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Gustavo Franco: “Hoje existe uma desconexão entre receita e despesa porque as instituições brasileiras que regulam o orçamento público são fracas.”

Antecipando a palestra que o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco realiza na Casa do Saber Rio, dia 5 de julho, a convite do Instituto Millenium, entrevistamos o economista sobre a hiperinflação e a trajetória da moeda no país. Avaliando a trajetória da moeda no país pelo viés institucional, o empresário considera o evento de hiperinflação brasileira como o mais perverso da economia mundial. Franco desmitifica o aumento do consumo, […] Leia mais

Gustavo Franco, sócio da Rio Bravo Investimentos e ex-presidente do Banco Central (./Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2011 às 21h22.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 10h00.

Antecipando a palestra que o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco realiza na Casa do Saber Rio, dia 5 de julho, a convite do Instituto Millenium, entrevistamos o economista sobre a hiperinflação e a trajetória da moeda no país.

Avaliando a trajetória da moeda no país pelo viés institucional, o empresário considera o evento de hiperinflação brasileira como o mais perverso da economia mundial.

Franco desmitifica o aumento do consumo, tão alardeado como problema para o crescimento da inflação no país, e concentra a preocupação no gasto público e no uso político da moeda: “Aceitamos o governo gastar mais do que arrecada com uma naturalidade imensa, como se isso fosse parte da vida, e não é não. Isso é parte da doença que nos levou à hiperinflação.”, analisa.

O empresário alerta: “Hoje existe uma desconexão entre receita e despesa porque as instituições brasileiras que regulam o orçamento público são fracas”.

Leia a entrevista

Por Maria Fernanda Macedo

Instituto Millenium: O nome da sua palestra na Casa do Saber Rio é “A incrível história da moeda e da hiperinflação do Brasil”. O que é incrível nessa trajetória?

Gustavo Franco: É incrível (a trajetória) porque é muito singular, é uma economia que tem oito padrões monetários em menos de meio século. E eu não sei se existe outra moeda nesse planeta que tenha tido essa trajetória, no meio da qual existe um episódio de hiperinflação e sucessivos congelamentos de preço simultâneos, mais a mudança de padrão monetário, com geralmente cada um deles trazendo um evento de default da dívida interna.

É uma experiência absolutamente singular que eu procuro observar do ângulo institucional, do ângulo das leis com o intuito de observar a fraqueza institucional, na definição do que é dinheiro e do uso que o Estado pode fazer do dinheiro: é o que está na raiz de todo esse episódio. Esse é o tema central da palestra.

Instituto Millenium: A hiperinflação foi um episódio singular no Brasil?

Franco: Foi singular, mas também, e de muitas maneiras parecido – sem deixar nada a dever aos episódios clássicos – com os da Alemanha de 1923 – tão conhecido, temido e festejado. O nosso caso de hiperinflação foi muito parecido, mas durou muito mais tempo, enquanto a hiperinflação da Alemanha ocorreu no final da primeira guerra, entre 1918 a 1923, o nosso durou mais de uma década.

Mas a análise depende, é claro, do que se define como um episódio de inflação alta, quando começa e quando acaba. Muitas definições costumam ser arbitrárias, porém, em análises mais recentes – cujos detalhes vamos discutir na palestra – se condena a duração e a intensidade.

Talvez não exista outro episódio tão severo quanto o nosso, uma vez que tão sério, com um pico muito grande de inflação numa determinada data, em um mês. O fato de a inflação durar às vezes 15 anos deforma a economia do país de uma maneira muito mais perversa e duradoura do que um episódio impactante, mas de curta duração.

Leia a entrevista na íntegra no site do Instituto Millenium

Antecipando a palestra que o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco realiza na Casa do Saber Rio, dia 5 de julho, a convite do Instituto Millenium, entrevistamos o economista sobre a hiperinflação e a trajetória da moeda no país.

Avaliando a trajetória da moeda no país pelo viés institucional, o empresário considera o evento de hiperinflação brasileira como o mais perverso da economia mundial.

Franco desmitifica o aumento do consumo, tão alardeado como problema para o crescimento da inflação no país, e concentra a preocupação no gasto público e no uso político da moeda: “Aceitamos o governo gastar mais do que arrecada com uma naturalidade imensa, como se isso fosse parte da vida, e não é não. Isso é parte da doença que nos levou à hiperinflação.”, analisa.

O empresário alerta: “Hoje existe uma desconexão entre receita e despesa porque as instituições brasileiras que regulam o orçamento público são fracas”.

Leia a entrevista

Por Maria Fernanda Macedo

Instituto Millenium: O nome da sua palestra na Casa do Saber Rio é “A incrível história da moeda e da hiperinflação do Brasil”. O que é incrível nessa trajetória?

Gustavo Franco: É incrível (a trajetória) porque é muito singular, é uma economia que tem oito padrões monetários em menos de meio século. E eu não sei se existe outra moeda nesse planeta que tenha tido essa trajetória, no meio da qual existe um episódio de hiperinflação e sucessivos congelamentos de preço simultâneos, mais a mudança de padrão monetário, com geralmente cada um deles trazendo um evento de default da dívida interna.

É uma experiência absolutamente singular que eu procuro observar do ângulo institucional, do ângulo das leis com o intuito de observar a fraqueza institucional, na definição do que é dinheiro e do uso que o Estado pode fazer do dinheiro: é o que está na raiz de todo esse episódio. Esse é o tema central da palestra.

Instituto Millenium: A hiperinflação foi um episódio singular no Brasil?

Franco: Foi singular, mas também, e de muitas maneiras parecido – sem deixar nada a dever aos episódios clássicos – com os da Alemanha de 1923 – tão conhecido, temido e festejado. O nosso caso de hiperinflação foi muito parecido, mas durou muito mais tempo, enquanto a hiperinflação da Alemanha ocorreu no final da primeira guerra, entre 1918 a 1923, o nosso durou mais de uma década.

Mas a análise depende, é claro, do que se define como um episódio de inflação alta, quando começa e quando acaba. Muitas definições costumam ser arbitrárias, porém, em análises mais recentes – cujos detalhes vamos discutir na palestra – se condena a duração e a intensidade.

Talvez não exista outro episódio tão severo quanto o nosso, uma vez que tão sério, com um pico muito grande de inflação numa determinada data, em um mês. O fato de a inflação durar às vezes 15 anos deforma a economia do país de uma maneira muito mais perversa e duradoura do que um episódio impactante, mas de curta duração.

Leia a entrevista na íntegra no site do Instituto Millenium

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