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A briga entre Ciro e Lira favorece Lula

O embate entre o senador Ciro Nogueira e o presidente da Câmara, Arthur Lira, faz com que o Progressistas sofra de dupla personalidade

O presidente da Câmara, Arthur Lira, nome forte do PP, costurou um acordo de apoio à gestão de Lula (Jefferson Rudy/Agência Senado)

Publicado em 25 de setembro de 2023 às 09h20.

O PP sempre foi um partido com tradição adesista e pode ser considerado um dos símbolos máximos do Centrão. Desde sua fundação, deu apoio a todos os governos que passaram por Brasília – de Fernando Henrique Cardoso a Jair Bolsonaro. Desde o início do ano, porém, comportava-se como um partido de oposição, utilizando especialmente a verve do senador Ciro Nogueira, seu presidente, senador da República e ex-ministro de Bolsonaro.

Ocorre que o outro nome forte do PP é o presidente da Câmara, Arthur Lira, que costurou um acordo de apoio (não integral, é verdade) à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Lira colocou o deputado André Fufuca no ministério do Esporte e deve indicar vários cargos na Caixa Econômica Federal, incluindo seu presidente e doze vice-presidências.

Ou seja, o Progressista sofre de dupla personalidade: do lado cirista, é um oposicionista empedernido; do lado lirista, é um aliado do governo, com independência para decidir quais causas planaltinas vai apoiar.

O PP nunca foi um partido com grande perfil ideológico, embora uma das siglas que o formou tenha sido justamente o PDS, sucedâneo da Arena, que serviu de base política para o governo militar. É por isso, inclusive, que o número do partido é 11 (que foi dos pedessistas). Agora, depois de quase trinta anos de adesismo, Ciro busca retocar a imagem da sigla com bandeiras de direita.

Nesta semana, a senadora Tereza Cristina divulgou um documento com onze “cláusulas pétreas” defendidas pelo PP, entre as quais a luta contra o aumento de impostos, o retorno da contribuição sindical e as invasões de terra.

Com esse texto, Ciro pretende dar retoques ideológicos ao programa de seu partido e criar constrangimentos para Arthur Lira, que vai trabalhar para aprovar matérias importantes ao governo. Ocorre que O presidente da Câmara já tinha avisado Lula que não entraria nesses terrenos minados. Portanto, a manobra do ex-ministro da Casa Civil pode trazer poucos resultados práticos.

O problema de Ciro é que Lira pode oferecer a seus correligionários cargos e verbas – algo que em Brasília vale bem mais do que um manifesto direitista (que contém alguns pontos importantes, por sinal). Dentro de um partido com tradição fisiológica, a abordagem de Lira parece mais promissora que a de Ciro.

Essa disputa pela fidelidade dos parlamentares tem como pano de fundo os projetos pessoais de cada um dos caciques.

Lira, hoje, tem enorme poder por conta do cargo que ocupa. Mas terá de deixar a presidência da Câmara no ano que vem. Com isso, seu cacife será fortemente diminuído. Qual seria a saída? O caminho mais provável seria ocupar um ministério no governo Lula – uma possibilidade já aventada pelo ministro Fufuca.

“Por onde passou, Arthur fez um bom trabalho. Ele foi bom deputado estadual, bom deputado federal, nunca foi mais um, sempre foi um cara que fez a diferença. E se tiver interesse de ser ministro, qualquer governo, eu acho, que gostaria de ter ele. Aonde ele for, ele vai fazer um papel diferenciado”, declarou Fufuca nesta semana.

Já Ciro só consegue enxergar um futuro político no qual está em confronto com o PT, seja no cenário nacional ou no regional. Sem esse contraponto, seu discurso perde muita força – e vamos lembrar que o mandato do senador acaba em 2026.

