Governador de São Paulo João Doria. (Governo do Estado de São Paulo/Flickr)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2022 às 12h09.

Aluizio Falcão Filho

O PSDB parece ser um partido fadado à divisão interna. Tirando as eleições vitoriosas de Fernando Henrique Cardoso, os tucanos sempre participaram fragmentados nas campanhas eleitorais de 2002 para cá. Em 2022, porém, um grupo de filiados resolveu partir para uma briga ainda maior que as anteriores. No ano passado, o partido realizou prévias e, em duas etapas de votação, escolheu o governador de São Paulo, João Doria, como candidato. Mesmo assim, uma parte da cúpula tucana quer criar um terceiro turno.

Ontem, por exemplo, o senador José Aníbal disse o seguinte: “Há uma inquietação. Como você compõe chapa para disputar eleições de Senado, deputado federal, estadual com uma campanha que tem 4% de intenção de votos?”. Curiosamente, em 2018 o ex-governador Geraldo Alckmin tinha um índice semelhante de intenção de votos e Aníbal – assim como outros membros da elite peessedebista – não disse uma só palavra sobre o potencial eleitoral do então candidato.

O suplente de José Serra foi um dos protagonistas de uma reunião de tucanos amotinados, realizada nesta semana em Brasília, para tentar encontrar uma solução alternativa à indicação de Doria. O ex-governador retrucou na lata: “Com todo o respeito, foi um jantar de derrotados”.

A divisão no PSDB é profunda e vai provocar mudanças significativas na agremiação, sem contar na discussão jurídica que pode ser criada caso membros da diretoria do partido resolvam anular os resultados da prévia no Tapetão. Trata-se, no fundo, de um partido em processo de desaparecimento.

Os preceitos ideológicos, aqueles baseados na social-democracia europeia, há muito foram diluídos no dia a dia da sigla. Hoje, os maiores expoentes tucanos são João Doria e Aécio Neves, que se digladiam pelo controle partidário. A tentativa de anular a candidatura do governador é mais um round dessa briga. O resultado desse movimento, qualquer que seja o vencedor, terá consequências imediatas e futuras.

Esvaziamento

É de se esperar que uma leva de parlamentares insatisfeitos (alguns até alinhados com o governo de Jair Bolsonaro) deixe o PSDB rapidamente. Os demais tucanos podem até se ajeitar em um acordo prévio em 2022. Mas, seguramente, um grupo apreciável de parlamentares e prefeitos abandonará o ninho azul e amarelo.

A derrocada tucana pode ser atribuída em parte à fogueira de vaidades que reina entre seus caciques. Mas também é reflexo da imagem ambígua que sempre passou ao eleitorado. Com uma plataforma inspirada no socialismo europeu, o PSDB elegeu um governo, em 1994, que se escorava em conceitos liberais da economia: controle das despesas públicas e privatização.

Dupla personalidade

Esta dupla personalidade, na política, pode ser fatal. Tanto é que muitos eleitores classificam os tucanos no lado esquerdo da ideologia. Mas perguntemos aos petistas mais radicais o que eles acham dos tucanos. A resposta não será polida e colocará o PSDB no quadrante da direita. Tanto é que a possibilidade mais que concreta de o ex-tucano Alckmin ocupar a vice-presidência na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva tem motivado críticas de vários próceres do PT, entre os quais o deputado Rui Falcão, que foi presidente do partido entre 2011 e 2017. Falcão (o parlamentar não é parente do autor deste artigo), nesta semana, voltou a cutucar o ex-governador. “Já me manifestei, todos conhecem minhas posições, falei da trajetória passada do governador Alckmin em São Paulo. Aguardo inclusive que ele se manifeste publicamente em relação ao que pensa das bandeiras que o PT defende”, alfinetou.

Quem sobrar, Doria ou Aécio, terá de reconstruir o partido, que chegou a ser um dos maiores do país. Neste processo, terá de encontrar uma identidade para o partido e adaptá-lo aos novos tempos, entendendo que os eleitores querem clareza e transparência de seus políticos. Não será uma tarefa simples. Mas a sigla que sairá deste processo poderá capturar mais eleitores com uma mensagem política mais clara e sintonizada com a nova geração.

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O PSDB parece ser um partido fadado à divisão interna. Tirando as eleições vitoriosas de Fernando Henrique Cardoso, os tucanos sempre participaram fragmentados nas campanhas eleitorais de 2002 para cá. Em 2022, porém, um grupo de filiados resolveu partir para uma briga ainda maior que as anteriores. No ano passado, o partido realizou prévias e, em duas etapas de votação, escolheu o governador de São Paulo, João Doria, como candidato. Mesmo assim, uma parte da cúpula tucana quer criar um terceiro turno.

Ontem, por exemplo, o senador José Aníbal disse o seguinte: “Há uma inquietação. Como você compõe chapa para disputar eleições de Senado, deputado federal, estadual com uma campanha que tem 4% de intenção de votos?”. Curiosamente, em 2018 o ex-governador Geraldo Alckmin tinha um índice semelhante de intenção de votos e Aníbal – assim como outros membros da elite peessedebista – não disse uma só palavra sobre o potencial eleitoral do então candidato.

O suplente de José Serra foi um dos protagonistas de uma reunião de tucanos amotinados, realizada nesta semana em Brasília, para tentar encontrar uma solução alternativa à indicação de Doria. O ex-governador retrucou na lata: “Com todo o respeito, foi um jantar de derrotados”.

A divisão no PSDB é profunda e vai provocar mudanças significativas na agremiação, sem contar na discussão jurídica que pode ser criada caso membros da diretoria do partido resolvam anular os resultados da prévia no Tapetão. Trata-se, no fundo, de um partido em processo de desaparecimento.

Os preceitos ideológicos, aqueles baseados na social-democracia europeia, há muito foram diluídos no dia a dia da sigla. Hoje, os maiores expoentes tucanos são João Doria e Aécio Neves, que se digladiam pelo controle partidário. A tentativa de anular a candidatura do governador é mais um round dessa briga. O resultado desse movimento, qualquer que seja o vencedor, terá consequências imediatas e futuras.

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É de se esperar que uma leva de parlamentares insatisfeitos (alguns até alinhados com o governo de Jair Bolsonaro) deixe o PSDB rapidamente. Os demais tucanos podem até se ajeitar em um acordo prévio em 2022. Mas, seguramente, um grupo apreciável de parlamentares e prefeitos abandonará o ninho azul e amarelo.

A derrocada tucana pode ser atribuída em parte à fogueira de vaidades que reina entre seus caciques. Mas também é reflexo da imagem ambígua que sempre passou ao eleitorado. Com uma plataforma inspirada no socialismo europeu, o PSDB elegeu um governo, em 1994, que se escorava em conceitos liberais da economia: controle das despesas públicas e privatização.

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Quem sobrar, Doria ou Aécio, terá de reconstruir o partido, que chegou a ser um dos maiores do país. Neste processo, terá de encontrar uma identidade para o partido e adaptá-lo aos novos tempos, entendendo que os eleitores querem clareza e transparência de seus políticos. Não será uma tarefa simples. Mas a sigla que sairá deste processo poderá capturar mais eleitores com uma mensagem política mais clara e sintonizada com a nova geração.

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