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Boulos lidera a pesquisa em SP. Já ganhou?

Um detalhe chama a atenção logo de início: mais de 60 % dos entrevistados não sabem o nome do atual prefeito, Ricardo Nunes

Boulos: Vamos buscar puxar a agenda do país para a esquerda e garantir uma reforma tributária progressiva e uma mudança na política de preços da Petrobras (Pablo Valadares/Câmara dos Deputados/Agência Câmara)
DR

Da Redação

Publicado em 1 de março de 2023 às 16h59.

Nesta semana, foi dada a largada na eleição para prefeito da maior cidade do país. O gatilho foi uma pesquisa do Instituto Paraná, que avaliou as chances de vários candidatos. Um detalhe chama a atenção logo de início: mais de 60 % dos entrevistados não sabem o nome do atual prefeito, Ricardo Nunes.

Apesar da morte de Bruno Covas ter ocorrido há um ano e meio, Nunes, que era seu vice, ainda não conseguiu se tornar conhecido entre a população. Esse desconhecimento pode ser fatal para o próximo pleito, especialmente porque sua administração é avaliada de maneira regular, sem despertar grandes paixões.

Isso não quer dizer que o prefeito seja uma carta fora do baralho. Em 2008, Gilberto Kassab, que ocupava a prefeitura após a renúncia de José Serra, também era um nome desconhecido do eleitorado. Mesmo assim, conseguiu uma vitória expressiva contra Marta Suplicy no segundo turno.

Guilherme Boulos lidera no cenário de votação estimulada. Será um candidato forte, especialmente porque vai receber apoio expressivo do governo federal. Boulos não tem a liderança apenas no critério de votação espontânea. Neste caso, quem está à frente é Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda, com 2,9 %. O deputado do PSOL vem logo atrás, com 1,6 % — mas temos de lembrar que o PT já anunciou que não terá candidato próprio e que vai apoiar Boulos nessas eleições.

O principal adversário do PSOL neste pleito seria o apresentador de TV José Luiz Datena, atrás do primeiro colocado por uma diferença de dois pontos percentuais. O problema é que ninguém mais acredita que Datena vá mesmo largar a televisão para entrar na política, como já ensaiou diversas vezes.

Sobram três adversários: o ex-governador Rodrigo Garcia (que sempre foi mais popular nos bastidores do poder e tem mais votos no interior), o prefeito Ricardo Nunes (sem grande densidade eleitoral) e o ex-ministro Ricardo Salles (um nome com grande força na direita, mas enorme rejeição no centro e na esquerda).

Com Datena fora do páreo, seu eleitorado deve ser dividido entre Garcia, Nunes e Salles – ou migrar para outro nome que ainda não é considerado pelos eleitores. Lembremos que em dezembro de 2015, o jornal Folha de S. Paulo deu uma manchete na qual vaticinava: a prefeitura de São Paulo ficaria entre Datena e o deputado Celso Russomano no ano seguinte. Como se sabe, o vencedor foi João Doria. No primeiro turno.

Portanto, ainda é cedo para discutir as eleições municipais. Mas já é tarde para iniciar as articulações e começar as ações de pré-campanha, especialmente para os candidatos de centro e de direita. Teremos uma eleição na qual a esquerda irá votar em massa no nome de Boulos. Os moderados e conservadores precisam encontrar um candidato que consiga viabilizar o segundo turno e que não tenha índices altos de rejeição.

Se a eleição municipal repetir a polarização federal de 2022, com uma batalha direta entre Boulos e Salles, por exemplo, a chance de a esquerda levar é bastante alta. Basta lembrar que, nos últimos dez pleitos municipais, O PT emplacou três vencedores: Luiza Erundina, Marta Suplicy e Fernando Haddad. O eleitorado de esquerda na capital paulista é robusto e Boulos mostrou que na última eleição tem um discurso voltado para o público jovem, falando sempre de inclusão e diversidade. Em nenhum momento daquela eleição ele falou de economia ou de invasões de terra – e deve repetir a estratégia em 2024.

