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Direita e esquerda, diferentes quando o tema é imprensa neutra

Imaginem o que seria a cobertura jornalística se em todas as reportagens houvesse a necessidade de se imprimir a opinião da esquerda, da direita e do centro

Jornais (hanohiki/Thinkstock)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de abril de 2022 às 09h56.

Aluizio Falcão Filho

Neste momento em que a campanha eleitoral está esquentando os motores, sempre é bom verificar como anda a temperatura das forças políticas em relação à imprensa. Um relatório recente do Instituto Reuters (Reuters Institute Digital News Report) pode ser uma boa mostra deste fenômeno. O documento apresenta como as correntes ideológicas enxergam a cobertura jornalística – online e impressa – no Brasil e em diversos países ao redor do mundo.

Neste estudo, é possível verificar algo que todos perceberam há muito tempo: a importância dos veículos impressos está desabando em todas as nações. Em 2013, 47% usavam jornais e revistas como fonte de notícias. No ano passado, apenas 12% se informaram através do papel (muitos veículos são consultados via digital – mas suas versões impressas estão minguando). No sentido oposto, estão as mídias sociais. Em 2013, 47% se utilizavam destes veículos para se informar. No ano passado, foram 63%.

No Brasil, quando questionados se a imprensa deveria ser neutra, 74% responderam que sim (a pergunta foi se os veículos deveriam refletir um espectro de diferentes visões e deixar o público decidir qual opinião adotar). Apenas 16% acreditam que os órgãos de imprensa devem defender suas posições políticas. A título de comparação, nos Estados Unidos as proporções foram semelhantes: 69% optaram pela neutralidade e 10% pela parcialidade.

Mas um fenômeno curioso ocorre quando decupamos essa opinião sobre neutralidade da imprensa sob um viés, digamos, ideológico – esquerda, centro e direita.

Entre os indivíduos que se consideram esquerdistas, apenas 49% apoiam a neutralidade jornalística. Já 70 % dos que se posicionam como de centro acreditam em imparcialidade. E 82% comungam da mesma visão entre os direitistas.

Esses números trazem uma certeza e uma distorção.

A certeza é a de que os jornalistas, de forma geral, sofrem uma crise de credibilidade diante de boa parte da população brasileira – embora outras pesquisas mostrem que este problema já foi maior em um passado recente e melhorou após a pandemia.

A distorção está nos 82% de eleitores da direita que clamam por neutralidade. A deturpação, no caso, está no conceito que cada pessoa tem a respeito do que é imparcialidade. Teoricamente, estamos falando da publicação de notícias de forma neutra ou sem opinião (é possível ser parcial sem emitir opiniões, eu sei – mas vamos deixar essa discussão de lado por um instante).

Ocorre que muitos conservadores acreditam que veículos que defendem os mesmos pontos de vista que eles são “imparciais”. Na prática, não são. Estão defendendo um lado – mas como esses indivíduos concordam com mesma visão de mundo, acreditam que há neutralidade.

Imaginem o que seria a cobertura jornalística se em todas as reportagens houvesse a necessidade de se imprimir a opinião da esquerda, da direita e do centro. A apuração sofreria atrasos enormes a o senso de urgência inerente à notícia se perderia. O jornalismo noticioso se transformaria em um desfile de opiniões para que o público escolhesse uma posição (vamos combinar que, na maioria esmagadora dos casos, as pessoas já escolheram o seu lado antes de ler um artigo inteiro).

Qual a solução?

Os veículos poderiam escancarar suas visões políticas e econômicas, de forma a indicar quais seriam suas posições a respeito de determinados assuntos. Em MONEY REPORT, temos um breve disclaimer na aba “sobre nós”. Alguns sites também utilizam essa mesma fórmula. Esse recurso ajuda os leitores a entender melhor o que pode estar nas entrelinhas de um texto jornalístico, pois imparcialidade total é algo impossível de se atingir. Não é um sistema perfeito. Mas é um bom começo, que todos os envolvidos na divulgação de informações (e opiniões) deveriam tentar.

