Divórcio após os 50: uma tendência cada vez mais forte
Trata-se de um fenômeno curioso e, segundo os especialistas, há vários motivos para isso
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Publicado em 25 de setembro de 2023 às 18h03.
Nos últimos meses, dois casais próximos resolveram se separar. Detalhe: são pessoas com mais de cinquenta anos de idade. Fiquei encafifado: quem é que se separa a esta altura do campeonato? Fiz uma pesquisa e me surpreendi: cerca de 25 % dos atuais divórcios ocorrem com casais que têm mais de 50 anos. Em 2010, porém, esse índice estava em 10 %.
Nos Estados Unidos, a tendência é semelhante e até um pouco mais forte. Um estudo publicado no Journal of Gerontology em setembro do ano passado mostra que, atualmente, 36 % dos americanos que se divorciam têm 50 anos de idade ou mais. E a faixa etária na qual as separações mais crescem é aquela com pessoas acima de 65 anos de idade.
Trata-se de um fenômeno curioso. E, segundo os especialistas, há vários motivos para isso.
Segundo as autoras do estudo americano, conduzido na Universidade de Bowling Green, em Ohio, a expectativa de vida aumentou fortemente nos últimos anos. Tanto é que a faixa etária entre 50 e 64 anos é considerada como “meia-idade”. Já quem tem acima de 65 anos, porém, é chamado de “adulto mais velho”. Com pessoas vivendo mais, é natural que muitos acreditem merecer uma segunda chance em uma idade na qual as gerações anteriores ficavam em casa de pijama.
Some-se a longevidade a dois fatores: o êxodo dos filhos e a aposentadoria. Boa parte da vida em comum de um casal é construída a partir da criação de uma família e dos desafios propiciados pela carreira. Quando essas duas variáveis estão fora da vida de um casal, as diferenças construídas ao longo dos anos ficam bastante evidentes.
Além disso, é muito comum ver casais que vão deixando a falta de carinho e a proximidade tomar conta das relações. Com isso, o afastamento é inevitável – e, dessa forma, as personalidades vão tomando outra forma. Passado algum tempo nessa toada, marido e mulher podem se tornar estranhos que vivem juntos.
Neste cenário, um dos dois (ou ambos) pode pensar: ainda tenho pelo menos trinta anos de vida pela frente. Vou passá-los com quem já está comigo ou posso buscar outra pessoa? A julgar pelas estatísticas, muitos idosos e idosas têm tido esse tipo de discussão.
Como não se afastar diante de um cotidiano repetitivo e muitas vezes irritante?
É difícil. Mas duas pessoas resolveram se unir por um conjunto de razões. Esses motivos podem ser derrotados pela vida diária – mas em muitos casos, isso não ocorre. Por quê? As razões variam. Mas geralmente percebe-se, nas relações duradouras, que os laços que uniram um casal no passado continuam fortes porque existe uma disposição de se aproximar constantemente, trocar ideias e abrir o coração.
Cada um tem o seu método de conexão. Mas há um truque importante que posso compartilhar. Eu e Cristina nunca vamos dormir sem que uma briga seja resolvida, mesmo que seja com um beijo de boa-noite. E, desde o namoro, fizemos um pacto: se algo incomodou, precisa ser dito na hora e jamais varrido para debaixo do tapete. A combinação desses dois macetes nos garante um convívio sem mágoas.
Ocorre, porém, que as pessoas vão mudando ao longo dos anos. Cinco anos atrás, um amigo veio conversar comigo e se queixar de sua esposa, com quem está casado há quase vinte anos. Ele me contou um episódio específico, que mostrava exatamente o comportamento expansivo dela. Eu perguntei: “Mas você não se apaixonou por ela deste jeito?”. Ele concordou. Continuei: “E por que isso está te incomodando agora?”. Ele arregalou os olhos e disse que iria pensar no assunto. Os dois ainda estão casados. Imagino que essa conversa deva ter surtido algum efeito.
O chamado divórcio grisalho (ou prateado) deve crescer à medida em que fomos vivendo cada vez mais. Porém, é triste ver um casal que passou por tantas coisas juntos virar a página. Isso dá uma sensação de impotência, especialmente para os amigos, que gostam dos dois lados. É como eu me sinto agora. Vejo a separação de pessoas que eu gosto muito e nada posso fazer para impedir. Pior que isso: concordo que o divórcio é o melhor caminho, já que eles não conseguem mais se entender. É uma tristeza, mas a vida não é feita somente de alegrias. Desejo a esses amigos toda a sorte do mundo – e também que eles tenham um melhor destino com suas novas companhias.