Só haverá uma possibilidade de Boulos não ter força no ano que vem – um cenário macroeconômico e político ruim, propício para a revitalização do antipetismo e de antipatia às esquerdas. Mas, do ponto de vista prático, é melhor enfrentar um Boulos forte, com a economia em forma, do que derrotar o candidato do PSOL e sofrer as agruras de um panorama econômico claudicante. Mas, para isso ocorrer, os moderados têm de emplacar um nome que possa unir centro e direita. Sem radicalismos.

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Nesta semana, foi dada a largada na eleição para prefeito da maior cidade do país. O gatilho foi uma pesquisa do Instituto Paraná, que avaliou as chances de vários candidatos. Um detalhe chama a atenção logo de início: mais de 60 % dos entrevistados não sabem o nome do atual prefeito, Ricardo Nunes.

Apesar da morte de Bruno Covas ter ocorrido há um ano e meio, Nunes, que era seu vice, ainda não conseguiu se tornar conhecido entre a população. Esse desconhecimento pode ser fatal para o próximo pleito, especialmente porque sua administração é avaliada de maneira regular, sem despertar grandes paixões.

Isso não quer dizer que o prefeito seja uma carta fora do baralho. Em 2008, Gilberto Kassab, que ocupava a prefeitura após a renúncia de José Serra, também era um nome desconhecido do eleitorado. Mesmo assim, conseguiu uma vitória expressiva contra Marta Suplicy no segundo turno.

Guilherme Boulos lidera no cenário de votação estimulada. Será um candidato forte, especialmente porque vai receber apoio expressivo do governo federal. Boulos não tem a liderança apenas no critério de votação espontânea. Neste caso, quem está à frente é Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda, com 2,9 %. O deputado do PSOL vem logo atrás, com 1,6 % — mas temos de lembrar que o PT já anunciou que não terá candidato próprio e que vai apoiar Boulos nessas eleições.

O principal adversário do PSOL neste pleito seria o apresentador de TV José Luiz Datena, atrás do primeiro colocado por uma diferença de dois pontos percentuais. O problema é que ninguém mais acredita que Datena vá mesmo largar a televisão para entrar na política, como já ensaiou diversas vezes.

Sobram três adversários: o ex-governador Rodrigo Garcia (que sempre foi mais popular nos bastidores do poder e tem mais votos no interior), o prefeito Ricardo Nunes (sem grande densidade eleitoral) e o ex-ministro Ricardo Salles (um nome com grande força na direita, mas enorme rejeição no centro e na esquerda).

Com Datena fora do páreo, seu eleitorado deve ser dividido entre Garcia, Nunes e Salles – ou migrar para outro nome que ainda não é considerado pelos eleitores. Lembremos que em dezembro de 2015, o jornal Folha de S. Paulo deu uma manchete na qual vaticinava: a prefeitura de São Paulo ficaria entre Datena e o deputado Celso Russomano no ano seguinte. Como se sabe, o vencedor foi João Doria. No primeiro turno.

Portanto, ainda é cedo para discutir as eleições municipais. Mas já é tarde para iniciar as articulações e começar as ações de pré-campanha, especialmente para os candidatos de centro e de direita. Teremos uma eleição na qual a esquerda irá votar em massa no nome de Boulos. Os moderados e conservadores precisam encontrar um candidato que consiga viabilizar o segundo turno e que não tenha índices altos de rejeição.

Se a eleição municipal repetir a polarização federal de 2022, com uma batalha direta entre Boulos e Salles, por exemplo, a chance de a esquerda levar é bastante alta. Basta lembrar que, nos últimos dez pleitos municipais, O PT emplacou três vencedores: Luiza Erundina, Marta Suplicy e Fernando Haddad. O eleitorado de esquerda na capital paulista é robusto e Boulos mostrou que na última eleição tem um discurso voltado para o público jovem, falando sempre de inclusão e diversidade. Em nenhum momento daquela eleição ele falou de economia ou de invasões de terra – e deve repetir a estratégia em 2024.

Só haverá uma possibilidade de Boulos não ter força no ano que vem – um cenário macroeconômico e político ruim, propício para a revitalização do antipetismo e de antipatia às esquerdas. Mas, do ponto de vista prático, é melhor enfrentar um Boulos forte, com a economia em forma, do que derrotar o candidato do PSOL e sofrer as agruras de um panorama econômico claudicante. Mas, para isso ocorrer, os moderados têm de emplacar um nome que possa unir centro e direita. Sem radicalismos.

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