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Superando obstáculos educacionais em comunidades vulneráveis no Brasil

Frente a uma crise educacional, iniciativas como o programa federal "Pé de Meia" surgem como esforços para incentivar a permanência na escola

escola sala de de aula colégio (Royalty-free/Getty Images)
Nina Rentel Scheliga

Colunista - Instituto Millenium

Publicado em 27 de março de 2024 às 13h44.

Última atualização em 27 de março de 2024 às 17h50.

Este artigo foi escrito em coautoria com Rodrigo Vieira, arquiteto e urbanista, que atualmente cursa um Mestrado em Desenvolvimento Sustentável na Universidade de Tel Aviv e exerce o cargo de Gerente de Inovação e Melhoria Contínua na Gerando Falcões.

No Brasil, a educação enfrenta desafios significativos, refletidos nos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA ). De acordo com o último relatório, 73% dos alunos brasileiros não alcançaram o patamar mínimo de aprendizagem em matemática, enquanto 50% falharam em leitura e 55%, em ciências. Esses números revelam uma crise educacional que afeta particularmente as comunidades mais vulneráveis, como as que residem nas favelas. Nesse contexto, iniciativas como o programa federal "Pé de Meia", que propõe criar uma poupança para jovens que completam o ensino médio, surgem como esforços para incentivar a permanência na escola e, por consequência, promover a mobilidade social.

Na realidade das favelas do Brasil, esse desafio é ainda mais complexo, marcada por desafios que vão além do acesso físico às escolas. Segundo as experiências da Gerando Falcões na favelas 3D do Brasil, a metodologia de ensino, muitas vezes tradicional e descontextualizada, não atende às necessidades reais dos moradores dessas comunidades, falhando em motivar tanto crianças quanto adultos. A vergonha, o preconceito socioeconômico e a falta de recursos tecnológicos são barreiras adicionais que desencorajam a busca pelo conhecimento. Esse ponto se torna ainda mais complexo dependendo do nível de vulnerabilidade e pobreza em que esses alunos se encontram, bem como a idade avançada. Não são poucos os relatos em favelas que atuamos com a Gerando Falcões, que as famílias relatam essa insegurança de ocupar esses espaços pela sua idade e endereço.

A disparidade racial também é um fator crítico, com famílias negras e chefiadas por mães solteiras enfrentando desafios educacionais significativos. A análise do Programa Decolagem mostra que a lacuna de desempenho nas escolas está diretamente correlacionada com o desempenho na alfabetização, afetando desproporcionalmente crianças negras e pardas.

Nesse mesmo contexto, a falta de estímulo e orientação familiar, exacerbada pela priorização da sobrevivência imediata em detrimento do investimento educacional, perpetua um ciclo de exclusão educacional e social. A possibilidade de retorno rápido de algum trabalho pode rapidamente se sobrepor sobre a possibilidade de retorno maior no futuro principalmente se essa visão de futuro não for crível e de esperança de mudança.

Além das barreiras metodológicas e culturais, os moradores das favelas enfrentam uma grave falta de recursos tecnológicos e de infraestrutura adequada para estudo. O acesso limitado à internet e a ausência de dispositivos eletrônicos comprometem a educação digital e a capacidade de complementar o aprendizado formal com recursos online. A inexistência de espaços propícios para estudo e concentração, tanto em casa quanto na comunidade, adiciona outra camada de dificuldade ao desafio educacional.

Cidades como Sobral e Teresina demonstram que é possível superar os desafios educacionais através da qualidade de gestão escolar, valorização dos professores e fornecimento de bons materiais didáticos. Esses exemplos mostram que não existe uma única solução milagrosa para os problemas da educação. As estratégias de sucesso levam em consideração a qualidade da educação e a realidade específica das comunidades atendidas. A implementação de políticas públicas inovadoras, que abordem tanto a melhoria das condições escolares quanto o enfrentamento das questões socioeconômicas que afetam as famílias, é essencial para promover a inclusão e a equidade educacional.

