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Por que a economia básica é importante

"Explicar de forma simples não é ser simplista. É a clareza da exposição dos princípios da economia que deve ser valorizada"

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institutomillenium

Publicado em 24 de julho de 2019 às 13h55.

Por João Luiz Mauad*

Embora não seja economista de formação, já faz alguns anos que tenho me dedicado a escrever artigos voltados para economia básica. Minha intenção com isso é tentar repassar alguns dos conhecimentos que adquiri em minhas leituras sobre um assunto que aprendi a gostar depois de velho. Por ser leigo na matéria, meus textos costumam ser bastante simples (muitos os acusam de simplórios) em relação aos padrões acadêmicos. Mas a minha intenção sempre foi essa mesmo: ser o mais simples e didático possível, a fim de explicar aspectos básicos de uma ciência tão importante àqueles que, como eu, não tiveram a oportunidade de estudá-la a fundo.

Recentemente, para minha satisfação, deparei-me com um artigo do professor Peter Boetke, que fala justamente sobre a importância de se apresentar ao cidadão comum os princípios, leis e teorias básicos da economia.

Primeiro, diz ele, a economia é uma matéria fundamentalmente contra-intuitiva. O enigma teórico central da economia é a ordem não planejada, e assim nossa busca teórica começa com a tentativa de explicar resultados que não fazem parte das intenções dos agentes econômicos. Por exemplo, por que leis de salário mínimo tendem a sacrificar os menos capacitados ou as proteções à indústria nacional tendem à perda de competitividade. Se os resultados estivessem sempre atrelados às intenções dos atores, então nossa tarefa teórica seria trivial e não haveria mistério para desvendá-la. Mas isso é precisamente o que a economia e a ciência social não são. A ciência teórica é necessária precisamente porque as intenções não são iguais aos resultados e, portanto, podemos ver tanto vícios privados se traduzirem em virtudes públicas, como as boas intenções tomarem o caminho do inferno.

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Em segundo lugar, a análise teórica detalhada requer longas cadeias de raciocínio, o que significa que muitos não terão paciência ou serão incapazes de seguir o argumento até o fim. Portanto, muitas vezes é mais fácil contar uma história mais curta. Isso, em essência, é o que Bastiat tentou fazer para que seus leitores entendessem os efeitos diretos e indiretos, imediatos e de longo prazo das intervenções econômicas. Nunca abandone uma história antes que esteja completa, ele dizia aos seus leitores, e então você pode julgar a situação tanto positiva quanto negativamente. A teoria das conseqüências não intencionais, enfatizou ele, repetindo a lição de Adam Smith, pode ser usada para explicar tanto os resultados socialmente desejáveis, a partir de vícios privados, quanto os resultados socialmente indesejáveis, em que os esforços mais sinceros e bem intencionados foram realizados.

Terceiro, precisamente porque a economia é contra-intuitiva, e porque requer disciplina para raciocinar, vários grupos de interesses podem obscurecer o discurso para barganhar privilégios especiais. Naturalmente, os economistas entendem esse problema desde pelo menos o tempo de Adam Smith. Os processos políticos tendem a concentrar os benefícios nos bem organizados e bem informados, e dispersar os custos nos desorganizados e mal informados. É por isso que, apesar de séculos de pensamento econômico que falam contra privilégios especiais de qualquer tipo, esses interesses foram capazes de reunir proteções do governo contra os rigores das pressões competitivas, tanto estrangeiras quanto domésticas, sempre às custas de consumidores e pagadores de impostos.

Aqueles de nós, prossegue Boetke, que acreditam na natureza contra-intuitiva do raciocínio econômico, devem estar dispostos a se engajar na medíocre (pelo menos em termos acadêmicos) cruzada pela alfabetização econômica da população em geral, a refinar continuamente nossa compreensão da economia básica e a persuadir os demais de que não há nada enfadonho em trabalhar com a aplicação persistente e consistente de princípios econômicos para entender o modo como o mundo funciona em toda a sua diversidade. Explicar de forma simples não é ser simplista. É a clareza da exposição dos princípios da economia que deve ser valorizada.

Como James Buchanan escreveu a seus pares num ensaio chamado Economia como Ciência Pública, "o ensino é provavelmente o trabalho mais importante que qualquer um de nós faz como economistas". A função didática da economia é ensinar os princípios da ordem espontânea para que todos possam se tornar participantes bem informados do processo democrático de tomada de decisão coletiva.

Muita energia intelectual, argumenta Buchanan, está atualmente sendo gasta em "quebra-cabeças estilizados" e não o suficiente na "atividade repetitiva e às vezes chata de explicar os princípios da ciência há muito aceitos".  Enfim, sou daqueles que acreditam que a teoria econômica básica deveria ser ensinada nas escolas.

*Administrador de empresas formado pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas (EBAP/FGV-RJ), João Luiz Mauad é articulista dos jornais “O Globo” e “Diário do Comércio”. Escreve regularmente para o site do Instituto Liberal.

