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Dilma Rousseff antes e depois do debate na Band: todo problema é causado por soluções

Sobre o debate da Band, devo principiar com uma observação objetiva. No que toca à sua irrealidade como candidata, Dilma se saiu muito bem. Apareceu, enfim, como uma pessoa de carne e osso. E fez o possível para ocultar Lula atrás de si, em vez de se esconder atrás dele, como vinha fazendo desde sempre. Feita essa constatação, que candidata é essa que começamos finalmente a conhecer? Esta indagação é […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 03h21.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 11h04.

Sobre o debate da Band, devo principiar com uma observação objetiva. No que toca à sua irrealidade como candidata, Dilma se saiu muito bem. Apareceu, enfim, como uma pessoa de carne e osso. E fez o possível para ocultar Lula atrás de si, em vez de se esconder atrás dele, como vinha fazendo desde sempre.

Feita essa constatação, que candidata é essa que começamos finalmente a conhecer?

Esta indagação é mais subjetiva: pelo menos num primeiro momento, a resposta vai variar de uma pessoa a outra. Vai depender de nossas avaliações.

Em minha avaliação, a emenda saiu bem pior que o soneto. Sem a máscara de gesso que usou durante toda a campanha, a Dilma do debate me parece assaz despreparada para o salto que está tentando dar.

Sobre seu despreparo intelectual, não preciso me estender. E o pior não é o seu permanente litígio com a língua portuguesa. É sua manifesta dificuldade de sustentar um fio de raciocínio sobre qualquer dos assuntos tratados. O contraste com Serra é gritante.

Mais grave, a meu juízo, é o despreparo político e emocional. Mal iniciado o debate, ela decidiu – ou os marqueteiros decidiram e ela acatou, o que dá no mesmo – partir agressivamente para o ataque.

Nisto já se percebe algo estranho, não é? Eu, pelo menos, nunca imaginaria tal comportamento da parte de quem lidera com folga as pesquisas e conta com o apoio de uma amplíssima coalizão de governadores e parlamentares etc, etc – , sem esquecer, é óbvio, o favor do monarca que governa atualmente o país.

Dilma, então, resolveu partir para o ataque. E como foi que o fez? Tirando da algibeira a exdrúxula acusação de que a esposa de Serra tentara demonizá-la como alguém que vai (ou quer, ou pretende, sei lá) “matar criancinhas”.

Pelo que pude perceber, ela não se ruborizou de dizer isso, mas eu me ruborizo ao escrevê-lo. Constrange-me evocar tamanha bobagem. Faço-o por dever de ofício.

Como imaginar algo dessa ordem num debate televisionado para todo o país, e na boca de uma pessoa com fortes chances de se tornar chefe do Estado brasileiro?

Terá Dilma ou terão seus marqueteiros acreditado seriamente que poderiam arrastar um político com a estatura de José Serra para um arranca-rabo desse naipe?

Aliás, esse episodiozinho de ontem nos permite compreender melhor aquele da papelada que alguém andou ajuntando contra Fernando Henrique e Ruth Cardoso. O fato ocorreu na Casa Civil.

Ainda ministra, Dilma jogou a batata quente para Erenice Guerra, que a chutou para um assessor qualquer. Quem mandou fazer o quê, não vem ao caso. Importante registrar é a mentalidade da qual esse tipo de iniciativa emana.

E nada mais se discutiu no debate? Não se falou de temas relevantes como educação, saúde, papel do Estado na economia?

É óbvio que sim. Falou-se de tudo isso. Mas o fato novo, como eu havia previsto, foi a contribuição do debate para o conhecimento das duas pessoas que se apresentam aos brasileiros como alternativas à sucessão de Lula na presidência.

Deste ponto de vista, me permitam repetir, o debate foi muito bom. Eu não penso que a dureza e o antagonismo sejam necessariamente um mal. Ao contrário, podem cumprir uma função muito positiva.

Obriga os indivíduos reais a se despirem de eventuais máscaras. A se apresentarem de maneira veraz. Em sua inteireza.

Nesta ótica, quem estava devendo era Dilma. Ela é que precisava dizer finalmente quem é e a que vem. E foi o que ela fez, ou começou a fazer.

