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Burocratas, bananas e sociedades abertas

"Temos uma grande oportunidade hoje de minimizar tais privilégios. Do contrário, teremos muito mais instabilidade no futuro"

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institutomillenium

Publicado em 22 de novembro de 2019 às 09h43.

Última atualização em 22 de novembro de 2019 às 13h15.

*Por Odemiro Fonseca

Existia uma piada política na Alemanha Oriental antes do muro cair: “Dá para usar uma banana como bússola? Resposta: Sim, ponha uma banana em cima do Muro de Berlim. O lado mordido apontará para o Leste”.

Entender essa piada para os berlinenses ocidentais se tornou possível no dia em que o Muro caiu. Multidões de alegres alemães orientais comeram todas as bananas de Berlim Ocidental em algumas horas. E os orientais tiveram então sua primeira aula do que é boa demanda numa sociedade aberta, pois cedo na manhã seguinte todos os botequins, mercadinhos e supermercados tinham suas calçadas entulhadas de caixas de bananas.

As sociedades socialistas nunca foram dos proletários e sim dos burocratas. E eles não conseguem nem ver que a população gosta de bananas, pois não acreditam em demanda nem em sistema de preços. Por isso que Mises escreveu em 1922 que tais sociedades seriam de impossível sobrevivência. Mas tentaram até o fim, quando foram derrotados pelas suas vítimas. Quase no fim, faltava pão em Moscou, mas os criadores alimentavam com pão seus porcos a cem km de lá. Os burocratas nunca sabem onde está a demanda. Na mesma época encontrava-se a prefeita de São Paulo tentando dar transporte de graça.

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Essa tentação da burocracia sempre nos cercou. Quantas vezes se ouve que o motor do progresso é o governo? Quantas vezes se ouve que o mercado não resolve tudo, sem atentar para o fato que o mercado nunca nada resolve, pois o mercado não são pessoas e sim um local onde se fazem trocas, quanto mais voluntárias, melhor. Quem resolve é gente livre, numa sociedade aberta. São únicos em atender numa noite, uma gigantesca demanda por bananas.

As grandes fontes de resistência às reformas são as burocracias públicas e semi-públicas, agarradas a seus privilégios. Cada vez mais se lê que a grande instabilidade politica do Século XXI é que as futuras gerações não conseguirão entregar os direitos adquiridos pelas gerações atuais. Mas esse problema da política é antigo, como nos mostra o texto de James Madison (Artigo 62 do Federalist -1788):

“Outra fonte de instabilidade pública é a nada razoável vantagem dada a poucos espertalhões, perspicazes e endinheirados, sobre a massa de diligentes e pouco informados cidadãos. Todas novas regulamentações que afetam valores, apresentam novas oportunidades aos organizados, às custas dos muitos cidadãos desorganizados. É esse estado de coisas que nos permite dizer que leis são feitas para poucos e não para muitos”.

+ Ouça: O que o Brasil pode aprender com as Coreias?

Esta percepção de Madison foi feita duzentos anos antes de George Stigler (empreendores atentos capturam os burocratas) e James Buchaman (a escolha pública nos leva a concentrar benefícios e dispersar custos) nos ensinarem porque minorias organizadas criam privilégios contra maiorias desorganizadas e, além de injustiça, concentram renda. É visível agora a olho nu no Brasil alguns “direitos adquiridos” para minorias à compulsórias custas para vastas maiorias. Temos uma grande oportunidade hoje de minimizar tais privilégios. Do contrário, teremos muito mais instabilidade no futuro.

* Odemiro Fonseca é formado pela Escola de Administração e Economia – AESP da FGV e pós-graduado pela Wharton School (EUA). Trabalhou por 18 anos no mercado financeiro e consultoria. Empresário por 35 anos nas áreas de alimentação e construção civil. É ex-presidente do Instituto Liberal (1993-1997) e ex-membro do Wharton Executive Board (1993-2014). Membro fundador do Instituto Millenium.

*Por Odemiro Fonseca

Existia uma piada política na Alemanha Oriental antes do muro cair: “Dá para usar uma banana como bússola? Resposta: Sim, ponha uma banana em cima do Muro de Berlim. O lado mordido apontará para o Leste”.

Entender essa piada para os berlinenses ocidentais se tornou possível no dia em que o Muro caiu. Multidões de alegres alemães orientais comeram todas as bananas de Berlim Ocidental em algumas horas. E os orientais tiveram então sua primeira aula do que é boa demanda numa sociedade aberta, pois cedo na manhã seguinte todos os botequins, mercadinhos e supermercados tinham suas calçadas entulhadas de caixas de bananas.

As sociedades socialistas nunca foram dos proletários e sim dos burocratas. E eles não conseguem nem ver que a população gosta de bananas, pois não acreditam em demanda nem em sistema de preços. Por isso que Mises escreveu em 1922 que tais sociedades seriam de impossível sobrevivência. Mas tentaram até o fim, quando foram derrotados pelas suas vítimas. Quase no fim, faltava pão em Moscou, mas os criadores alimentavam com pão seus porcos a cem km de lá. Os burocratas nunca sabem onde está a demanda. Na mesma época encontrava-se a prefeita de São Paulo tentando dar transporte de graça.

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Essa tentação da burocracia sempre nos cercou. Quantas vezes se ouve que o motor do progresso é o governo? Quantas vezes se ouve que o mercado não resolve tudo, sem atentar para o fato que o mercado nunca nada resolve, pois o mercado não são pessoas e sim um local onde se fazem trocas, quanto mais voluntárias, melhor. Quem resolve é gente livre, numa sociedade aberta. São únicos em atender numa noite, uma gigantesca demanda por bananas.

As grandes fontes de resistência às reformas são as burocracias públicas e semi-públicas, agarradas a seus privilégios. Cada vez mais se lê que a grande instabilidade politica do Século XXI é que as futuras gerações não conseguirão entregar os direitos adquiridos pelas gerações atuais. Mas esse problema da política é antigo, como nos mostra o texto de James Madison (Artigo 62 do Federalist -1788):

“Outra fonte de instabilidade pública é a nada razoável vantagem dada a poucos espertalhões, perspicazes e endinheirados, sobre a massa de diligentes e pouco informados cidadãos. Todas novas regulamentações que afetam valores, apresentam novas oportunidades aos organizados, às custas dos muitos cidadãos desorganizados. É esse estado de coisas que nos permite dizer que leis são feitas para poucos e não para muitos”.

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Esta percepção de Madison foi feita duzentos anos antes de George Stigler (empreendores atentos capturam os burocratas) e James Buchaman (a escolha pública nos leva a concentrar benefícios e dispersar custos) nos ensinarem porque minorias organizadas criam privilégios contra maiorias desorganizadas e, além de injustiça, concentram renda. É visível agora a olho nu no Brasil alguns “direitos adquiridos” para minorias à compulsórias custas para vastas maiorias. Temos uma grande oportunidade hoje de minimizar tais privilégios. Do contrário, teremos muito mais instabilidade no futuro.

* Odemiro Fonseca é formado pela Escola de Administração e Economia – AESP da FGV e pós-graduado pela Wharton School (EUA). Trabalhou por 18 anos no mercado financeiro e consultoria. Empresário por 35 anos nas áreas de alimentação e construção civil. É ex-presidente do Instituto Liberal (1993-1997) e ex-membro do Wharton Executive Board (1993-2014). Membro fundador do Instituto Millenium.

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