Por João Luiz Mauad*

Embora não seja economista de formação, já faz alguns anos que tenho me dedicado a escrever artigos voltados para economia básica. Minha intenção com isso é tentar repassar alguns dos conhecimentos que adquiri em minhas leituras sobre um assunto que aprendi a gostar depois de velho. Por ser leigo na matéria, meus textos costumam ser bastante simples (muitos os acusam de simplórios) em relação aos padrões acadêmicos. Mas a minha intenção sempre foi essa mesmo: ser o mais simples e didático possível, a fim de explicar aspectos básicos de uma ciência tão importante àqueles que, como eu, não tiveram a oportunidade de estudá-la a fundo.

Recentemente, para minha satisfação, deparei-me com um artigo do professor Peter Boetke, que fala justamente sobre a importância de se apresentar ao cidadão comum os princípios, leis e teorias básicos da economia.

Primeiro, diz ele, a economia é uma matéria fundamentalmente contra-intuitiva. O enigma teórico central da economia é a ordem não planejada, e assim nossa busca teórica começa com a tentativa de explicar resultados que não fazem parte das intenções dos agentes econômicos. Por exemplo, por que leis de salário mínimo tendem a sacrificar os menos capacitados ou as proteções à indústria nacional tendem à perda de competitividade. Se os resultados estivessem sempre atrelados às intenções dos atores, então nossa tarefa teórica seria trivial e não haveria mistério para desvendá-la. Mas isso é precisamente o que a economia e a ciência social não são. A ciência teórica é necessária precisamente porque as intenções não são iguais aos resultados e, portanto, podemos ver tanto vícios privados se traduzirem em virtudes públicas, como as boas intenções tomarem o caminho do inferno.

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Sacolas plásticas: custos e benefícios da proibição

Em segundo lugar, a análise teórica detalhada requer longas cadeias de raciocínio, o que significa que muitos não terão paciência ou serão incapazes de seguir o argumento até o fim. Portanto, muitas vezes é mais fácil contar uma história mais curta. Isso, em essência, é o que Bastiat tentou fazer para que seus leitores entendessem os efeitos diretos e indiretos, imediatos e de longo prazo das intervenções econômicas. Nunca abandone uma história antes que esteja completa, ele dizia aos seus leitores, e então você pode julgar a situação tanto positiva quanto negativamente. A teoria das conseqüências não intencionais, enfatizou ele, repetindo a lição de Adam Smith, pode ser usada para explicar tanto os resultados socialmente desejáveis, a partir de vícios privados, quanto os resultados socialmente indesejáveis, em que os esforços mais sinceros e bem intencionados foram realizados.

Terceiro, precisamente porque a economia é contra-intuitiva, e porque requer disciplina para raciocinar, vários grupos de interesses podem obscurecer o discurso para barganhar privilégios especiais. Naturalmente, os economistas entendem esse problema desde pelo menos o tempo de Adam Smith. Os processos políticos tendem a concentrar os benefícios nos bem organizados e bem informados, e dispersar os custos nos desorganizados e mal informados. É por isso que, apesar de séculos de pensamento econômico que falam contra privilégios especiais de qualquer tipo, esses interesses foram capazes de reunir proteções do governo contra os rigores das pressões competitivas, tanto estrangeiras quanto domésticas, sempre às custas de consumidores e pagadores de impostos.

Aqueles de nós, prossegue Boetke, que acreditam na natureza contra-intuitiva do raciocínio econômico, devem estar dispostos a se engajar na medíocre (pelo menos em termos acadêmicos) cruzada pela alfabetização econômica da população em geral, a refinar continuamente nossa compreensão da economia básica e a persuadir os demais de que não há nada enfadonho em trabalhar com a aplicação persistente e consistente de princípios econômicos para entender o modo como o mundo funciona em toda a sua diversidade. Explicar de forma simples não é ser simplista. É a clareza da exposição dos princípios da economia que deve ser valorizada.

Como James Buchanan escreveu a seus pares num ensaio chamado Economia como Ciência Pública, "o ensino é provavelmente o trabalho mais importante que qualquer um de nós faz como economistas". A função didática da economia é ensinar os princípios da ordem espontânea para que todos possam se tornar participantes bem informados do processo democrático de tomada de decisão coletiva.

Muita energia intelectual, argumenta Buchanan, está atualmente sendo gasta em "quebra-cabeças estilizados" e não o suficiente na "atividade repetitiva e às vezes chata de explicar os princípios da ciência há muito aceitos".  Enfim, sou daqueles que acreditam que a teoria econômica básica deveria ser ensinada nas escolas.

*Administrador de empresas formado pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas (EBAP/FGV-RJ), João Luiz Mauad é articulista dos jornais “O Globo” e “Diário do Comércio”. Escreve regularmente para o site do Instituto Liberal.

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