Os desafios da educação nas favelas do Brasil são grandes, mas não insuperáveis. Iniciativas governamentais como o "Pé de Meia" e os exemplos de Sobral e Teresina oferecem lições valiosas sobre a importância de adaptar as soluções educacionais às necessidades específicas de cada comunidade. É essencial que a sociedade civil, as autoridades e os educadores trabalhem juntos para criar um ambiente educacional que promova não apenas o aprendizado, mas também a esperança e a oportunidade de um futuro melhor para todos. O investimento na educação é um passo fundamental para a superação da pobreza e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

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Este artigo foi escrito em coautoria com Rodrigo Vieira, arquiteto e urbanista, que atualmente cursa um Mestrado em Desenvolvimento Sustentável na Universidade de Tel Aviv e exerce o cargo de Gerente de Inovação e Melhoria Contínua na Gerando Falcões.

No Brasil, a educação enfrenta desafios significativos, refletidos nos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA ). De acordo com o último relatório, 73% dos alunos brasileiros não alcançaram o patamar mínimo de aprendizagem em matemática, enquanto 50% falharam em leitura e 55%, em ciências. Esses números revelam uma crise educacional que afeta particularmente as comunidades mais vulneráveis, como as que residem nas favelas. Nesse contexto, iniciativas como o programa federal "Pé de Meia", que propõe criar uma poupança para jovens que completam o ensino médio, surgem como esforços para incentivar a permanência na escola e, por consequência, promover a mobilidade social.

Na realidade das favelas do Brasil, esse desafio é ainda mais complexo, marcada por desafios que vão além do acesso físico às escolas. Segundo as experiências da Gerando Falcões na favelas 3D do Brasil, a metodologia de ensino, muitas vezes tradicional e descontextualizada, não atende às necessidades reais dos moradores dessas comunidades, falhando em motivar tanto crianças quanto adultos. A vergonha, o preconceito socioeconômico e a falta de recursos tecnológicos são barreiras adicionais que desencorajam a busca pelo conhecimento. Esse ponto se torna ainda mais complexo dependendo do nível de vulnerabilidade e pobreza em que esses alunos se encontram, bem como a idade avançada. Não são poucos os relatos em favelas que atuamos com a Gerando Falcões, que as famílias relatam essa insegurança de ocupar esses espaços pela sua idade e endereço.

A disparidade racial também é um fator crítico, com famílias negras e chefiadas por mães solteiras enfrentando desafios educacionais significativos. A análise do Programa Decolagem mostra que a lacuna de desempenho nas escolas está diretamente correlacionada com o desempenho na alfabetização, afetando desproporcionalmente crianças negras e pardas.

Nesse mesmo contexto, a falta de estímulo e orientação familiar, exacerbada pela priorização da sobrevivência imediata em detrimento do investimento educacional, perpetua um ciclo de exclusão educacional e social. A possibilidade de retorno rápido de algum trabalho pode rapidamente se sobrepor sobre a possibilidade de retorno maior no futuro principalmente se essa visão de futuro não for crível e de esperança de mudança.

Além das barreiras metodológicas e culturais, os moradores das favelas enfrentam uma grave falta de recursos tecnológicos e de infraestrutura adequada para estudo. O acesso limitado à internet e a ausência de dispositivos eletrônicos comprometem a educação digital e a capacidade de complementar o aprendizado formal com recursos online. A inexistência de espaços propícios para estudo e concentração, tanto em casa quanto na comunidade, adiciona outra camada de dificuldade ao desafio educacional.

Cidades como Sobral e Teresina demonstram que é possível superar os desafios educacionais através da qualidade de gestão escolar, valorização dos professores e fornecimento de bons materiais didáticos. Esses exemplos mostram que não existe uma única solução milagrosa para os problemas da educação. As estratégias de sucesso levam em consideração a qualidade da educação e a realidade específica das comunidades atendidas. A implementação de políticas públicas inovadoras, que abordem tanto a melhoria das condições escolares quanto o enfrentamento das questões socioeconômicas que afetam as famílias, é essencial para promover a inclusão e a equidade educacional.

Os desafios da educação nas favelas do Brasil são grandes, mas não insuperáveis. Iniciativas governamentais como o "Pé de Meia" e os exemplos de Sobral e Teresina oferecem lições valiosas sobre a importância de adaptar as soluções educacionais às necessidades específicas de cada comunidade. É essencial que a sociedade civil, as autoridades e os educadores trabalhem juntos para criar um ambiente educacional que promova não apenas o aprendizado, mas também a esperança e a oportunidade de um futuro melhor para todos. O investimento na educação é um passo fundamental para a superação da pobreza e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

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