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Capa da Time mostra que Bolsonaro perdeu guerra de narrativas no exterior

Os arroubos verbais e a insistência em se colocar do lado politicamente incorreto reforçaram a percepção negativa dos jornalistas internacionais

Presidente Jair Bolsonaro (Akos Stiller/Bloomberg/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de maio de 2022 às 10h50.

No início de dezembro de 2018, logo após as eleições presidenciais, começou a circular na internet uma capa da revista Time na qual Jair Bolsonaro aparecia como personagem de destaque e vencedor do título “Person of the Year”. Apoiadores do presidente recém-eleito exultaram a escolha. Só que a capa era fake e Bolsonaro não tinha sido ungido personalidade de 2018 (a revista escolheu um grupo de jornalistas mortos ou aprisionados por ditaduras e guerras – chamados de “Os Guardiões” – como homenageados).

Ontem, a mesma revista Time divulgou a capa de sua próxima edição. E quem a estampa é o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. As redes sociais entraram em convulsão, com postagens festejando a capa e outra vociferando contra ela. Muitos internautas favoráveis a Bolsonaro (incluindo seu filho Eduardo) disseram que a revista não tinha credibilidade – mas, curiosamente, essa questão não foi levantada durante as comemorações a respeito da capa fake de 2018.

A Time não é a única publicação internacional a ver a candidatura de Lula com simpatia. Vários outros títulos pensam da mesma forma. A reportagem, no entanto, não é completamente favorável ao ex-presidente. Levanta inclusive alguns pontos que podem causar desconforto entre os petistas. Um deles diz respeito à recusa de chamar Nicolás Maduro, da Venezuela, de ditador (a revista classifica o governo venezuelano como uma “cleptocracia”). Outra questão é a visão de Lula sobre a Guerra da Ucrânia, contra a visão dominante nos Estados Unidos. Ele diz que a culpa pelo conflito também é do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. “Esse cara é tão responsável pela guerra como [Vladimir] Putin, afirmou. A publicação, ainda, sugere que o comportamento de negar qualquer denúncia de corrupção em relação ao PT denota “teimosia” por parte do ex-presidente.

A matéria, por outro lado, é muito crítica a Bolsonaro. Ataca a atuação do presidente em alguns pontos, como o tratamento dispensado aos povos indígenas ou a estratégia de combate à pandemia (lembrando algumas frases ditas ao longo de 2020). Menciona a recusa de Bolsonaro em se vacinar e classifica a sua rixa com o Supremo Tribunal Federal como uma ameaça a democracia. Também fala da campanha contra as urnas eletrônicas e sobre a possibilidade de o país enfrentar manifestações violentas caso o presidente não vença as eleições.

Essa imagem, que é praticamente uma unanimidade no cenário internacional, foi construída minuciosamente pelo próprio presidente. Os arroubos verbais e a insistência em se colocar do lado politicamente incorreto em inúmeros comentários reforçaram a percepção negativa dos jornalistas internacionais, assim como ocorre com boa parte dos políticos europeus e com o presidente americano Joe Biden.

Quando começaram a pipocar artigos críticos a Bolsonaro no exterior, ele simplesmente deu os ombros e afirmou que a imprensa era de esquerda no Brasil e no mundo – e que, portanto, as alfinetadas eram parciais e sem credibilidade.

Alguns veículos americanos, de fato, se mostram alinhados com o Partido Democrata – como New York Times, CNN e a própria revista Time. Mas isso não impediu esses mesmos órgãos de criticar presidentes democratas no passado. A antipatia contra Bolsonaro, no entanto, extrapola a questão ideológica. Além disso, o presidente nunca se preocupou em polir sua imagem, sempre achando que a sua bolha de apoiadores fiéis representa a maioria esmagadora da população.

Caso Bolsonaro vença as próximas eleições, terá de reconstruir a relação com os países mais ricos, uma vez que o Brasil parece isolado dentro do grupo das dez maiores economias mundiais. O presidente terá capacidade para recuperar esse terreno? Talvez. Mas terá disposição para isso? Dificilmente.
Lula, por outro lado, conta com a simpatia de muitos líderes mundiais. Mas tem de fazer uma lição de casa em relação às declarações sobre ditaduras como as de Maduro, de Daniel Ortega, na Nicarágua, e o regime cubano. Se quiser consolidar sua representatividade no cenário mundial, Lula terá de reconhecer os excessos destes governos.

Mas Lula está disposto a se queimar com seus seguidores mais radicais? De jeito nenhum.

Lula se comparou, na entrevista, ao jogador de futebol americano, Tom Brady, marido da modelo brasileira Gisele Bünchen. “Ele vem sendo o melhor jogador do mundo por muito tempo, mas, em cada jogo, seus fãs exigem que ele jogue melhor que na última partida. Para mim, com a presidência é a mesma coisa. Estou concorrendo porque eu posso fazer melhor do que eu já fiz antes”.

O país, no entanto, mudou muito nos últimos quinze anos. Lula precisa reciclar o discurso para sensibilizar a classe média – na prática, quem vai decidir a eleição em favor dele ou de Bolsonaro. A capa da Time dificilmente trará votos para o candidato petista. Mas é um sinal inequívoco de que, se dependesse dos estrangeiros, ele seria escolhido presidente no lugar de Bolsonaro. De goleada.

