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Eles não entenderam nada

Por Vitor Wilher Tive acesso ao ataque de pânico feito pela “Carta Capital” ao Instituto Millenium, do qual sou membro desde algum tempo. Eles nos chamam, entre tantos xingamentos, de uma elite que luta contra o comunismo e tem saudades do golpe de 1964. Não tratarei aqui de uma resposta aos ataques, até porque isto não cabe a mim. Pelo contrário, tecerei um breve comentário sobre os princípios defendidos pelo […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 20 de dezembro de 2012 às 13h39.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 09h13.

Vitor Wilher

Por Vitor Wilher

Tive acesso ao ataque de pânico feito pela “Carta Capital” ao Instituto Millenium, do qual sou membro desde algum tempo. Eles nos chamam, entre tantos xingamentos, de uma elite que luta contra o comunismo e tem saudades do golpe de 1964. Não tratarei aqui de uma resposta aos ataques, até porque isto não cabe a mim. Pelo contrário, tecerei um breve comentário sobre os princípios defendidos pelo Imil: democracia, Estado de Direito, liberdade e economia de mercado.

Sim, antes de qualquer coisa, nós somos liberais. Há alguém entre nós, afinal, que seja antiliberal? Não, claro que não. É que liberalismo no Brasil lembra os anos 90, lembra FHC, tem uma conotação pejorativa centrada no desconhecimento do termo neoliberalismo; mas acho que esse viés perdeu a graça quando a administração petista resolveu adotar todo o receituário tucano. Ser liberal, afinal, é antes de qualquer coisa entender que mesmo uma revista como a “Carta Capital” tem direito de existir. A liberdade, porém, é diferente de livre-arbítrio: é ai que entra o Estado de Direito.

Em uma sociedade regida pelo Estado de Direito todos são iguais perante a lei. Exato: lei. Isto significa que a minha liberdade de ouvir um som alto cessa no momento em que impedir a liberdade de outrem dormir, por exemplo. A lei regula os excessos cometidos pelo livre arbítrio. Ou seja, liberdade de imprensa tudo bem, calúnia e difamação não. É o judiciário o espaço onde tais questões controversas podem e devem ser resolvidas.

Nesse contexto, não existe liberdade e Estado de Direito sem democracia e vice-versa. As coisas são interacionadas, mesmo. A democracia, essa possibilidade de eleger representantes ou, no limite, exercer a própria representatividade via assembleias públicas é uma das mais caras conquistas da humanidade. E só por ela existir é que revistas como a “Carta Capital” podem publicar sem os arroubos de algum tirano mal intencionado.

Por último, mas não menos importante: sim, nós defendemos a economia de mercado. O problema econômico das sociedades, lidar com necessidades ilimitadas frente recursos escassos, pode afinal ser resolvido via outras formas (mando ou tradição, por exemplo). Mas só na economia de mercado os indivíduos possuem a liberdade de poder se especializar naquilo que melhor fazem, o que eleva o nível de bem-estar de todos. Além disso, é possível ser democrático e obedecer ao império da lei, algo que não é trivial em outras organizações socioeconômicas, vide a série de exemplos ao longo da História.

Os princípios pelos quais o Instituto Millenium se esforça em defender são, portanto, condições necessárias para que órgãos de imprensa, como a “Carta Capital”, existam. E, ao contrário do que dá a entender a matéria da revista, há muito mais heterogeneidade entre os membros do Instituto do que, propriamente, a existência de um grupo homogêneo em torno de uma causa comum. As únicas coisas que nos une são, certamente, aqueles princípios. Entre muitos outros temas – cotas em universidades estatais, por exemplo – há muito mais divergência do que a citada revista ousaria conhecer. Eu mesmo sou a favor das cotas, por entender que há assimetrias de oportunidades incontornáveis em nossa sociedade. Ao que se vê, portanto, a “Carta Capital” não entendeu – ou não quis entender – o que une as pessoas em torno do Instituto Millenium: a defesa sadia daqueles princípios e de muitos outros temas sobre os quais há intenso debate.

Vitor Wilher

Por Vitor Wilher

Tive acesso ao ataque de pânico feito pela “Carta Capital” ao Instituto Millenium, do qual sou membro desde algum tempo. Eles nos chamam, entre tantos xingamentos, de uma elite que luta contra o comunismo e tem saudades do golpe de 1964. Não tratarei aqui de uma resposta aos ataques, até porque isto não cabe a mim. Pelo contrário, tecerei um breve comentário sobre os princípios defendidos pelo Imil: democracia, Estado de Direito, liberdade e economia de mercado.

Sim, antes de qualquer coisa, nós somos liberais. Há alguém entre nós, afinal, que seja antiliberal? Não, claro que não. É que liberalismo no Brasil lembra os anos 90, lembra FHC, tem uma conotação pejorativa centrada no desconhecimento do termo neoliberalismo; mas acho que esse viés perdeu a graça quando a administração petista resolveu adotar todo o receituário tucano. Ser liberal, afinal, é antes de qualquer coisa entender que mesmo uma revista como a “Carta Capital” tem direito de existir. A liberdade, porém, é diferente de livre-arbítrio: é ai que entra o Estado de Direito.

Em uma sociedade regida pelo Estado de Direito todos são iguais perante a lei. Exato: lei. Isto significa que a minha liberdade de ouvir um som alto cessa no momento em que impedir a liberdade de outrem dormir, por exemplo. A lei regula os excessos cometidos pelo livre arbítrio. Ou seja, liberdade de imprensa tudo bem, calúnia e difamação não. É o judiciário o espaço onde tais questões controversas podem e devem ser resolvidas.

Nesse contexto, não existe liberdade e Estado de Direito sem democracia e vice-versa. As coisas são interacionadas, mesmo. A democracia, essa possibilidade de eleger representantes ou, no limite, exercer a própria representatividade via assembleias públicas é uma das mais caras conquistas da humanidade. E só por ela existir é que revistas como a “Carta Capital” podem publicar sem os arroubos de algum tirano mal intencionado.

Por último, mas não menos importante: sim, nós defendemos a economia de mercado. O problema econômico das sociedades, lidar com necessidades ilimitadas frente recursos escassos, pode afinal ser resolvido via outras formas (mando ou tradição, por exemplo). Mas só na economia de mercado os indivíduos possuem a liberdade de poder se especializar naquilo que melhor fazem, o que eleva o nível de bem-estar de todos. Além disso, é possível ser democrático e obedecer ao império da lei, algo que não é trivial em outras organizações socioeconômicas, vide a série de exemplos ao longo da História.

Os princípios pelos quais o Instituto Millenium se esforça em defender são, portanto, condições necessárias para que órgãos de imprensa, como a “Carta Capital”, existam. E, ao contrário do que dá a entender a matéria da revista, há muito mais heterogeneidade entre os membros do Instituto do que, propriamente, a existência de um grupo homogêneo em torno de uma causa comum. As únicas coisas que nos une são, certamente, aqueles princípios. Entre muitos outros temas – cotas em universidades estatais, por exemplo – há muito mais divergência do que a citada revista ousaria conhecer. Eu mesmo sou a favor das cotas, por entender que há assimetrias de oportunidades incontornáveis em nossa sociedade. Ao que se vê, portanto, a “Carta Capital” não entendeu – ou não quis entender – o que une as pessoas em torno do Instituto Millenium: a defesa sadia daqueles princípios e de muitos outros temas sobre os quais há intenso debate.

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