Quem ganha com tudo isso? O presidente Lula, que conseguiu atrair Lira para sua órbita sem impor um acordo cujas condições o presidente da Câmara não conseguiria cumprir sem grande constrangimento. Ciro, por enquanto, tem apenas um discurso oposicionista a oferecer – que pode ser uma mercadoria valiosa se a economia insistir em neste ritmo claudicante. Isso, no entanto, pode ter um efeito pequeno diante de um cheque em branco que pode ser brandido por Lira junto aos colegas de partido.

Nessa briga, quem vencerá? A ideologia ou o adesismo?

Infelizmente, o fisiologismo, quando se trata de Centrão, sempre leva a melhor.

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Ocorre que o outro nome forte do PP é o presidente da Câmara, Arthur Lira, que costurou um acordo de apoio (não integral, é verdade) à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Lira colocou o deputado André Fufuca no ministério do Esporte e deve indicar vários cargos na Caixa Econômica Federal, incluindo seu presidente e doze vice-presidências.

Ou seja, o Progressista sofre de dupla personalidade: do lado cirista, é um oposicionista empedernido; do lado lirista, é um aliado do governo, com independência para decidir quais causas planaltinas vai apoiar.

O PP nunca foi um partido com grande perfil ideológico, embora uma das siglas que o formou tenha sido justamente o PDS, sucedâneo da Arena, que serviu de base política para o governo militar. É por isso, inclusive, que o número do partido é 11 (que foi dos pedessistas). Agora, depois de quase trinta anos de adesismo, Ciro busca retocar a imagem da sigla com bandeiras de direita.

Nesta semana, a senadora Tereza Cristina divulgou um documento com onze “cláusulas pétreas” defendidas pelo PP, entre as quais a luta contra o aumento de impostos, o retorno da contribuição sindical e as invasões de terra.

Com esse texto, Ciro pretende dar retoques ideológicos ao programa de seu partido e criar constrangimentos para Arthur Lira, que vai trabalhar para aprovar matérias importantes ao governo. Ocorre que O presidente da Câmara já tinha avisado Lula que não entraria nesses terrenos minados. Portanto, a manobra do ex-ministro da Casa Civil pode trazer poucos resultados práticos.

O problema de Ciro é que Lira pode oferecer a seus correligionários cargos e verbas – algo que em Brasília vale bem mais do que um manifesto direitista (que contém alguns pontos importantes, por sinal). Dentro de um partido com tradição fisiológica, a abordagem de Lira parece mais promissora que a de Ciro.

Essa disputa pela fidelidade dos parlamentares tem como pano de fundo os projetos pessoais de cada um dos caciques.

Lira, hoje, tem enorme poder por conta do cargo que ocupa. Mas terá de deixar a presidência da Câmara no ano que vem. Com isso, seu cacife será fortemente diminuído. Qual seria a saída? O caminho mais provável seria ocupar um ministério no governo Lula – uma possibilidade já aventada pelo ministro Fufuca.

“Por onde passou, Arthur fez um bom trabalho. Ele foi bom deputado estadual, bom deputado federal, nunca foi mais um, sempre foi um cara que fez a diferença. E se tiver interesse de ser ministro, qualquer governo, eu acho, que gostaria de ter ele. Aonde ele for, ele vai fazer um papel diferenciado”, declarou Fufuca nesta semana.

Já Ciro só consegue enxergar um futuro político no qual está em confronto com o PT, seja no cenário nacional ou no regional. Sem esse contraponto, seu discurso perde muita força – e vamos lembrar que o mandato do senador acaba em 2026.

Quem ganha com tudo isso? O presidente Lula, que conseguiu atrair Lira para sua órbita sem impor um acordo cujas condições o presidente da Câmara não conseguiria cumprir sem grande constrangimento. Ciro, por enquanto, tem apenas um discurso oposicionista a oferecer – que pode ser uma mercadoria valiosa se a economia insistir em neste ritmo claudicante. Isso, no entanto, pode ter um efeito pequeno diante de um cheque em branco que pode ser brandido por Lira junto aos colegas de partido.

Nessa briga, quem vencerá? A ideologia ou o adesismo?

Infelizmente, o fisiologismo, quando se trata de Centrão, sempre leva a melhor.

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