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"O principal objetivo de Milei é a estabilização econômica: tudo o mais é secundário", diz Falcone

Instituto Millenium entrevista Marcos Falcone, analista político da Fundación Libertad e do Cato Institute

Em um momento de transformação política e econômica na Argentina, o Instituto Millenium volta a conversar com Marcos Falcone, analista político da Fundación Libertad e do Cato Institute, para discutir as recentes dinâmicas do cenário argentino. Falcone, que já havia compartilhado suas análises sobre as probabilidades eleitorais de Javier Milei em outubro de 2023, agora examina as consequências das políticas implementadas pelo governo Milei, desde a economia até a gestão de questões sociais e legislativas. Este diálogo ocorre em um contexto onde a Argentina mostra sinais de melhora em alguns indicadores econômicos, levantando questões sobre a eficácia e o impacto das ações governamentais. 

Desde a estabilização da inflação e ajustes na política cambial até as reformas legislativas e as respostas a movimentos sociais, Falcone avalia a capacidade do governo de Milei de alcançar seus objetivos de estabilização econômica e as implicações dessas políticas para a sociedade argentina. A entrevista também aborda temas recentes manifestações de rua contra o governo, refletindo as tensões dentro e fora da base de apoio do governo, bem como as divisões mais amplas dentro da sociedade. Este encontro proporciona uma visão abrangente sobre os desafios e progressos do governo Milei, oferecendo uma perspectiva crucial sobre o futuro político e econômico da Argentina. 

Instituto Millenium: Nos últimos meses, observamos uma diminuição nas taxas de juros, uma desaceleração da inflação e uma valorização do peso na Argentina. Poderia detalhar quais medidas concretas do governo de Milei levaram a esses resultados econômicos? 

Marcos Falcone: A mudança mais importante na gestão econômica deste governo é o objetivo de déficit zero. Os primeiros meses de governo mostraram superávit fiscal. Embora se questione a sustentabilidade dos cortes de gastos públicos (já que afetam principalmente aposentados e pensionistas), esta "âncora fiscal" e a consequente redução da emissão monetária em pesos é o que dá credibilidade ao governo para afirmar que a inflação vai diminuir. Ao mesmo tempo, o governo mantém o controle cambial que permite fixar o preço do dólar oficial; como foi estabelecido um crawling peg de 2% mensais e o dólar informal se mantém estável pelas expectativas de estabilização que o governo desperta, o peso está se valorizando. 

IM: O Congresso aprovou uma versão reformada da "lei ônibus", demonstrando certo progresso na agenda legislativa do governo. Como você interpreta a habilidade do governo para forjar alianças estáveis e negociar em um ambiente legislativo desafiador? Quais são as implicações disso para a governabilidade do país? 

MF: O governo é mais dialoguista nos fatos do que no discurso. A aprovação parcial da Lei de Bases mostrou que, pelo menos na Câmara dos Deputados, pode formar alianças para aprovar legislação, embora o custo seja que a lei tenha sido consideravelmente reduzida. Agora resta ver se pode fazer o mesmo no Senado. O sucesso que obteve até agora pode ser explicado por dois fatores: um é a necessidade dos governadores, que são os "chefes políticos" de vários legisladores, de obter recursos nacionais (controlados por Milei). O outro é a pressão gerada pelo fato de que Milei continua tão popular quanto era quando assumiu, motivo pelo qual ninguém quer aparecer como um obstáculo às reformas legitimadas pelas eleições e pela opinião pública. 

IM: Frente aos protestos pelos cortes no financiamento das universidades públicas, como o governo reagiu? Você considera que esse descontentamento reflete uma rejeição generalizada à agenda liberal do governo ou é mais um sintoma de uma sociedade cada vez mais dividida? 

MF: O governo minimizou o impacto da marcha universitária especialmente porque vários líderes da oposição a acompanharam, o que a transformou em um evento político. A protesto mostra que há um setor da sociedade que não acompanha as mudanças que o governo está implementando, algo que era esperado dada a campanha de Massa em 2023 e o fato de que vários atores que faziam parte do Juntos por el Cambio também resistem a Milei. A marcha foi muito além do orçamento universitário estatal e serviu como desculpa para protestar contra o governo. 

IM: Observando os resultados fiscais recentes e a desaceleração inflacionária, além da aprovação da lei ônibus, qual seria sua projeção sobre a convergência das políticas macroeconômicas e microeconômicas do governo? Quais indicadores deveríamos monitorar para medir o avanço dessas políticas no futuro próximo? 

MF: É impossível fazer uma previsão sobre se Milei terá sucesso ou não. O governo espera que a inflação continue caindo e que a taxa de câmbio permaneça estável. Talvez a chave do programa seja a flexibilidade dos preços, que hoje estão artificialmente altos devido à apreciação do peso. A recessão é hoje um fato inegável. Se os salários permanecerem baixos e os preços altos, o governo perderá a confiança da opinião pública e dos mercados. Se os salários se recuperarem enquanto a inflação cai, então poderemos falar de um sucesso de Milei. 

IM: Além da agenda econômica, como o governo tem gerido outros temas importantes? Vimos propostas dentro da coalizão governamental para rediscutir a lei do aborto, um tema central nas chamadas guerras culturais. Como você avalia esse tipo de movimentos dentro do espectro político atual? 

MF: O principal objetivo do governo Milei é a estabilização econômica: tudo o mais é secundário. É verdade que estabilizar é difícil para a população, e é por esse motivo que Milei fala mais no exterior do que na própria Argentina. Talvez a dificuldade de estabilizar também faça com que o governo fale de temas não econômicos, mas na medida em que tenha sucesso com a estabilização, esses serão cada vez menos relevantes. Como sugeriu o próprio presidente recentemente, não vejo hoje provável que a lei do aborto seja rediscutida no curto prazo.