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“O governo é repetidamente desmentido pelos fatos”, afirma Fabio Giambiagi

Por Wagner Vargas O país vivencia um momento de incertezas na política econômica e o governo parece desacreditar no erro de suas estratégias. Em ano eleitoral, é quase certo que reformas estruturais necessárias não serão realizadas, entre elas a da Previdência Social, que pode ser comparada a uma verdadeira bomba relógio. O déficit atual está em torno de R$56 bilhões, enquanto o número de brasileiros na terceira idade tende a […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 26 de março de 2014 às 17h37.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 08h33.

Fabio Giambiagi

Por Wagner Vargas

O país vivencia um momento de incertezas na política econômica e o governo parece desacreditar no erro de suas estratégias. Em ano eleitoral, é quase certo que reformas estruturais necessárias não serão realizadas, entre elas a da Previdência Social, que pode ser comparada a uma verdadeira bomba relógio. O déficit atual está em torno de R$56 bilhões, enquanto o número de brasileiros na terceira idade tende a ser cada vez maior nos próximos anos, com reajuste vinculado ao salário mínimo.

Em entrevista exclusiva para o Instituto Millenium, o economista Fábio Giambiagi falou sobre a condução das medidas econômicas, malabarismos fiscais do governo e sobre como o Brasil pode lidar com medidas impopulares, porém necessárias, que demandam corte de custos e bom funcionamento do sistema democrático.

Um dos maiores especialistas em finanças públicas e previdência social, Giambiagi é mestre em ciências econômicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor e organizador de diversos livros, entre eles “Reforma da Previdência, o encontro marcado” (Elsevier, 2007) e “Propostas para o governo 2015-2018 – Agenda para um país próspero” (Elsevier, 2013). Em abril deste ano, o especialista lança “Complacência – Entenda por que o Brasil cresce menos do que pode” (Elsevier, 2014), escrito em parceria com o economista Alexandre Schwartsman. Giambiagi atua como chefe do Departamento de Mercado do BNDES, é membro do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), especialista do Imil e articulista do jornal “Valor Econômico”.

Imil: O Brasil apresenta crescimento baixo, inflação alta, juros altos, alta carga tributária e baixa produtividade. Qual é o maior desafio a ser enfrentado?
Fabio Giambiagi: O grande desafio é transformar um país que cresceu com a ocupação aumentando 2,5 % ao ano e baixo crescimento da produtividade em um país onde a oferta de trabalho e o emprego vão crescer apenas 1,0 % ao ano e cuja produtividade precisará crescer muito mais. Aumentar a produtividade tem que se tornar uma obsessão nacional assim como foi no passado combater a alta inflação e depois combater os elevados níveis de pobreza.

Imil: A inflação é o pior cenário para a população de baixa renda, no entanto, temos a mesma meta de inflação – 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo – desde 2005. A rigor, alguns analistas dizem que esta opção não tem permitido à economia crescer num ritmo maior. Qual sua visão sobre a questão?
Giambiagi: Essa crítica não faz o menor sentido e encontra-se em divórcio (litigioso!) com os fatos. No governo Lula, a meta de 4,5% era respeitada e o país crescia 4,0 % ao ano, em média. Depois que, no governo atual, o centro da meta passou a ser olimpicamente ignorado, o que deveria ter ocorrido com base nessa tese? O país deveria ter crescido mais. Certo? Não: errado. Passamos a flertar com inflação de 6 % e o crescimento caiu para a metade, apenas 2 % ao ano em média, grosso modo. O país tem que deixar para trás essas teses obtusas, até porque defender o respeito à meta de 4,5 % não pode ser tratado como um ato de ortodoxia, como se tivéssemos um alvo de inflação de menos de 2 % ao ano.

Imil: Uma das soluções apontadas para o combate à inflação é o mandato fixo para presidente do Banco Central e a adoção de metas plurianuais para inflação e superávit primário. Isso traria um maior compromisso das políticas econômicas à inflação, trazendo mais confiança?
Giambiagi: Sou a favor disso, mas cabem algumas qualificações. Quero ressaltar dois pontos. O primeiro é que embora a autonomia formal do Banco Central ajude, ela não é uma panaceia e pode ser tratada a pontapés por um governo intervencionista. Formalmente, o Banco Central argentino é autônomo, mas ele foi transformado em uma mixórdia pelos Kirchner. Já, aqui, não temos autonomia formal, mas no segundo governo FHC e nos anos Lula, o Banco Central foi plenamente independente, na prática. O segundo ponto é que a meta plurianual de superávit primário, na verdade, já existe, pois a Lei de Diretrizes Orçamentárias a define. O problema não é não termos metas plurianuais e sim as metas não terem significado algum pela possibilidade de ter descontos. Eu brinco dizendo que isso é como se um sujeito de cem quilos fizesse planos para emagrecer 20 quilos, “mas com possibilidade de emagrecer entre 0 e 20 quilos”. É óbvio que, quando bater a tentação, a meta vai virar pó. É o que acontece com a meta de 3,1 % do PIB no regime atual: ela não vale nada.

LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA

Fabio Giambiagi

Por Wagner Vargas

O país vivencia um momento de incertezas na política econômica e o governo parece desacreditar no erro de suas estratégias. Em ano eleitoral, é quase certo que reformas estruturais necessárias não serão realizadas, entre elas a da Previdência Social, que pode ser comparada a uma verdadeira bomba relógio. O déficit atual está em torno de R$56 bilhões, enquanto o número de brasileiros na terceira idade tende a ser cada vez maior nos próximos anos, com reajuste vinculado ao salário mínimo.

Em entrevista exclusiva para o Instituto Millenium, o economista Fábio Giambiagi falou sobre a condução das medidas econômicas, malabarismos fiscais do governo e sobre como o Brasil pode lidar com medidas impopulares, porém necessárias, que demandam corte de custos e bom funcionamento do sistema democrático.

Um dos maiores especialistas em finanças públicas e previdência social, Giambiagi é mestre em ciências econômicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor e organizador de diversos livros, entre eles “Reforma da Previdência, o encontro marcado” (Elsevier, 2007) e “Propostas para o governo 2015-2018 – Agenda para um país próspero” (Elsevier, 2013). Em abril deste ano, o especialista lança “Complacência – Entenda por que o Brasil cresce menos do que pode” (Elsevier, 2014), escrito em parceria com o economista Alexandre Schwartsman. Giambiagi atua como chefe do Departamento de Mercado do BNDES, é membro do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), especialista do Imil e articulista do jornal “Valor Econômico”.

Imil: O Brasil apresenta crescimento baixo, inflação alta, juros altos, alta carga tributária e baixa produtividade. Qual é o maior desafio a ser enfrentado?
Fabio Giambiagi: O grande desafio é transformar um país que cresceu com a ocupação aumentando 2,5 % ao ano e baixo crescimento da produtividade em um país onde a oferta de trabalho e o emprego vão crescer apenas 1,0 % ao ano e cuja produtividade precisará crescer muito mais. Aumentar a produtividade tem que se tornar uma obsessão nacional assim como foi no passado combater a alta inflação e depois combater os elevados níveis de pobreza.

Imil: A inflação é o pior cenário para a população de baixa renda, no entanto, temos a mesma meta de inflação – 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo – desde 2005. A rigor, alguns analistas dizem que esta opção não tem permitido à economia crescer num ritmo maior. Qual sua visão sobre a questão?
Giambiagi: Essa crítica não faz o menor sentido e encontra-se em divórcio (litigioso!) com os fatos. No governo Lula, a meta de 4,5% era respeitada e o país crescia 4,0 % ao ano, em média. Depois que, no governo atual, o centro da meta passou a ser olimpicamente ignorado, o que deveria ter ocorrido com base nessa tese? O país deveria ter crescido mais. Certo? Não: errado. Passamos a flertar com inflação de 6 % e o crescimento caiu para a metade, apenas 2 % ao ano em média, grosso modo. O país tem que deixar para trás essas teses obtusas, até porque defender o respeito à meta de 4,5 % não pode ser tratado como um ato de ortodoxia, como se tivéssemos um alvo de inflação de menos de 2 % ao ano.

Imil: Uma das soluções apontadas para o combate à inflação é o mandato fixo para presidente do Banco Central e a adoção de metas plurianuais para inflação e superávit primário. Isso traria um maior compromisso das políticas econômicas à inflação, trazendo mais confiança?
Giambiagi: Sou a favor disso, mas cabem algumas qualificações. Quero ressaltar dois pontos. O primeiro é que embora a autonomia formal do Banco Central ajude, ela não é uma panaceia e pode ser tratada a pontapés por um governo intervencionista. Formalmente, o Banco Central argentino é autônomo, mas ele foi transformado em uma mixórdia pelos Kirchner. Já, aqui, não temos autonomia formal, mas no segundo governo FHC e nos anos Lula, o Banco Central foi plenamente independente, na prática. O segundo ponto é que a meta plurianual de superávit primário, na verdade, já existe, pois a Lei de Diretrizes Orçamentárias a define. O problema não é não termos metas plurianuais e sim as metas não terem significado algum pela possibilidade de ter descontos. Eu brinco dizendo que isso é como se um sujeito de cem quilos fizesse planos para emagrecer 20 quilos, “mas com possibilidade de emagrecer entre 0 e 20 quilos”. É óbvio que, quando bater a tentação, a meta vai virar pó. É o que acontece com a meta de 3,1 % do PIB no regime atual: ela não vale nada.

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