José Márcio Camargo fala sobre um possível rebaixamento da economia brasileira
Em 2014, o país deve repetir o desempenho pífio do ano anterior. Essa é a análise de José Márcio Camargo, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recursos. Em entrevista ao Instituto Millenium, Camargo aposta como certa a perda de um grau na classificação de risco do Brasil neste ano. Para ele, surpresa será se for mantida a perspectiva negativa com o rebaixamento. “Uma […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2014 às 11h13.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 08h37.
Em 2014, o país deve repetir o desempenho pífio do ano anterior. Essa é a análise de José Márcio Camargo, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recursos. Em entrevista ao Instituto Millenium, Camargo aposta como certa a perda de um grau na classificação de risco do Brasil neste ano. Para ele, surpresa será se for mantida a perspectiva negativa com o rebaixamento. “Uma coisa é rebaixar e passar para perspectiva estável, outra coisa é uma agência de risco reduzir a nota do Brasil e se manter a perspectiva negativa”, diz ele.
O economista ainda fala sobre o cenário político-econômico que induz o governo a adotar medidas populistas — como controle de preços e outras ações que evitam desemprego à custa do aumento de gastos públicos. Para Camargo, o país pode crescer mais a partir de 2015, caso os investimentos em infraestrutura sejam ampliados desde já. “Se o governo conseguir que os investimentos privados em infraestrutura aumentem de forma significativa, o país terá um crescimento mais forte nos próximos anos”, afirma ele. Leia a entrevista.
Instituto Millenium: O senhor já afirmou que vivemos um momento propício para o populismo econômico. Por quê?
José Márcio Camargo: Existem diversos fatores que podem gerar populismo nos próximos meses, talvez até anos. O primeiro traço importante é que vamos ter eleições em 2014 e, como a taxa de inflação está muito alta e as pressões inflacionárias fortes, o governo pode se sentir tentado a segurar a taxa de inflação via controle de preços. Na
verdade, isso já aconteceu no ano passado, tanto que os preços administrados aumentaram 1,5%, enquanto os livres estão aumentando a taxa de 8% ao ano. É uma forma de controlar a inflação, mas que, em algum momento, vai reverter e ter que soltar os preços administrados lá na frente.
O segundo fator é que uma grande parte da pressão inflacionária se deve à baixa taxa de desemprego. Como nós vamos ter eleição este ano, o governo vai, provavelmente, evitar que o desemprego aumente. Acontece que, como os salários estão crescendo muito acima dos ganhos de produtividade, gera inflação, principalmente, no setor de serviços e, portanto, é difícil reduzir a taxa de inflação. A solução novamente é usar o populismo via controle de preços administrados.
O terceiro item se refere ao cenário fiscal do país, que é bastante complicado, com um superávit primário muito fraco. Neste cenário, a tentação para usar políticas não corretas para resolver os problemas é muito grande. Enfim, um cenário que induz ao populismo.
Imil: Quais medidas do governo o senhor enquadraria no conceito de “populismo econômico” e por quê?
José Márcio: O controle de preços e medidas que evitam aumento de desemprego, o que pode gerar problemas eleitorais ao longo do ano.
Em 2014, o país deve repetir o desempenho pífio do ano anterior. Essa é a análise de José Márcio Camargo, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recursos. Em entrevista ao Instituto Millenium, Camargo aposta como certa a perda de um grau na classificação de risco do Brasil neste ano. Para ele, surpresa será se for mantida a perspectiva negativa com o rebaixamento. “Uma coisa é rebaixar e passar para perspectiva estável, outra coisa é uma agência de risco reduzir a nota do Brasil e se manter a perspectiva negativa”, diz ele.
O economista ainda fala sobre o cenário político-econômico que induz o governo a adotar medidas populistas — como controle de preços e outras ações que evitam desemprego à custa do aumento de gastos públicos. Para Camargo, o país pode crescer mais a partir de 2015, caso os investimentos em infraestrutura sejam ampliados desde já. “Se o governo conseguir que os investimentos privados em infraestrutura aumentem de forma significativa, o país terá um crescimento mais forte nos próximos anos”, afirma ele. Leia a entrevista.
Instituto Millenium: O senhor já afirmou que vivemos um momento propício para o populismo econômico. Por quê?
José Márcio Camargo: Existem diversos fatores que podem gerar populismo nos próximos meses, talvez até anos. O primeiro traço importante é que vamos ter eleições em 2014 e, como a taxa de inflação está muito alta e as pressões inflacionárias fortes, o governo pode se sentir tentado a segurar a taxa de inflação via controle de preços. Na
verdade, isso já aconteceu no ano passado, tanto que os preços administrados aumentaram 1,5%, enquanto os livres estão aumentando a taxa de 8% ao ano. É uma forma de controlar a inflação, mas que, em algum momento, vai reverter e ter que soltar os preços administrados lá na frente.
O segundo fator é que uma grande parte da pressão inflacionária se deve à baixa taxa de desemprego. Como nós vamos ter eleição este ano, o governo vai, provavelmente, evitar que o desemprego aumente. Acontece que, como os salários estão crescendo muito acima dos ganhos de produtividade, gera inflação, principalmente, no setor de serviços e, portanto, é difícil reduzir a taxa de inflação. A solução novamente é usar o populismo via controle de preços administrados.
O terceiro item se refere ao cenário fiscal do país, que é bastante complicado, com um superávit primário muito fraco. Neste cenário, a tentação para usar políticas não corretas para resolver os problemas é muito grande. Enfim, um cenário que induz ao populismo.
Imil: Quais medidas do governo o senhor enquadraria no conceito de “populismo econômico” e por quê?
José Márcio: O controle de preços e medidas que evitam aumento de desemprego, o que pode gerar problemas eleitorais ao longo do ano.