Nos últimos meses, dois casais próximos resolveram se separar. Detalhe: são pessoas com mais de cinquenta anos de idade. Fiquei encafifado: quem é que se separa a esta altura do campeonato? Fiz uma pesquisa e me surpreendi: cerca de 25 % dos atuais divórcios ocorrem com casais que têm mais de 50 anos. Em 2010, porém, esse índice estava em 10 %.
Nos Estados Unidos, a tendência é semelhante e até um pouco mais forte. Um estudo publicado no Journal of Gerontology em setembro do ano passado mostra que, atualmente, 36 % dos americanos que se divorciam têm 50 anos de idade ou mais. E a faixa etária na qual as separações mais crescem é aquela com pessoas acima de 65 anos de idade.
Trata-se de um fenômeno curioso. E, segundo os especialistas, há vários motivos para isso.
Segundo as autoras do estudo americano, conduzido na Universidade de Bowling Green, em Ohio, a expectativa de vida aumentou fortemente nos últimos anos. Tanto é que a faixa etária entre 50 e 64 anos é considerada como “meia-idade”. Já quem tem acima de 65 anos, porém, é chamado de “adulto mais velho”. Com pessoas vivendo mais, é natural que muitos acreditem merecer uma segunda chance em uma idade na qual as gerações anteriores ficavam em casa de pijama.
Some-se a longevidade a dois fatores: o êxodo dos filhos e a aposentadoria. Boa parte da vida em comum de um casal é construída a partir da criação de uma família e dos desafios propiciados pela carreira. Quando essas duas variáveis estão fora da vida de um casal, as diferenças construídas ao longo dos anos ficam bastante evidentes.
Além disso, é muito comum ver casais que vão deixando a falta de carinho e a proximidade tomar conta das relações. Com isso, o afastamento é inevitável – e, dessa forma, as personalidades vão tomando outra forma. Passado algum tempo nessa toada, marido e mulher podem se tornar estranhos que vivem juntos.
Neste cenário, um dos dois (ou ambos) pode pensar: ainda tenho pelo menos trinta anos de vida pela frente. Vou passá-los com quem já está comigo ou posso buscar outra pessoa? A julgar pelas estatísticas, muitos idosos e idosas têm tido esse tipo de discussão.
Como não se afastar diante de um cotidiano repetitivo e muitas vezes irritante?
É difícil. Mas duas pessoas resolveram se unir por um conjunto de razões. Esses motivos podem ser derrotados pela vida diária – mas em muitos casos, isso não ocorre. Por quê? As razões variam. Mas geralmente percebe-se, nas relações duradouras, que os laços que uniram um casal no passado continuam fortes porque existe uma disposição de se aproximar constantemente, trocar ideias e abrir o coração.
Cada um tem o seu método de conexão. Mas há um truque importante que posso compartilhar. Eu e Cristina nunca vamos dormir sem que uma briga seja resolvida, mesmo que seja com um beijo de boa-noite. E, desde o namoro, fizemos um pacto: se algo incomodou, precisa ser dito na hora e jamais varrido para debaixo do tapete. A combinação desses dois macetes nos garante um convívio sem mágoas.
Ocorre, porém, que as pessoas vão mudando ao longo dos anos. Cinco anos atrás, um amigo veio conversar comigo e se queixar de sua esposa, com quem está casado há quase vinte anos. Ele me contou um episódio específico, que mostrava exatamente o comportamento expansivo dela. Eu perguntei: “Mas você não se apaixonou por ela deste jeito?”. Ele concordou. Continuei: “E por que isso está te incomodando agora?”. Ele arregalou os olhos e disse que iria pensar no assunto. Os dois ainda estão casados. Imagino que essa conversa deva ter surtido algum efeito.
O chamado divórcio grisalho (ou prateado) deve crescer à medida em que fomos vivendo cada vez mais. Porém, é triste ver um casal que passou por tantas coisas juntos virar a página. Isso dá uma sensação de impotência, especialmente para os amigos, que gostam dos dois lados. É como eu me sinto agora. Vejo a separação de pessoas que eu gosto muito e nada posso fazer para impedir. Pior que isso: concordo que o divórcio é o melhor caminho, já que eles não conseguem mais se entender. É uma tristeza, mas a vida não é feita somente de alegrias. Desejo a esses amigos toda a sorte do mundo – e também que eles tenham um melhor destino com suas novas companhias.