Da máscara de gesso e da sombra de Lula, ela começou a se livrar. O que me pergunto é se a solução que encontrou não será uma fonte de novos problemas na reta final para a eleição.

Publicado no blog de Bolívar Lamounier no site da revista “Exame”

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Sobre o debate da Band, devo principiar com uma observação objetiva. No que toca à sua irrealidade como candidata, Dilma se saiu muito bem. Apareceu, enfim, como uma pessoa de carne e osso. E fez o possível para ocultar Lula atrás de si, em vez de se esconder atrás dele, como vinha fazendo desde sempre.

Feita essa constatação, que candidata é essa que começamos finalmente a conhecer?

Esta indagação é mais subjetiva: pelo menos num primeiro momento, a resposta vai variar de uma pessoa a outra. Vai depender de nossas avaliações.

Em minha avaliação, a emenda saiu bem pior que o soneto. Sem a máscara de gesso que usou durante toda a campanha, a Dilma do debate me parece assaz despreparada para o salto que está tentando dar.

Sobre seu despreparo intelectual, não preciso me estender. E o pior não é o seu permanente litígio com a língua portuguesa. É sua manifesta dificuldade de sustentar um fio de raciocínio sobre qualquer dos assuntos tratados. O contraste com Serra é gritante.

Mais grave, a meu juízo, é o despreparo político e emocional. Mal iniciado o debate, ela decidiu – ou os marqueteiros decidiram e ela acatou, o que dá no mesmo – partir agressivamente para o ataque.

Nisto já se percebe algo estranho, não é? Eu, pelo menos, nunca imaginaria tal comportamento da parte de quem lidera com folga as pesquisas e conta com o apoio de uma amplíssima coalizão de governadores e parlamentares etc, etc – , sem esquecer, é óbvio, o favor do monarca que governa atualmente o país.

Dilma, então, resolveu partir para o ataque. E como foi que o fez? Tirando da algibeira a exdrúxula acusação de que a esposa de Serra tentara demonizá-la como alguém que vai (ou quer, ou pretende, sei lá) “matar criancinhas”.

Pelo que pude perceber, ela não se ruborizou de dizer isso, mas eu me ruborizo ao escrevê-lo. Constrange-me evocar tamanha bobagem. Faço-o por dever de ofício.

Como imaginar algo dessa ordem num debate televisionado para todo o país, e na boca de uma pessoa com fortes chances de se tornar chefe do Estado brasileiro?

Terá Dilma ou terão seus marqueteiros acreditado seriamente que poderiam arrastar um político com a estatura de José Serra para um arranca-rabo desse naipe?

Aliás, esse episodiozinho de ontem nos permite compreender melhor aquele da papelada que alguém andou ajuntando contra Fernando Henrique e Ruth Cardoso. O fato ocorreu na Casa Civil.

Ainda ministra, Dilma jogou a batata quente para Erenice Guerra, que a chutou para um assessor qualquer. Quem mandou fazer o quê, não vem ao caso. Importante registrar é a mentalidade da qual esse tipo de iniciativa emana.

E nada mais se discutiu no debate? Não se falou de temas relevantes como educação, saúde, papel do Estado na economia?

É óbvio que sim. Falou-se de tudo isso. Mas o fato novo, como eu havia previsto, foi a contribuição do debate para o conhecimento das duas pessoas que se apresentam aos brasileiros como alternativas à sucessão de Lula na presidência.

Deste ponto de vista, me permitam repetir, o debate foi muito bom. Eu não penso que a dureza e o antagonismo sejam necessariamente um mal. Ao contrário, podem cumprir uma função muito positiva.

Obriga os indivíduos reais a se despirem de eventuais máscaras. A se apresentarem de maneira veraz. Em sua inteireza.

Nesta ótica, quem estava devendo era Dilma. Ela é que precisava dizer finalmente quem é e a que vem. E foi o que ela fez, ou começou a fazer.

Da máscara de gesso e da sombra de Lula, ela começou a se livrar. O que me pergunto é se a solução que encontrou não será uma fonte de novos problemas na reta final para a eleição.

Publicado no blog de Bolívar Lamounier no site da revista “Exame”

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