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No início de dezembro de 2018, logo após as eleições presidenciais, começou a circular na internet uma capa da revista Time na qual Jair Bolsonaro aparecia como personagem de destaque e vencedor do título “Person of the Year”. Apoiadores do presidente recém-eleito exultaram a escolha. Só que a capa era fake e Bolsonaro não tinha sido ungido personalidade de 2018 (a revista escolheu um grupo de jornalistas mortos ou aprisionados por ditaduras e guerras – chamados de “Os Guardiões” – como homenageados).

Ontem, a mesma revista Time divulgou a capa de sua próxima edição. E quem a estampa é o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. As redes sociais entraram em convulsão, com postagens festejando a capa e outra vociferando contra ela. Muitos internautas favoráveis a Bolsonaro (incluindo seu filho Eduardo) disseram que a revista não tinha credibilidade – mas, curiosamente, essa questão não foi levantada durante as comemorações a respeito da capa fake de 2018.

A Time não é a única publicação internacional a ver a candidatura de Lula com simpatia. Vários outros títulos pensam da mesma forma. A reportagem, no entanto, não é completamente favorável ao ex-presidente. Levanta inclusive alguns pontos que podem causar desconforto entre os petistas. Um deles diz respeito à recusa de chamar Nicolás Maduro, da Venezuela, de ditador (a revista classifica o governo venezuelano como uma “cleptocracia”). Outra questão é a visão de Lula sobre a Guerra da Ucrânia, contra a visão dominante nos Estados Unidos. Ele diz que a culpa pelo conflito também é do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. “Esse cara é tão responsável pela guerra como [Vladimir] Putin, afirmou. A publicação, ainda, sugere que o comportamento de negar qualquer denúncia de corrupção em relação ao PT denota “teimosia” por parte do ex-presidente.

A matéria, por outro lado, é muito crítica a Bolsonaro. Ataca a atuação do presidente em alguns pontos, como o tratamento dispensado aos povos indígenas ou a estratégia de combate à pandemia (lembrando algumas frases ditas ao longo de 2020). Menciona a recusa de Bolsonaro em se vacinar e classifica a sua rixa com o Supremo Tribunal Federal como uma ameaça a democracia. Também fala da campanha contra as urnas eletrônicas e sobre a possibilidade de o país enfrentar manifestações violentas caso o presidente não vença as eleições.

Essa imagem, que é praticamente uma unanimidade no cenário internacional, foi construída minuciosamente pelo próprio presidente. Os arroubos verbais e a insistência em se colocar do lado politicamente incorreto em inúmeros comentários reforçaram a percepção negativa dos jornalistas internacionais, assim como ocorre com boa parte dos políticos europeus e com o presidente americano Joe Biden.

Quando começaram a pipocar artigos críticos a Bolsonaro no exterior, ele simplesmente deu os ombros e afirmou que a imprensa era de esquerda no Brasil e no mundo – e que, portanto, as alfinetadas eram parciais e sem credibilidade.

Alguns veículos americanos, de fato, se mostram alinhados com o Partido Democrata – como New York Times, CNN e a própria revista Time. Mas isso não impediu esses mesmos órgãos de criticar presidentes democratas no passado. A antipatia contra Bolsonaro, no entanto, extrapola a questão ideológica. Além disso, o presidente nunca se preocupou em polir sua imagem, sempre achando que a sua bolha de apoiadores fiéis representa a maioria esmagadora da população.

Caso Bolsonaro vença as próximas eleições, terá de reconstruir a relação com os países mais ricos, uma vez que o Brasil parece isolado dentro do grupo das dez maiores economias mundiais. O presidente terá capacidade para recuperar esse terreno? Talvez. Mas terá disposição para isso? Dificilmente.
Lula, por outro lado, conta com a simpatia de muitos líderes mundiais. Mas tem de fazer uma lição de casa em relação às declarações sobre ditaduras como as de Maduro, de Daniel Ortega, na Nicarágua, e o regime cubano. Se quiser consolidar sua representatividade no cenário mundial, Lula terá de reconhecer os excessos destes governos.

Mas Lula está disposto a se queimar com seus seguidores mais radicais? De jeito nenhum.

Lula se comparou, na entrevista, ao jogador de futebol americano, Tom Brady, marido da modelo brasileira Gisele Bünchen. “Ele vem sendo o melhor jogador do mundo por muito tempo, mas, em cada jogo, seus fãs exigem que ele jogue melhor que na última partida. Para mim, com a presidência é a mesma coisa. Estou concorrendo porque eu posso fazer melhor do que eu já fiz antes”.

O país, no entanto, mudou muito nos últimos quinze anos. Lula precisa reciclar o discurso para sensibilizar a classe média – na prática, quem vai decidir a eleição em favor dele ou de Bolsonaro. A capa da Time dificilmente trará votos para o candidato petista. Mas é um sinal inequívoco de que, se dependesse dos estrangeiros, ele seria escolhido presidente no lugar de Bolsonaro. De goleada.

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