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Aluizio Falcão Filho

Neste momento em que a campanha eleitoral está esquentando os motores, sempre é bom verificar como anda a temperatura das forças políticas em relação à imprensa. Um relatório recente do Instituto Reuters (Reuters Institute Digital News Report) pode ser uma boa mostra deste fenômeno. O documento apresenta como as correntes ideológicas enxergam a cobertura jornalística – online e impressa – no Brasil e em diversos países ao redor do mundo.

Neste estudo, é possível verificar algo que todos perceberam há muito tempo: a importância dos veículos impressos está desabando em todas as nações. Em 2013, 47% usavam jornais e revistas como fonte de notícias. No ano passado, apenas 12% se informaram através do papel (muitos veículos são consultados via digital – mas suas versões impressas estão minguando). No sentido oposto, estão as mídias sociais. Em 2013, 47% se utilizavam destes veículos para se informar. No ano passado, foram 63%.

No Brasil, quando questionados se a imprensa deveria ser neutra, 74% responderam que sim (a pergunta foi se os veículos deveriam refletir um espectro de diferentes visões e deixar o público decidir qual opinião adotar). Apenas 16% acreditam que os órgãos de imprensa devem defender suas posições políticas. A título de comparação, nos Estados Unidos as proporções foram semelhantes: 69% optaram pela neutralidade e 10% pela parcialidade.

Mas um fenômeno curioso ocorre quando decupamos essa opinião sobre neutralidade da imprensa sob um viés, digamos, ideológico – esquerda, centro e direita.

Entre os indivíduos que se consideram esquerdistas, apenas 49% apoiam a neutralidade jornalística. Já 70 % dos que se posicionam como de centro acreditam em imparcialidade. E 82% comungam da mesma visão entre os direitistas.

Esses números trazem uma certeza e uma distorção.

A certeza é a de que os jornalistas, de forma geral, sofrem uma crise de credibilidade diante de boa parte da população brasileira – embora outras pesquisas mostrem que este problema já foi maior em um passado recente e melhorou após a pandemia.

A distorção está nos 82% de eleitores da direita que clamam por neutralidade. A deturpação, no caso, está no conceito que cada pessoa tem a respeito do que é imparcialidade. Teoricamente, estamos falando da publicação de notícias de forma neutra ou sem opinião (é possível ser parcial sem emitir opiniões, eu sei – mas vamos deixar essa discussão de lado por um instante).

Ocorre que muitos conservadores acreditam que veículos que defendem os mesmos pontos de vista que eles são “imparciais”. Na prática, não são. Estão defendendo um lado – mas como esses indivíduos concordam com mesma visão de mundo, acreditam que há neutralidade.

Imaginem o que seria a cobertura jornalística se em todas as reportagens houvesse a necessidade de se imprimir a opinião da esquerda, da direita e do centro. A apuração sofreria atrasos enormes a o senso de urgência inerente à notícia se perderia. O jornalismo noticioso se transformaria em um desfile de opiniões para que o público escolhesse uma posição (vamos combinar que, na maioria esmagadora dos casos, as pessoas já escolheram o seu lado antes de ler um artigo inteiro).

Qual a solução?

Os veículos poderiam escancarar suas visões políticas e econômicas, de forma a indicar quais seriam suas posições a respeito de determinados assuntos. Em MONEY REPORT, temos um breve disclaimer na aba “sobre nós”. Alguns sites também utilizam essa mesma fórmula. Esse recurso ajuda os leitores a entender melhor o que pode estar nas entrelinhas de um texto jornalístico, pois imparcialidade total é algo impossível de se atingir. Não é um sistema perfeito. Mas é um bom começo, que todos os envolvidos na divulgação de informações (e opiniões) deveriam tentar.

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